O Município e cidade de Nioaque está localizada na escarpa Ocidental da Serra de Maracaju, em uma forma de depressão entre a Serra de Maracaju e o Rio Miranda, à Sudoeste do Estado de Mato Grosso do Sul e Região Sul no contexto da Antiga Província de Mato Grosso.
Forquilha. FIGURA 2 - Abaixo municípios
limítrofes com Nioaque.
A
cidade de Nioaque é quase uma ilha fluvial, pois os rios Urumbeva e Nioaque o
cercam, é só observar bem nos mapas.
<><><><><><><>
A LOCALIZAÇÃO DA IGREJA DE SANTA RITA DE
CASSIA, EM NIOAQUE
Há
muitas controvérsias e poucas informações objetivas com relação ao local onde
foi construída a primeira Igreja. A sua situação durante a Guerra do Paraguai.
E a dita explosão.
Tomarei quatro pressupostos para
argumentação:
1º
O Local de Fundação do Povoado de Nioaque conforme pesquisas realizadas ao
longo dos últimos 25 anos.
2º
Documentação militar de Visconde de
Taunay e Major Comandante Tomaz Gonçalves.
3º
Um documento atribuído ao coronel Paraguaio Resquin por ocasião da
primeira ocupação da Vila de Nioaque ou
como muitos chamam de povoado, povoação.
4º
Algumas visitações a pé in
loco feita por mim entre toda a mediação dos rios Nioaque e Urumbeva.
a) Posição
do acampamento Coluna em Operação no Sul da Província de Mato Grosso no ano de
1867.
Último
quartel que havia sido construído em
Nioaque, antes da vinda do atual 9º Grupo de Artilharia de Campanha, encontrava-se nas instalações da atual Escola Estadual Odete Ignez
Resstel Vilas Boas.
Vale
lembrar aos leitores que ao reportarmos ao tempo da vila de Nioac, igreja,
quartel, acampamento, casa de residências, nada tem a ver com a formação urbana
atual.
Primeiro
critério: a cidade começou a ser formada a partir da forquilha onde encontramos
as junções das águas dos rios Urumbeva e o Nioaque.
Taunay
nos dá uma afirmação muito objetiva dando-nos a distância do fundo da igreja
até o encontro dos rios de 900 metros.
Dá para perceber que nada tem de posição geográfica com a atual.
A
posição do povoado e dos quartéis encontravam-se muito próximos da confluência dos rios e sua forma urbana
era diferente da atual. Tinha um formato semicírculo. Isto porque os rios ao
caminharem para as suas junções formam
um semicírculo. Observar Mapa.
A
estrada que saía de Nioaque para o Aquidauana ou Miranda passava entre meio da
atual APAMIN, córrego Formiga, Conceição, Taquarussú e Porto Canuto. Outra
margeando o Nioaque até chegar a Vila de Miranda.
Um
item importante foi a escolha do local que oferecesse água potável e para isso
os dois rios contribuíram para que se ocupassem locais próximos as águas para a
instalação dos acampamentos que se encontravam mais a retaguarda.
Figura
3 - Esta fotografia é de 1878. Quartel, Comandância e a Igreja, reconstruídos
após a Guerra 1870. Temos à esquerda o Quartel e a comandância do Corpo de
Cavalaria e a última casa à direita a tosca igreja sobrevivente das duas
ocupações paraguaias, mais a ocupação brasileira. À Frente vamos ver um espaço livre que era a
praça e oferecia espaço para algum evento, (imediações onde está o Ginásio
Poliesportivo).
O que cruzava em frente era a Rua
Leveger, (presidente da Província de Mato Grosso), sentido Leste/Oeste. Estas
benfeitorias ainda se encontravam para traz da atua Escola Odete Ignez Restel
Villas Boas, porque a partir de 1889 começou a ser erguido à frente as
instalações de um novo Quartel, que abrigou o 7º Regimento de Cavalaria Ligeira
até o ano de 1906.
