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quinta-feira, 14 de abril de 2016

A IGREJA DE SANTA RITA DE CASSIA EM NIOAQUE, AS ORIGENS





O Município e cidade de Nioaque está  localizada na escarpa Ocidental da Serra de Maracaju, em uma forma de depressão entre a Serra de Maracaju e o Rio Miranda, à Sudoeste do Estado de Mato Grosso do Sul e Região Sul no contexto da Antiga Província de Mato Grosso.

FIGURA 1 Rede Hidrográfica do Rio Nioaque, imagem Arquivo do autor confluência entre os rios Urumbeva e  Nioaque e a confluência do Nioaque no Miranda, local denominado de 



Forquilha. FIGURA 2 - Abaixo municípios limítrofes com Nioaque.




A cidade de Nioaque é quase uma ilha fluvial, pois os rios Urumbeva e Nioaque o cercam, é só observar bem nos mapas.

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A LOCALIZAÇÃO DA IGREJA DE SANTA RITA DE


 CASSIA, EM NIOAQUE



Há muitas controvérsias e poucas informações objetivas com relação ao local onde foi construída a primeira Igreja. A sua situação durante a Guerra do Paraguai. E a dita explosão.

Tomarei quatro pressupostos para argumentação:

1º O Local de Fundação do Povoado de Nioaque conforme pesquisas realizadas ao longo dos últimos 25 anos.
2º Documentação militar de Visconde de  Taunay e  Major Comandante Tomaz Gonçalves.
3º Um documento atribuído ao coronel Paraguaio Resquin por ocasião da primeira  ocupação da Vila de Nioaque ou como muitos chamam de povoado, povoação.
4º Algumas visitações a pé  in loco feita por mim entre toda a mediação  dos rios Nioaque e Urumbeva.


a) Posição do acampamento Coluna em Operação no Sul da Província de Mato Grosso no ano de 1867.

Último quartel que havia  sido construído em Nioaque, antes da vinda do atual 9º Grupo de Artilharia de Campanha,  encontrava-se nas  instalações da atual Escola Estadual Odete Ignez Resstel Vilas Boas.

Vale lembrar aos leitores que ao reportarmos ao tempo da vila de Nioac, igreja, quartel, acampamento, casa de residências, nada tem a ver com a formação urbana atual.

Primeiro critério: a cidade começou a ser formada a partir da forquilha onde encontramos as junções das águas dos rios Urumbeva e o Nioaque.

Taunay nos dá uma afirmação muito objetiva dando-nos a distância do fundo da igreja até o encontro dos rios de 900 metros.  Dá para perceber que nada tem de posição geográfica com a atual.

A posição do povoado e dos quartéis encontravam-se muito próximos  da confluência dos rios e sua forma urbana era diferente da atual. Tinha um formato semicírculo. Isto porque os rios ao caminharem para as suas junções  formam um semicírculo. Observar Mapa.

A estrada que saía de Nioaque para o Aquidauana ou Miranda passava entre meio da atual APAMIN, córrego Formiga, Conceição, Taquarussú e Porto Canuto. Outra margeando o Nioaque até chegar a Vila de Miranda.

Um item importante foi a escolha do local que oferecesse água potável e para isso os dois rios contribuíram para que se ocupassem locais próximos as águas para a instalação dos acampamentos que se  encontravam  mais a retaguarda.





Figura 3 - Esta  fotografia é de 1878.  Quartel, Comandância e a Igreja, reconstruídos após a Guerra 1870. Temos à esquerda o Quartel e a comandância do Corpo de Cavalaria e a última casa à direita a tosca igreja sobrevivente das duas ocupações paraguaias, mais a ocupação brasileira.  À Frente vamos ver um espaço livre que era a praça e oferecia espaço para algum evento, (imediações onde está o Ginásio Poliesportivo).   

O que cruzava em frente era a Rua Leveger, (presidente da Província de Mato Grosso), sentido Leste/Oeste. Estas benfeitorias ainda se encontravam para traz da atua Escola Odete Ignez Restel Villas Boas, porque a partir de 1889 começou a ser erguido à frente as instalações de um novo Quartel, que abrigou o 7º Regimento de Cavalaria Ligeira até o ano de 1906.

