PASSAGEM DE MARECHAL RONDON
A visita do Marechal Cândido Mariano da
Silva Rondon e comitiva na ocasião da
construção da linha Telegráfica e revitalização do Cemitério dos Heróis da
Retirada da Laguna – no ano de
1905, ao lado do Túmulo do Coronel Camisão e Coronel Juvêncio.
(Rondon, de chapéu, à frente, mãos
cruzadas)
Foto Extraída do Relatório dos Trabalhos
realizados de 1900 a 1906 – Major de Eng. Cândido Mariano da Silva Rondon,
Departamento de Imprensa Nacional, 1949-RJ.
Com as tecnologias
modernas de comunicação, telefone fixo, celular, internet, rádio, fax, satélite
e tantos outros as gerações atuais desconhecem ou ouviram falar algumas
histórias sobre o telégrafo. No início
do século XX as principais cidades e regiões do então Estado de Mato Grosso
uno, antes da divisão, foram integradas
pelo sistema de comunicação conhecida
por telegrafo.
www.colegioweb.com.br. Imagem/2015
Assim
entre os anos de 1900 e 1906, a comissão
de linhas telegráficas do Estado de Mato
Grosso, chefiada pelo Major de Engenharia Candido Mariano da Silva
Rondon rasgam os sertões de Norte a Sul e de Leste a Oeste do Estado fazendo
levantamento topográficos, ficando postes, estendendo linhas (fios) e
estabelecendo os pontos intermediários, as estações telegráficas, postos de
recepção e transmissão de mensagens.
Conforme escreve o próprio Rondon:
“Onde quer que chegue o telégrafo, por mais
recôndito que seja o lugar, ali far-se-ão sentir os benéficos influxos da
civilização. Com o estabelecimento da
ordem obtido pela facilidade com que os Governos podem agir no sentido de
melhor superintender e distribuir o bem público e a justiça, vira fatalmente o
desenvolvimento do homem e das
industrias, pois ficará instituído o comércio contínuo entre as sociedades, no
mundo moral e no mundo físico. A
facilidade de comunicações, determinando o estreitamento de relações dos povos
entre si, o nível moral deles cresce
forçosamente sempre que aqueles melhoramentos se realizam em qualquer região[1].”
Quando
concluída a construção das linhas telegráficas entre Cuiabá – Coxim –
Aquidauana – Corumbá, estudou-se então a construção de um ramal que pudesse
atingir a fronteira do Estado com o Paraguai, Porto Murtinho e Bela Vista. Decisão esta que viria beneficiar diretamente
a cidade e Município de Nioaque.
Município de Nioaque, porque as regiões onde estão as cidade e Município
de Guia Lopes da Laguna, Jardim e Bela Vista nesta ocasião faziam parte da área territorial do Município de Nioaque.
Embora
hoje não haja mais vestígios dos postes da antiga linha telegráfica, mas
outrora percorria o centro da cidade de
Guia Lopes da Laguna, a Fazenda Jardim, cortando pelo Cemitério dos Heróis da
Retirada da Laguna, percorrendo pelos locais onde hoje é o centro da cidade de
Jardim e daí ganhando rumo Oeste.
Para
que se possa conhecer como sucedeu-se esta construção da linha telegráfica
entre Aquidauana e Porto Murtinho
descreverei trechos do relatório do Próprio Rondon, passando por Nioaque,
Fazenda Jardim e Cemitério dos Heróis da Retirada da Laguna. O que este Relatório registra como
informações históricas é o encontro de Rondon com os filhos do Guia Lopes, o
Bernardino Francisco Lopes e José Francisco Lopes.
Nas
descrições que foram deixadas por Rondon sobre cada local que passou dá nos
grandes registros de história, geografia, geologia, hidrografia, cartografia
sobre os ambientes.
1. O Porquê da Opção pelo caminho da cidade de Nioaque?
“Quando[2]
cogitava acerca do melhor traçado a adotar para a construção deste ramal, verifiquei
que duas localidades havia em condições de concorrer para a escolha do ponto
intermédio entre Aquidauana e Porto Murtinho.
Assim que a linha podia passar por Miranda ou por Nioaque.
No
intuito de determinar os motivos de
preferência nessa escolha encetei no dia 27 de maio de 1904 um reconhecimento
para Porto Murtinho partindo da Vila de Miranda e daquele porto para Nioaque e Aquidauana, atendendo a que já havia sido feito um levantamento
deste ponto à mesma Vila. Em virtude
deste reconhecimento, verifiquei que de Miranda a Porto Murtinho há 284 km e
739 m e que de Porto Murtinho à Nioaque existem 272 km e 529 m. O critério nessa escolha consistia na
menor distancia e maior facilidade de construção.