Outro fato importante, que desde 1872 tinha um padre capelão, militar que fazia as celebrações
religiosas, como atestam os livros da Paróquia. Em 24 de maio 1877 o povoado é
declarado de Freguesia, Paróquia, termo Eclesiástico que nos dias atuais dera a
denominação de Distrito. Nesta época a religião oficial do Império do Brasil
era a Católica, isso equivaleria também a criação de uma Paróquia, a de Santa
Rita de Cássia como Padroeira da cidade de Nioaque (Santa Rita do Leverger) O
nome da praça do Quartel se chamava Largo do Quartel.
Com
a construção do Novo quartel, com a criação da paroquia em 1877 e município em
1890, houve todo um crescimento urbano, e delineamento oficial das principais ruas e quadras. Deste
modo, no ano de 1890, as instalações da nova Igreja passou ao local onde se
encontra até hoje. O Local permanece o
mesmo, junto ao salão de festas; o que houve no decorrer dos anos foram
alterações no projeto arquitetônico, conforme se pode verificar em algumas
fotos que conseguimos recuperar.
As
impressões deixadas por Taunay sobre a posição e a visão a longa distância dos
terrenos, pouco acidentados ao ver no horizonte de cima da torre da igreja, além
da vegetação, descreve o sol poente entre as nuvens:
“Levava
Catão ótimo camarada, chamado Carneiro Leão e filho de Minas, tal qual o famoso
Marquês do Paraná, por cima bom cozinheiro, sempre risonho e procurando nos dar
apetitosos guisados. Certo dia encontrou
uns pés de pimenta e uma plantação abandonada de quingombôs[1] e nos regalou um verdadeiro banquete, em que
de certo, se houvesse lacunas, não faltou apetite.
“Acompanhado
de pequena turma de soldados e de dez a quinze índios terenas, rapidamente
chegamos à Nioaque, onde tratamos logo de dar cumprimento às ordens que
trazíamos e queríamos desempenhar à risca e com toda celebridade”.
“À
noite nos fechamos numa das casas do povoado, dormimos sono de bem-aventurados”.
“Uma
semana depois da nossa chegada a
Nioaque, apareceu-nos a Coluna que tomou posição de ângulo formado pelo
encontro do ribeirão Urumbeva com o
rio Nioaque, ambos de puríssimas
águas, correntes e ficando o acampamento com a frente voltada para o Sul,
isto é, para o lado da fronteira do Paraguai. Muito interessante e pitoresca é
a localidade[2].
Que bela perspectiva se desfruta do alto da torrezinha da mais que modesta
matriz. São campos e campos pouco dobrados, salpicados aqui, ali, de restingas
e capões de mato e que ganham com o cair da tarde, muito realce pelos tons
roxos, róseos e amarelados que lhes
infundem os reflexos da luz crepuscular”. (Livro Retirada da Laguna e
Memórias).
As
instalações do QG Quartel General, atrás da Vila, isto é mais próximo das águas
do Urumbeva e Nioaque, se tomarmos o lado direito do prédio da atual E.E. Odete Ignez Resstel Villas Boas indo
direção Apamin.
“...
ali chegamos, acampamos em ordem de batalha,
com a direita encostada à margem direita do Rio Nioac e à esquerda da
margem do Urumbeva. Instalaram-se o
Quartel-General e o trem a retaguarda,
no local da Vila, ocupando o local da Vila, agora em ruínas, fazendo de
hospital, as pequenas casas salvas do fogo e um grande galpão que às pressas se
construiu”.(Livro Retirada da Laguna)
b) Localização
da Igreja e povoado
Quando a equipe de engenheiros chegara em Nioaque,
os primeiros, após a ocupação dos Paraguaios encontraram apenas destruição,
pouco pode-se aproveitar. Descreve detalhes, a igreja encontrava se a 900 metros
do local do encontro das águas. Também
em todos os tempos quando se construíam uma igreja deixavam se espaços ao seu
redor, para o trânsito da comunidade, e não menos, à frente da igreja sempre
tinha uma praça. Visconde Taunay relata
que foram poupadas do fogo, a igreja e duas casas, o restante fora incendiado. Outro detalhe importantíssimo, pequena
Colina que fica lhe à frente.