 Outro fato importante, que desde 1872 tinha um padre capelão, militar que fazia as celebrações religiosas, como atestam os livros da Paróquia. Em 24 de maio 1877 o povoado é declarado de Freguesia, Paróquia, termo Eclesiástico que nos dias atuais dera a denominação de Distrito. Nesta época a religião oficial do Império do Brasil era a Católica, isso equivaleria também a criação de uma Paróquia, a de Santa Rita de Cássia como Padroeira da cidade de Nioaque (Santa Rita do Leverger) O nome da praça do Quartel se chamava Largo do Quartel.

Com a construção do Novo quartel, com a criação da paroquia em 1877 e município em 1890, houve todo um crescimento urbano, e delineamento  oficial das principais ruas e quadras. Deste modo, no ano de 1890, as instalações da nova Igreja passou ao local onde se encontra até hoje.  O Local permanece o mesmo, junto ao salão de festas; o que houve no decorrer dos anos foram alterações no projeto arquitetônico, conforme se pode verificar em algumas fotos que conseguimos recuperar.

As impressões deixadas por Taunay sobre a posição e a visão a longa distância dos terrenos, pouco acidentados ao ver no horizonte de cima da torre da igreja, além da vegetação, descreve o sol poente entre as nuvens:

“Levava Catão ótimo camarada, chamado Carneiro Leão e filho de Minas, tal qual o famoso Marquês do Paraná, por cima bom cozinheiro, sempre risonho e procurando nos dar apetitosos guisados.  Certo dia encontrou uns pés de pimenta e uma plantação abandonada de quingombôs[1]  e nos regalou um verdadeiro banquete, em que de certo, se houvesse lacunas, não faltou apetite.

“Acompanhado de pequena turma de soldados e de dez a quinze índios terenas, rapidamente chegamos à Nioaque, onde tratamos logo de dar cumprimento às ordens que trazíamos e queríamos desempenhar à risca e com toda celebridade”.

“À noite nos fechamos numa das casas do povoado, dormimos sono de bem-aventurados”.

“Uma semana depois  da nossa chegada a Nioaque, apareceu-nos a Coluna que tomou posição de ângulo formado pelo encontro do ribeirão Urumbeva com o rio Nioaque, ambos de puríssimas águas, correntes e ficando o acampamento com a frente voltada para o Sul, isto é, para o lado da fronteira do Paraguai. Muito interessante e pitoresca é a localidade[2]. Que bela perspectiva se desfruta do alto da torrezinha da mais que modesta matriz. São campos e campos pouco dobrados, salpicados aqui, ali, de restingas e capões de mato e que ganham com o cair da tarde, muito realce pelos tons roxos, róseos  e amarelados que lhes infundem os reflexos da luz crepuscular”. (Livro Retirada da Laguna e Memórias).

As instalações do QG Quartel General, atrás da Vila, isto é mais próximo das águas do Urumbeva e Nioaque, se tomarmos o lado direito do prédio da atual  E.E. Odete Ignez Resstel Villas Boas indo direção Apamin.

“... ali chegamos, acampamos em ordem de batalha,  com a direita encostada à margem direita do Rio Nioac e à esquerda da margem do Urumbeva.      Instalaram-se o Quartel-General  e o trem a retaguarda, no local da Vila, ocupando o local da Vila, agora em ruínas, fazendo de hospital, as pequenas casas salvas do fogo e um grande galpão que às pressas se construiu”.(Livro Retirada da Laguna)

b)      Localização da Igreja e povoado

Quando a equipe de engenheiros chegara em Nioaque, os primeiros, após a ocupação dos Paraguaios encontraram apenas destruição, pouco pode-se aproveitar. Descreve detalhes, a igreja encontrava se a 900 metros do local do encontro das águas.  Também em todos os tempos quando se construíam uma igreja deixavam se espaços ao seu redor, para o trânsito da comunidade, e não menos, à frente da igreja sempre tinha uma praça. Visconde Taunay  relata que foram poupadas do fogo, a igreja e duas casas, o restante fora incendiado.   Outro detalhe importantíssimo, pequena Colina que fica lhe à frente.

Oras,  para a topografia daquela época, onde desmatamento e erosão  eram  ainda casos raros, temos à frente da Igreja, a Colina.  Analise o caso do detalhe afirmado  em linha horizontal Norte Sul, a posição da Colina deveria ficar a mil metros ou mais.