Ora,
pelos algarismos citados se vê que incontestavelmente o menor percurso seria
feito de Nioaque para Porto Murtinho, alem disso o terreno nesse trecho
oferecia maior facilidade de construção, porquanto ali se encontram extensos
campos, o que facilitaria a abertura do picadão.
Decidiu-se então
adotar o traçado da construção da linha
Telegráfica ligando de Aquidauana à Nioaque, considerando o reconhecimento total executado de Miranda a
Porto Murtinho e daí a Nioaque e a Aquidauana compreendeu a extensão de 651 km e 169 m inclusive a de 83 km e 901
m compreendendo entre Nioaque e
Aquidauana.
2.
Inicio da construção do ramal da linha telegráfica Aquidauana - Nioaque
A construção do ramal de Aquidauana
a Porto Murtinho teve início no dia 16
de Agosto de 1904 e a tingindo a cidade de Nioaque no dia 11 de Outubro do
mesmo ano. Com 77 km e 306 m de
extensão de linha. O terreno não só de
Aquidauana a Nioaque como daquele ponto a Miranda é de aluvião apresentando
este último trecho acidentado mais pronunciado. A vegetação é de cerradão semeado de capões
e vazantes sendo algumas destas
almargens. .
A partir de Aquidauana a linha foi duplicada até o poste nº 13 em que foi feito o entroncamento
das linhas de Miranda e Nioaque. Com
rumo de 5º ao SO a linha cortou a estrada duas vezes e um córrego, antes de
passar pela fazenda Laranjal, de propriedade do Capitão Delfino, distante da
margem esquerda do Aquidauana, na Vila 11.995, 60m. Pequeno criador cerca de 500 rezes.
No
mesmo rumo e a 1 km e 047 m para frente,
a linha cortou o rio Taquarussu, transpondo-o novamente a 2.526,06 m deste
ponto a 20.937,40 m para diante atravessou a Lagoa Caveira de Anta, situada em
pleno cerradão e contornada por vegetação mais espessa sob o aspecto de capão. Da referida Lagoa prossegue o picadão e a
10.810 m desse mesmo ponto corta uma estrada e atravessa o córrego do Guaxupé
continuando sempre por cerradão.
A
linha segue essa estrada paralelamente até transpô-la, além do córrego das
Areais, que dista do Guaxupé 5.608 m.
O córrego Rapadura foi transposto a 4.630 m além do das Areias; e o do Lajeado
a 5 km 933m daquele, onde se encontra um morador, que ficou a esquerda .
O
córrego da Formiga foi atravessado a 3.091 m na frente e 3.962 m além da
Formiga terminou a tangente de 69 km e 145 m, a partir do Entroncamento com a linha de Miranda.
3. A chegada da Linha Telegráfica em Nioaque
Com rumo de 34º a Sudeste e a 2.592 metros a
picada cortou o Ribeirão Urumbeva, deflexionando ao para a Direita com rumo de
34º e 30’ a Sudoeste, com a qual seguiu até ganhar a esquina da Praça em
Nioaque a 842 metros da curva do Urumbeva.
Nova
deflexão para a direita foi dada e no rumo de 80º e 40’ a Sudoeste entrou a
linha na Praça da Vila até a Estação, medindo da curva da esquina até aí 342
metros.
Todo esse feito ocorreu no dia 11
de outubro de 1904.
No dia 12 de outubro de 1905 foi
oficialmente inaugurada a Estação Telegráfica de Nioaque o que foi comemorada
com muita alegria.
Imagem Estação Telegráfica de Nioaque inaugurada em 12 de
outubro de 1905. Imagem créditos do autor) Relatórios de Rondon
4. Construção da linha telegráfica entre Nioaque e a
Fazenda Jardim
A Construção continuou de Nioaque a
Fazenda Jardim e daí em direção a Margarida, percurso percorrido entre 13 de
outubro de 1904 a 13 de março de 1905.
Neste trecho foi traçada a terceira grande tangente de 63 km e 834 m da
Fazenda Jardim aos morrinhos na proximidade de Margarida.
A
linha atravessou o rio Nioaque que tem 19 metros de largura nesse ponto a 3.925
metros da Estação e o Rio Canindé a 13.765metros daquele mesmo ponto. O terreno compreendido por este trecho é
plano e constituído de várzeas, de sedimentos quaternários, predominando a
argila arenosa na camada mais superficial.
A superfície dos rios é constituída de seixos rolados principalmente de sílex
e ágata. Sob a camada de argila
ferruginosa, deve existir outra calcária, extremada de argila xistosa e
arenito. As águas do Nioaque e Canindé são sensivelmente salinas.
A confluência dos dois rios fica abaixo do passo do Nioaque e acima da
Vila do mesmo nome.