Oras, para a
topografia daquela época, onde desmatamento e erosão eram ainda casos raros, temos à frente da Igreja, a
Colina. Analise o caso do detalhe
afirmado em linha horizontal Norte Sul,
a posição da Colina deveria ficar a mil metros ou mais.
Esta colina pode ser confirmada através da Avenida
General Klinger e as duas paralelas do
sentido Norte Sul, iremos encontrar em
altitude superior as Vilas Militares e a sede do 9º GAC.
Condições em que ficou a Bela Nioac, nas
narrativas de Alfredo Escragnolle Taunay[3]:
fora a Vila de Nioac abandonada pelo inimigo a 2 de Agosto de 1866.
“Por
todas as partes ali se viam vestígios de incêndio. Poupada apenas duas casas e uma pequena igreja de pitoresca
aparência. À primeira vista nos agrada o
local, de um lado o povoado e um ribeirão chamado Urumbeva e do outro o rio Nioaque,
cujas águas confluem a 900 metros para trás da igreja,
deixando livre em torno desta à direita e à esquerda um espaço duas vezes maior. Pequena
Colina fica-lhe em frente a pouca distância”.
Assim,
a primeira igreja foi construída antes de 1864. Conservou-se durante o período
da Guerra, 1865-1870, mesmo com a chamada explosão de pólvora dentro da nave em
junho 1867, recuperada a partir de 1872, quando recomeçou a reconstrução do
povoado, retorno da população sobrevivente, outros migraram e a reconstrução do
novo Quartel, que sediou o 1º Corpo de
Cavalaria de Caçadores.
Se
observarmos a figura 3, leva nos a crer que a primeira igreja não fora muito
diferente da segunda. Para que a estrutura de uma igreja suportasse uma
explosão interna e sua estrutura física não se desmorona, entende-se que o
material empregado na construção da igreja tinha toda uma base estrutural sob
pedras e o restante de tijolo de adobe. Mesmo sofrendo duas ocupações do
invasor, os paraguaios que atearam fogo em tudo, exceto na igreja de Santa Rita
de Cássia.
“Serviu
a nave da Igreja, onde se retiraram tudo quanto havia de símbolo do culto, de
depósito ao cartuchame e todas as munições e os instrumentos da Banda Musical que nos acompanhávamos”.
(Taunay, Retirada da Laguna)
Figura 4- Esta
fotografia , representando a terceira igreja construída após o termino
da Guerra do Paraguai, por volta de 1885.
Aqui está localiza nas proximidades da atual igreja, porém um pouco mais
a esquerda, direção Oeste e a frente dela havia um espaço que constituía a
praça. Praça que constitui até os dias
atuais.
Imagem
faz parte dos Arquivos do Autor. Pertencera a família do Senhor Dario Pires
No documento seguinte, pesquisado
por Hélio Serejo[4], o
Coronel Resquín relata ao Comandante Supremo, Marechal Francisco Solano Lopez
da República do Paraguai, a ocupação do povoado de Nioaque em janeiro de 1865, e que estrategicamente
servirá de sede das operações de guerra paraguaias no sul da Província de Mato
Grosso.
Se fizermos uma análise bem
confrontada entre as informações de Taunay e de Resquin, percebe-se que não há muitas contradições:
- · O Povoado consta de 130 casas, sendo 30 principais.
- · Tendo um oratório e um espaçoso quartel que cai a Oeste da Praça principal sobre a Rua Leverger.
- · Entende-se que a posição da Igreja está entre um lado, Oeste o Quartel, no meio a Igreja, e à direita margem da esquerda do Urumbeva ficava o povoado.
Segundo
Coronel Resquim, “ao amanhecer do dia seguinte, levantei o acampamento e
depois de três léguas de marcha, passei o arroio Ponte e com duas léguas mais o
Nioaque, a uma hora do dia. Concluída a
passagem, fiz adiantar-se o Capitão Rojas com dois esquadrões para apossar-se
da Povoação de Nioaque, onde não se encontrou mais que dois indivíduos, um
espanhol e outro português europeu. Eu
acampei-me à frente da Povoação e ordenei o reconhecimento das casas, do
armamento e demais cousas, porém, na comandância não se encontraram mais que
seis carabinas de caça e seis espadas de tropas. Depois se encontraram os armamentos: caixões
de balas, pólvora e demais papéis enterrados
no fundo do curral da comandância e também algum armamento e munição se
encontraram nas casas que, com efeito, mandei visitar, como Vossa Excelência
verá pela minuta junta. O arquivo
parece completamente destroçado e os papéis tomados são os que se encontram
enterrados com os 26 caixões de pólvora encartuchados e 11 de pólvora
solta. No mais não se acharam senão
comestíveis e trastes que não puderam levar na fuga.