Esta colina pode ser confirmada através da Avenida General Klinger e as duas paralelas  do sentido Norte Sul, iremos encontrar    em altitude superior as Vilas Militares e a sede do 9º GAC.

Condições em que ficou a Bela Nioac, nas narrativas de Alfredo Escragnolle Taunay[3]: fora a Vila de Nioac abandonada pelo inimigo a 2 de Agosto de 1866.

“Por todas as partes ali se viam vestígios de incêndio.  Poupada apenas duas casas e uma pequena igreja de pitoresca aparência.  À primeira vista nos agrada o local, de um lado o povoado e um ribeirão chamado Urumbeva e do outro o rio Nioaque, cujas águas confluem a 900 metros para trás da igreja, deixando livre em torno desta à direita e à esquerda um espaço duas vezes maior.  Pequena Colina fica-lhe em frente a pouca distância”.

Assim, a primeira igreja foi construída antes de 1864. Conservou-se durante o período da Guerra, 1865-1870, mesmo com a chamada explosão de pólvora dentro da nave em junho 1867, recuperada a partir de 1872, quando recomeçou a reconstrução do povoado, retorno da população sobrevivente, outros migraram e a reconstrução do novo Quartel, que sediou o 1º  Corpo de Cavalaria de Caçadores.

Se observarmos a figura 3, leva nos a crer que a primeira igreja não fora muito diferente da segunda. Para que a estrutura de uma igreja suportasse uma explosão interna e sua estrutura física não se desmorona, entende-se que o material empregado na construção da igreja tinha toda uma base estrutural sob pedras e o restante de tijolo de adobe. Mesmo sofrendo duas ocupações do invasor, os paraguaios que atearam fogo em tudo, exceto na igreja de Santa Rita de Cássia.

“Serviu a nave da Igreja, onde se retiraram tudo quanto havia de símbolo do culto, de depósito ao cartuchame e todas as munições e os instrumentos da  Banda Musical que nos acompanhávamos”. (Taunay, Retirada da Laguna)

Figura 4-  Esta  fotografia , representando a terceira igreja construída após o termino da Guerra do Paraguai, por volta de 1885.  Aqui está localiza nas proximidades da atual igreja, porém um pouco mais a esquerda, direção Oeste e a frente dela havia um espaço que constituía a praça. Praça que constitui até  os dias atuais.



Imagem faz parte dos Arquivos do Autor. Pertencera a família do  Senhor Dario Pires

No documento seguinte, pesquisado por Hélio Serejo[4], o Coronel Resquín relata ao Comandante Supremo, Marechal Francisco Solano Lopez da República do Paraguai, a ocupação do povoado de Nioaque  em janeiro de 1865, e que estrategicamente servirá de sede das operações de guerra paraguaias no sul da Província de Mato Grosso.

Se fizermos uma análise bem confrontada entre as informações de Taunay e de Resquin,  percebe-se que não há muitas contradições:


  • ·    O Povoado consta de 130 casas, sendo 30 principais.
  • ·    Tendo um oratório e um espaçoso quartel que cai a Oeste da Praça principal sobre a Rua Leverger.
  • ·  Entende-se que a posição da Igreja está entre um lado, Oeste o Quartel, no meio a Igreja, e à direita margem da esquerda do Urumbeva ficava o povoado.

Segundo Coronel Resquim, “ao  amanhecer  do dia seguinte, levantei o acampamento e depois de três léguas de marcha, passei o arroio Ponte e com duas léguas mais o Nioaque, a uma hora do dia.  Concluída a passagem, fiz adiantar-se o Capitão Rojas com dois esquadrões para apossar-se da Povoação de Nioaque, onde não se encontrou mais que dois indivíduos, um espanhol e outro português europeu.   Eu acampei-me à frente da Povoação e ordenei o reconhecimento das casas, do armamento e demais cousas, porém, na comandância não se encontraram mais que seis carabinas de caça e seis espadas de tropas.   Depois se encontraram os armamentos: caixões de balas, pólvora e  demais papéis enterrados no fundo do curral da comandância e também algum armamento e munição se encontraram nas casas que, com efeito, mandei visitar, como Vossa Excelência verá pela minuta junta.   O arquivo parece completamente destroçado e os papéis tomados são os que se encontram enterrados com os 26 caixões de pólvora encartuchados e 11 de pólvora solta.   No mais não se acharam senão comestíveis e trastes que não puderam levar na fuga.