Entre
o rio Canindé e o rio Miranda, na Fazenda do Jardim a linha cortou um cerradão,
que em muitos pontos se apresenta sob a forma de capão e transpôs apenas um
córrego e uma cabeceira. Com muita
propriedade o celebrado guia José Francisco Lopes deu a sua Fazenda o nome de
Jardim.
De
um e outro lado do rio Miranda, nessa paragem o terreno oferece um encanto extraordinário. São lombas, cômoros espalhados que existem
sobre um campo aberto. De permeio
estendem-se também ali conhecidos pelo nome de ilhas.
Esparsas
pelos campos em todas as direções as rezes ostentavam as mais variegadas cores, pastando aqui e acolá. Habita ainda essa mesma fazenda, que antes
da Guerra já era de propriedade do seu marido,
o citado Guia Lopes a legendária D. Senhorinha Maria Conceição Barbosa
de Lopes, que fora duas vezes prisioneira dos Paraguaios, antes e durante a
invasão do solo mato-grossense.
O
laranjal que salvou o resto da Expedição na Retirada da Laguna, já não existe,
há poucos anos extinguiram-se os últimos arvoredos de que ainda encontramos
esqueletos secos, avivando em nós recordações saudosas dos que ali sucumbiram vítimas do inimigo,
os paraguaios e da peste, o cólera.
Situados
em derredor da habitação da legendária
matrona D. Senhorinha, estavam então dois dos seus filhos o João Francisco
Lopes e Bernardino Francisco Lopes. O
primeiro, João, fora assassinado tempos depois por um seu vizinho, em 21 de
maio de 1905 Os dois outros filhos dessa
enérgica matrona de nomes José
ESQUEMA DAS LINHAS
TELEGRÁFICAS DO ESTADO DE MATO GROSSO EM 1911. Relatórios de Rondon
Francisco Lopes e Pedro José
Lopes habitam terrenos mais afastados, onde se estabeleceram com a sua prole.
A
participação dos filhos do Guia Lopes na construção das linhas telegráficas foi
muito significativa considerando serem eles os maiores conhecedores e
desbravadores das terras nesta região sudoeste. Escreveu Rondon que José
Francisco Lopes, o penúltimo dos filhos do Guia foi vaqueano da 1ª Seção na
exploração parcial efetuada pelo Capitão Ávila, do Passo do Jardim ao da
Ariranha e para os campos de Santa Eufrásia.
O Pedro José Lopes serviu de prático no trecho da fazenda do Campeiro a
Campo Grande, por ocasião do reconhecimento que efetuou de Bela Vista para
Ponta Porá, Vacaria e Campo Grande.
5. Da Fazenda Jardim à Margarida
Depois da estada na Fazenda
Jardim, no atual município de Guia Lopes, atravessou o passo do rio Miranda nas
mediações ao Cemitério dos Heróis da Retirada da Laguna, hoje município de
Jardim rumo a Porto Murtinho. A
construção da linha do Jardim para Margarida correu a princípio por um
cerradão, cruzando depois campo aberto até os morrinhos da Margarida. Atravessou oito correntes até Rio Verde que
dista do Miranda 28 km e 912 m; daí para frente transpôs o ribeirão da Caiera a
20.653m. Esse ribeirão é a cabeceira
principal do rio Piripucu ou rio da Pedra de Cal, que deságua no Rio Apa,
defrontando o morro de Margarida. Antes
da Caieira passa-se pelos córregos do
Carro Quebrado e Jaboti, vendo-se a esquerda um morrinho também assim
denominado. Antes e depois do Córrego da
Caieira a tangente referida atravessou dois brejos de forma circular, onde os
postes foram fincados com escoaras.
Todo
o Terreno desde a Fazenda Jardim até
Margarida forma extenso lençol calcário, limitado ao Norte pelo contraforte da Pederneira e ao Sul pelo
rio Apa. Nessa Zona são encontradas à
superfície dos campos, pedreiras consideráveis
como as que existem entre o ribeirão da Caieira e os morrinhos de
Margarida. Aí lutamos com séries
dificuldades para conseguir o fincamento dos postes, mesmo quando era aplicada
a dinamite.
<><><><><><><>
“A
Estação Telegráfica de Nioaque, estava integrada a 2ª.”. Linha que
interligava Aquidauna à São Carlos, com 285,460 metros de desenvolvimento,
compreendia as estações de Nioac, Margarida e São Carlos.
TELÉGRAFO
“Estação
telegráfica criada no dia 12 de outubro de 1904. A Estação Telegráfica de Nioac
estava integrada a 2º linha que interligava
Aquidauana a San Carlos. Pertencia ao segundo distrito, criado em 1911 e com
sede em Aquidauana”.
Muito esclarecedora sua postagem, além de fixar para as novas gerações o que foi o patriótico serviço que Rondon e sua equipe prestaram com bravura à nação, num tempo em que inexistiam comunicações.
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