O Povoado consta de 130 casas, sendo 30 principais,
tendo um oratório e um espaçoso
quartel que cai a Oeste da Praça principal sobre a Rua Leverger. A comandância cai a Leste da mesma praça
sobre a Rua Santa Rita, podendo aquartelar 500 homens. Nomeei para comandante deste ponto, o
Tenente Cidadão Pascal Rivas, ficando às suas ordens o Alferes Cidadão Aleixo
Gomes e Waldo Gimenes. No dia 5
proponho-me seguir minha marcha sobre a Vila de Miranda a curtas Jornadas, para
não fatigar a cavalhada com o excessivo calor. No decorrer da perseguição
tomaram-se vários papéis e entre eles aparecem as comunicações juntas.
Deus Guarde Vossa Excelência muitos anos”.
<><><><><><><>
Figura
5- Esta
imagem representa para o leitor a localização dos rios Urumbeva e Nioaque,
as respectivas margens e o local onde iniciou o povoamento de Nioaque, na
confluência dos dois rios, o primeiro nome dado
ao povoado foi o de São João de
Antonina, Homenagem ao Barão de Antonina, Senador do Império, depois Santa Rita
de Leverger[5].
Homenagem ao Presidente da Província de Mato Grosso. O Nome Nioaque, Anhoac,
Anioac, veio associado pelas águas do Nioaque, ao rio e que acabou sendo
incorporado ao nome do povoado e dos quartéis. Origem indígena, entre outras
denominações significa Clavícula Quebrada.
Figura
6 –
A imagem Seguinte da década de 1960, já com aspecto de deterioração foi uma
revitalização da antiga efetuada nos anos de 1930, com mudança arquitetônica,
torre do sino, telhado. Sendo revitalizada posteriormente e por fim demolida no
inicio dos anos de 1980 para a construção de uma nova no mesmo local, porém
maior, mais alta, com estrutura de concreto pré-moldado.
Figura 7 -
Igreja de Santa Rita parte interna no início dos anos de 1980. Foto Dario Pires
Peixoto. (face book) É possível verificar a região do altar, decoração, vitrais,
bancos.
Figura
8 – Posição da igreja, povoado descrito por Taunay
Figura
9 – Posição da igreja, povoado descrito por Coronel Resquin
c) Explosão
do barril de pólvora dentro da igreja
É
muito importante que se contextualize no tempo histórico. Embora nos últimos anos os cerimoniais cívicos
fazem alusão a explosão da igreja, como último atentado das tropas paraguaias,
mas as literaturas da época comentam que houve uma explosão do barril de
pólvora dentro da igreja, mas o prédio ficou intacto. Não caiu. Os que morreram
foram em consequência das queimaduras da
explosão, já que havia rastilho de pólvora espalhado por todos os espaços da
Igreja. A explosão da pólvora dentro de um ambiente fechado, gera uma pressão
explosiva que jogam o que estiver próximo para longe pelos ares além de provocar a queimadura da
pele e roupas com uma rapidez incrível.
Entender
a explosão das pólvoras espalhada dentro na igreja foi a causa que vitimou
vários combatentes, mas não fora a explosão de prédio físico. E que pode se
dizer que foi uma fatalidade o que ocorreu, porque todas as medidas de
seguranças estavam sendo tomadas, para evitar acidentes.
Imagem
representando o Evento da 1ª Marcha Cívica da Retirada da Laguna nos tempos
Modernos, realizada em Julho de 1999. Esta imagem representa a Primeira
simulação da Explosão da Igreja, coordenada pelo 9º GAC. Arquivo do autor.