O Povoado consta de 130 casas, sendo 30 principais, tendo um oratório e um espaçoso quartel que cai a Oeste da Praça principal sobre a Rua Leverger.    A comandância cai a Leste da mesma praça sobre a Rua Santa Rita, podendo aquartelar 500 homens.   Nomeei para comandante deste ponto, o Tenente Cidadão Pascal Rivas, ficando às suas ordens o Alferes Cidadão Aleixo Gomes e Waldo Gimenes.  No dia 5 proponho-me seguir minha marcha sobre a Vila de Miranda a curtas Jornadas, para não fatigar a cavalhada com o excessivo calor. No decorrer da perseguição tomaram-se vários papéis e entre eles aparecem as comunicações juntas.

Deus Guarde Vossa Excelência muitos anos”.


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Figura 5-  Esta  imagem representa para o leitor a localização dos rios Urumbeva e Nioaque, as respectivas margens e o local onde iniciou o povoamento de Nioaque, na confluência dos dois rios, o primeiro nome dado  ao povoado foi o de  São João de Antonina, Homenagem ao Barão de Antonina, Senador do Império, depois Santa Rita de Leverger[5]. Homenagem ao Presidente da Província de Mato Grosso. O Nome Nioaque, Anhoac, Anioac, veio associado pelas águas do Nioaque, ao rio e que acabou sendo incorporado ao nome do povoado e dos quartéis. Origem indígena, entre outras denominações significa Clavícula Quebrada.




Figura 6 – A imagem Seguinte da década de 1960, já com aspecto de deterioração foi uma revitalização da antiga efetuada nos anos de 1930, com mudança arquitetônica, torre do sino, telhado. Sendo revitalizada posteriormente e por fim demolida no inicio dos anos de 1980 para a construção de uma nova no mesmo local, porém maior, mais alta, com estrutura de concreto pré-moldado.




Figura 7 - Igreja de Santa Rita parte interna no início dos anos de 1980. Foto Dario Pires Peixoto. (face book) É possível verificar a região do altar, decoração, vitrais, bancos.






Figura 8 – Posição da igreja, povoado descrito por Taunay




Figura 9 – Posição da igreja, povoado descrito por Coronel Resquin





c)      Explosão do barril de pólvora dentro da igreja

É muito importante que se contextualize no tempo histórico.  Embora nos últimos anos os cerimoniais cívicos fazem alusão a explosão da igreja, como último atentado das tropas paraguaias, mas as literaturas da época comentam que houve uma explosão do barril de pólvora dentro da igreja, mas o prédio ficou intacto. Não caiu. Os que morreram foram em consequência  das queimaduras da explosão, já que havia rastilho de pólvora espalhado por todos os espaços da Igreja. A explosão da pólvora dentro de um ambiente fechado, gera uma pressão explosiva que jogam o que estiver próximo para longe  pelos ares além de provocar a queimadura da pele e roupas com uma rapidez incrível.

Entender a explosão das pólvoras espalhada dentro na igreja foi a causa que vitimou vários combatentes, mas não fora a explosão de prédio físico. E que pode se dizer que foi uma fatalidade o que ocorreu, porque todas as medidas de seguranças estavam sendo tomadas, para evitar  acidentes.



Imagem representando o Evento da 1ª Marcha Cívica da Retirada da Laguna nos tempos Modernos, realizada em Julho de 1999. Esta imagem representa a Primeira simulação da Explosão da Igreja, coordenada pelo 9º GAC. Arquivo do autor. Assistir o vídeo no YouTube, digite o meu nome completo ou pelo link https://www.youtube.com/watch?v=reUH2zCpD-s


Quanto a situação de ficar um isqueiro e rastilhos de pólvora pelo chão, pode sim ter sido um atentado, um plano dos Paraguaios.   Mas podemos pensar o contrário, não poderia ter sido  consequência das próprias tropas brasileiras quem ali depositaram cartuchames e pólvora pelos espaços.  E depois numa fuga rápida não puderam levar tudo, ficando para trás esses elementos explosivos que incendiaram. Lembrando a história, na ocasião que as Tropas Brasileiras em Operação no Sul da Província de Mato Grosso em 1867, quando, uma parte das tropas seguem até Laguna no Paraguai, Nioaque, fora definida como a base de comando e apoio das operações militares, permanecendo uma guarnição militar e muitos civis. Diante da notícia da aproximação de um grupamento de Cavalaria Paraguaios, os brasileiros abandonaram as pressas Nioaque, deixando para traz praticamente quase tudo.  Quando as tropas Paraguaias chegaram, vendo a indefesa, atearam fogo e cometeram outros crimes. Esta foi a segunda ocupação da Vila de Nioaque[6].


Segundo Taunay:

“Sem preocupações quanto ao inimigo, fomos a toda a pressa ver o que haveria ainda a salvar. Esta bonita povoação, abandonada, ocupada e pela segunda vez, desde o início da guerra, devastada, convertera-se num montão de destroços fumegantes. O grande galpão que, outrora, nos servira de armazém de mantimentos e ainda achamos de pé, sobre os esteios incendiados, mostrava renques de sacos que nossa gente, sem dúvida, não tivera tempo de carregar e já serviam de pasto ao incêndio. O arroz e a farinha carbonizados, exteriormente; o sal, gênero este tão escasso e precioso no interior do país, negrejara e fundia sob as nossas vistas. Não pouparam esforços os nossos soldados em salvar o que puderam.

Foi quase toda a coluna acampar por esta noite atrás da igreja, sobre o grande terrapleno que descrevemos e onde, escalonados com os canhões nos ângulos, para maior segurança contra o inimigo, nos apoiávamos à mata do rio. Ali gozamos, enfim, um pouco de verdadeiro descanso”. (Taynay, Retirada da Laguna).

“Dupla e tripla ração se distribuiu; permitiam-no as circunstancias; sentia-se o comandante feliz por contentar os soldados, quanto possível. Pela primeira vez, e desde muito, podíamos contar com o dia de amanhã. Restavam-nos, apenas, para nos pôr fora de qualquer perigo eventual, fazer quinze léguas, a caminhar por excelente estrada, de Nioac ao Aquidauana onde éramos esperados. E para tal marcha tínhamos víveres sobejos.

Durante a última estada em Nioaque depositáramos na igreja muitos e diversos objetos, o instrumental das bandas de música, munições de guerra etc. Consta que os paraguaios encontraram ainda muita coisa deste apetrechamento, não lhes havendo chegado o tempo para tudo carregar. Existia ali grande reserva de cartuchos e foi, talvez, o que lhes sugeriu a primeira idéia da horrível maquinação que tanto lhes condizia à feição cruel.

Depois de carregarem o que mais poderiam aproveitar, deixaram o resto por destruir, para nos engodar e nos reter o maior lapso de tempo possível em torno de um amontoado de objetos, sob o qual colocaram um barril de pólvora com rastilhos. Não podíamos ter a menor suspeita de semelhante cilada; e, à vista dos cartuchos que devíamos transportar, tomamos as precauções costumeiras contra as eventualidades de uma explosão. Enquanto na igreja trabalhava o nosso pessoal, sentinelas vigiavam, a fim de que nenhum fogo se acendesse pela vizinhança. Ocorreu, contudo, que um infeliz soldado encontrasse pelo chão um isqueiro, dentro do edifício, e lhe viesse a estapafúrdia ideia de o utilizar. Saltou logo uma faísca sobre alguns grãos de pólvora dos que coalhavam a nave. Sem a umidade do solo, então muito grande ou acaso fossem os rastilhos contínuos, instantânea ocorreria a explosão. Para melhor nos enganarem haviam os paraguaios espalhado a pólvora sóbria e desigualmente com o minucioso cuidado, e os cálculos ardilosos do selvagem que preparara os seus malefícios Só se viu, a princípio brilharem pequenas chamas e aqui e acolá se levantarem sucessivamente ligeiras espirais de fumaça. Já os soldados se precipitavam para conter o fogo, no momento em que ele tomava corpo, quando os oficiais presentes, compreendendo melhor o perigo, ordenaram que imediatamente fosse a igreja evacuada. A esta voz correram todos, em massa, para as portas; como o atropelo perturbasse a saída, deu-se a explosão antes que toda a gente se achasse do lado de fora. Pouco faltou para que todo o edifício voasse aos ares; foram as paredes sacudidas, mas o conjunto resistiu; assim não sucedera e teriam todos os nossos, que ali se achavam, infalivelmente perecido esmagados sob os escombros.