Assistir o vídeo no YouTube, digite o meu nome completo ou pelo link https://www.youtube.com/watch?v=reUH2zCpD-s
Quanto
a situação de ficar um isqueiro e rastilhos de pólvora pelo chão, pode sim ter
sido um atentado, um plano dos Paraguaios.
Mas podemos pensar o contrário, não poderia ter sido consequência das próprias tropas brasileiras
quem ali depositaram cartuchames e pólvora pelos espaços. E depois numa fuga rápida não puderam levar
tudo, ficando para trás esses elementos explosivos que incendiaram. Lembrando a
história, na ocasião que as Tropas Brasileiras em Operação no Sul da Província
de Mato Grosso em 1867, quando, uma parte das tropas seguem até Laguna no
Paraguai, Nioaque, fora definida como a base de comando e apoio das operações
militares, permanecendo uma guarnição militar e muitos civis. Diante da notícia
da aproximação de um grupamento de Cavalaria Paraguaios, os brasileiros
abandonaram as pressas Nioaque, deixando para traz praticamente quase
tudo. Quando as tropas Paraguaias chegaram,
vendo a indefesa, atearam fogo e cometeram outros crimes. Esta foi a segunda
ocupação da Vila de Nioaque[6].
Segundo
Taunay:
“Sem
preocupações quanto ao inimigo, fomos a toda a pressa ver o que haveria ainda a
salvar. Esta bonita povoação, abandonada, ocupada e pela segunda vez, desde o
início da guerra, devastada, convertera-se num montão de destroços fumegantes.
O grande galpão que, outrora, nos servira de armazém de mantimentos e ainda
achamos de pé, sobre os esteios incendiados, mostrava renques de sacos que
nossa gente, sem dúvida, não tivera tempo de carregar e já serviam de pasto ao
incêndio. O arroz e a farinha carbonizados, exteriormente; o sal, gênero este
tão escasso e precioso no interior do país, negrejara e fundia sob as nossas
vistas. Não pouparam esforços os nossos soldados em salvar o que puderam.
Foi
quase toda a coluna acampar por esta noite atrás da igreja, sobre o grande
terrapleno que descrevemos e onde, escalonados com os canhões nos ângulos, para
maior segurança contra o inimigo, nos apoiávamos à mata do rio. Ali gozamos,
enfim, um pouco de verdadeiro descanso”. (Taynay, Retirada da Laguna).
“Dupla
e tripla ração se distribuiu; permitiam-no as circunstancias; sentia-se o
comandante feliz por contentar os soldados, quanto possível. Pela primeira vez,
e desde muito, podíamos contar com o dia de amanhã. Restavam-nos, apenas, para
nos pôr fora de qualquer perigo eventual, fazer quinze léguas, a caminhar por
excelente estrada, de Nioac ao Aquidauana onde éramos esperados. E para tal
marcha tínhamos víveres sobejos.
Durante
a última estada em Nioaque depositáramos na igreja muitos e diversos objetos, o
instrumental das bandas de música, munições de guerra etc. Consta que os
paraguaios encontraram ainda muita coisa deste apetrechamento, não lhes havendo
chegado o tempo para tudo carregar. Existia ali grande reserva de cartuchos e
foi, talvez, o que lhes sugeriu a primeira idéia da horrível maquinação que
tanto lhes condizia à feição cruel.
Depois
de carregarem o que mais poderiam aproveitar, deixaram o resto por destruir,
para nos engodar e nos reter o maior lapso de tempo possível em torno de um
amontoado de objetos, sob o qual colocaram um barril de pólvora com rastilhos.
Não podíamos ter a menor suspeita de semelhante cilada; e, à vista dos
cartuchos que devíamos transportar, tomamos as precauções costumeiras contra as
eventualidades de uma explosão. Enquanto na igreja trabalhava o nosso pessoal,
sentinelas vigiavam, a fim de que nenhum fogo se acendesse pela vizinhança.