Terríveis de se ouvir e sentir, até no ponto distante em que nos achávamos com o comandante, foram o estampido e o abalo. Grande grito acompanhou a explosão seguida de silêncio, depois novo e horrível clamor e ainda pausa. Soaram os clarins; julgando todos que era o inimigo, os corpos entraram em formatura. Já nos precipitáramos para a igreja; dela saíam, dentre turbilhões de fumo, irreconhecíveis formas, fantasmas enegrecidos e avermelhados pelo fogo. Ardiam uns com as roupas em chamas, outros completamente nus e cuja pele pendia em frangalhos, soltavam urros; alguns ainda rodopiando como alucinados já se debatiam nas angústias da agonia. Perdera um soldado negro toda a epiderme do rosto, arrancada como uma máscara. Era-lhe o corpo sangrenta chaga. Um sargento, cujas carnes se achavam inteiramente desnudadas, implorava, por misericórdia, que o acabassem com uma bala ou um pontaço. Morreram ali mesmo, no local, uns quinze desventurados”. (Taunay, Retirada da Laguna)

“Ainda em Nioaque, esperava-nos nova calamidade.  No chão do deposito havia ficado espalhada muita pólvora que não poderia ser transportada.   Apesar das mais enérgicas e reiteradas recomendações, a imprudência de um soldado provocou uma formidável explosão que queimou 13 praças, das quais 6 faleceram poucos dias depois apesar dos cuidados que fiz observar na condução deles.    Com a retirada do Capitão Martinho José Ribeiro era impossível a estadia em Nioaque, reduzida à  cinzas.” Maj. Tomaz Gonçalves, Relatório encaminhado ao presidente da Província de Mato Grosso e a Dom Pedro II.

Figura 10 O mapa representa a distância de 900 metros entre a foz do Urumbeva e a parte de trás da igreja, lado direito, as casas que sobreviveram ao fogo e ocupadas para fins de atendimento médico. O acampamento das tropas brasileiras quando chegaram e acamparam estacionários atrás do povoado mais próximo do rio. À frente temos a pequena Colina para a época e que nos tempos moderno localizamos a região do 9º GAC e Vilas Militares; as águas do Nioaque correm inicialmente para o Norte, mas após certa altura direcionam-se para o Oeste onde  faz foz com o Miranda. Segundo as descrições dadas por Taunay.


Figura 11 - Imagem da atual Igreja Católica frente à praça central cuja  Padroeira  é Santa Rita de Cássia. Este mesmo prédio que iniciou a sua construção em 1983, tem sofrida arquitetonicamente varias modificações no decorrer dos últimos anos.  Adequações para atende as necessidades dos tempos modernos.




Imagem Arquivo do Autor





Imagem - Santuário Santa Rita De Cássia (imagem do facebook)




Imagem da visão atual da Igreja de Santa Rita de Cássia de Nioaque – MS. 
(crédito Nioaque Mapio.net)20015

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ALGUMAS REFERÊNCIAS TEXTO E IMAGENS:

1 - A Retirada da Laguna Alfredo D`Escragnolle Taunay
TAUNAY Visconde, Ed. Tecnoprint LTDA.
2- TAUNAY Visconde, Memórias – Edição preparada por Sérgio Medeiros, Edição iluminus, 2004
3- TAUNAY, Alfredo D'Escragnolle Taunay, Visconde de. A retirada da Laguna - episódio da
Guerra do Paraguai. São Paulo: Ediouro. (Prestígio).
4- Dalmolin, José Vicente. Nioaque  no contexto do século XIX  do Estado de Mato Grosso do Sul, Vol, I..2015





[1] Fruto de uma das espécies de quiabo.
[2] Visconde de Taunay, Memórias, Ed, Iluminuras, 2005, p.301.
[3] O Livro Retirada da Laguna, Biblioteca do Exército, 1954.
[4] Livro, Nioaque, um pouco da sua Historia 1980.
[5] O almirante Augusto João Manuel Leverger, primeiro e único barão de Melgaço.
[6] Mais detalhes, no Livro Nioaque no Século XIX, Guerra do Paraguai. Vol 1. Livro do Autor.

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