Ocorreu, contudo, que um infeliz soldado encontrasse pelo chão um isqueiro, dentro
do edifício, e lhe viesse a estapafúrdia ideia de o utilizar. Saltou logo uma
faísca sobre alguns grãos de pólvora dos que coalhavam a nave. Sem a umidade do
solo, então muito grande ou acaso fossem os rastilhos contínuos, instantânea
ocorreria a explosão. Para melhor nos enganarem haviam os paraguaios espalhado
a pólvora sóbria e desigualmente com o minucioso cuidado, e os cálculos ardilosos
do selvagem que preparara os seus malefícios Só se viu, a princípio brilharem
pequenas chamas e aqui e acolá se levantarem sucessivamente ligeiras espirais
de fumaça. Já os soldados se precipitavam para conter o fogo, no momento em que
ele tomava corpo, quando os oficiais presentes, compreendendo melhor o perigo,
ordenaram que imediatamente fosse a igreja evacuada. A esta voz correram todos,
em massa, para as portas; como o atropelo perturbasse a saída, deu-se a
explosão antes que toda a gente se achasse do lado de fora. Pouco faltou para
que todo o edifício voasse aos ares; foram as paredes sacudidas, mas o conjunto
resistiu; assim não sucedera e teriam todos os nossos, que ali se achavam,
infalivelmente perecido esmagados sob os escombros.
“Ainda
em Nioaque, esperava-nos nova calamidade.
No chão do deposito havia ficado espalhada muita pólvora que não poderia
ser transportada. Apesar das mais enérgicas
e reiteradas recomendações, a imprudência de um soldado provocou uma formidável
explosão que queimou 13 praças, das quais 6 faleceram poucos dias depois apesar dos cuidados que fiz observar
na condução deles. Com a retirada do
Capitão Martinho José Ribeiro era impossível a estadia em Nioaque, reduzida à cinzas.” Maj. Tomaz Gonçalves, Relatório
encaminhado ao presidente da Província de Mato Grosso e a Dom Pedro II.
Figura
10 – O mapa representa
a distância de 900 metros entre a foz do Urumbeva e a parte de trás da igreja,
lado direito, as casas que sobreviveram ao fogo e ocupadas para fins de
atendimento médico. O acampamento das tropas brasileiras quando chegaram e
acamparam estacionários atrás do povoado mais próximo do rio. À frente temos a
pequena Colina para a época e que nos tempos moderno localizamos a região do 9º
GAC e Vilas Militares; as águas do Nioaque correm inicialmente para o Norte,
mas após certa altura direcionam-se para o Oeste onde faz foz com o Miranda. Segundo as descrições
dadas por Taunay.
Figura 11
- Imagem da atual Igreja Católica frente à praça central cuja Padroeira
é Santa Rita de Cássia. Este mesmo prédio que iniciou a sua construção
em 1983, tem sofrida arquitetonicamente varias modificações no decorrer dos
últimos anos. Adequações para atende as
necessidades dos tempos modernos.
Imagem
Arquivo do Autor
Imagem - Santuário Santa Rita De Cássia (imagem do facebook)
Imagem
da visão atual da Igreja de Santa Rita de Cássia de Nioaque – MS.
(crédito
Nioaque Mapio.net)20015
<><><><><><><>
1
- A Retirada da Laguna Alfredo D`Escragnolle Taunay
TAUNAY
Visconde, Ed. Tecnoprint LTDA.
2-
TAUNAY Visconde, Memórias – Edição preparada por Sérgio Medeiros, Edição
iluminus, 2004
3-
TAUNAY, Alfredo D'Escragnolle Taunay, Visconde de. A retirada da Laguna -
episódio da
Guerra
do Paraguai. São Paulo: Ediouro. (Prestígio).
4-
Dalmolin, José Vicente. Nioaque no
contexto do século XIX do Estado de Mato
Grosso do Sul, Vol, I..2015
[1]
Fruto de uma das espécies de quiabo.
[2]
Visconde de Taunay, Memórias, Ed, Iluminuras, 2005, p.301.
[3]
O Livro Retirada da Laguna, Biblioteca do Exército, 1954.
[4]
Livro, Nioaque, um pouco da sua Historia 1980.
[5]
O almirante Augusto João Manuel Leverger, primeiro e único barão de Melgaço.
[6]
Mais detalhes, no Livro Nioaque no Século XIX, Guerra do Paraguai. Vol 1. Livro
do Autor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário