CAPÍTULO XXI
Chegando ao final deste esboço
histórico sobre o Município de Nioaque,
espero que tenha ajudado a ampliar os seus conhecimentos e abrindo a mente para
novos horizontes.
Na história existe em torno do
pesquisador, através de indagações sobre as causas e conseqüências, leva-me a
dizer que não encontraremos a porta de saída.
A História, quanto mais se
escreve, reescreve, sempre se descobre algo novo ou então visto sobre outro
ângulo, conforme a posição em que o historiador se coloca.
A posição por mim tomada, foi a
de colocar apenas os fatos históricos, ordenados, evitando tomar partido
crítico dos acontecimentos. Deste modo, fica ao leitor, tirar o seu
posicionamento com relação aos fatos de cada Capítulo.
No desfecho final dos fatos
alguns elementos analíticos do Século XIX de Nioaque.
Renascimento
de Nioaque:
Não podemos incriminar as
condutas dos nossos antepassados, que deveriam ter procedido desta ou daquela
maneira, isto, porque, certamente, no futuro, os nossos filhos e netos, poderão
fazer o mesmo conosco, não aprovando muitas das atitudes que hoje justificamos
necessárias e em nome do progresso, das
nossas ambições pessoais e das conjunturas sociais, políticas e econômicas.
Chamamos de renascimento porque
com advento da Guerra do Paraguai e as duas ocupações sucessivas do povoamento
de Nioaque, não restou uma só construção e os moradores da região abandonaram
as suas propriedades.
No entanto, um fato que dificulta
a reconstrução histórica, é a escassez de documentos concretos,objetos e
escritos pelos homens do passado.
Crítico sempre foi a conservação
de papéis seculares e as informações
conservadas através das tradições orais, misturam-se no tempo, entre o presente
e o passado, o real e imaginário.
Quando acabou definitivamente a
Guerra em 1.º de Março de 1870, com a Morte de Lópes, a ocupação de Nioaque não
mais se faziam presente os paraguaios, e muitos dos antigos moradores já vinham
tentando reaver os seus pertences, abandonados e perdidos.
Na verdade, era preciso
recomeçar. Nada havia sobrado do antigo Povoado, das propriedades, as que não
foram transferidas, abandonadas, foram saqueadas e ocupadas pela vegetação que
sobreviveu a tempestade da Guerra e por grupos de aventureiros que foram
ocupando parte das propriedades dos antigos donos.
Assim, foram sendo aos poucos ocupada por seus
ex-donos, herdeiros, famílias de aventureiros, vindo de todos os rincões:
Paraguai, Itália, Espanha, Portugal, Argentina, do Norte da Província e do interior do Império do Brasil.
Prepara-se Nioaque para mais uma
arrancada rumo ao desenvolvimento.
De fato, foram três décadas –
1870-1900, marcado pelo mais profundo desenvolvimento, renascendo um Sul de
Mato Grosso novo, preenchendo todos os espaços vazios com fazendas e núcleos
populares.
O trauma da Guerra, violência,
ódio, dor, medo, terror, insegurança, permanecem na memória das almas
sobreviventes até mais de uma geração, pois foi assim, que cresceu o novo
Povoado:
“Terra de Bravos e Berço de Heróis”.
“Terra de Bravos e Berço de Heróis”.
A bravura segue no sangue dos que
lutam incessantemente e o herói surge,
nem sempre no mais intelectual e do erudito, mas justiceiro, no valentão, que
intimida, ameaça e às vezes aterroriza seus compatriotas, que descarrega a ira
fazendo valer a lei do mais forte, o poder do gatilho no seu disparo ou espada
que penetra com seu gume dilacerando.
A população sobrevivente, as que
trazem ainda consigo a esperança, possuem no seu rosto a estampa da dor e do
sofrimento.
A mesma angústia retrata entre o
otimismo e o pessimismo no fruto do trabalho, na serenidade do viver. Muitas se fazem perecer
através do fatalismo: Deus dará! Foi Deus que quis!
Nenhuma sociedade se processa de
maneira estática, está sempre em mudanças, quer em ascensão ou em declínio.
As mudanças sociais, morais,
políticas, religiosas, econômicas e culturais que ocorreram na remanescente
Nioaque, processaram em cadeia de fatos dentro da conjuntura da Província,
depois Estado de Mato Grosso e de Império e posteriormente a Forma Republicana
e um sistema de Governo Presidencialista. Transformações que ocorreram de modo
lento, mas contínuas, não na rapidez dos tempos atuais, onde o progresso
tecnológico e científico, corre na frente do próprio tempo.
Foi a sucessividade de fatos, que
em apenas três décadas, Nioaque atinge o auge – 1870/1900, conquistando
definitivamente a sua emancipação política. Se considerássemos, que em
1870 de Nioaque (cidade) restava o local
e algumas ruínas queimadas, e vinte anos depois já era Município e quatro
depois, sede de Comarca, para uma época distante onde as dificuldades possuíam
todas as dimensões, somente por um ato de desenvolvimento intensivo dos seus
habitantes, possibilitou tal crescimento e reconstrução.
Há de se relembrar, que
transcorrido dois anos do término da Guerra, novamente foi transferido o
Comando e Quartel do Distrito Militar de Guarnição com a Fronteira com o
Paraguai, que numa luta desesperada dos seus comandantes, na tentativa de
ajudar a reconstruir o povoado, ainda incerto quanto ao seu futuro, permanecerá
um tanto estagnado, em face de todas as dificuldades existentes na região:
comunicação, transporte, atividades econômicas. Não havia absolutamente sobrado
nada, todos os núcleos populacionais haviam sido destruídos: Miranda, Corumbá,
Albuquerque, Coxim, Coimbra, Nioaque, Colônias de Miranda e dos Dourados, sede
das fazendas. Documentações extraviadas e destruídas, pessoais, oficiais,
títulos das propriedades.
A região ficou, sem comércio sem
recursos, sem gado, sem centro político administrativo e Judiciário. Este
processo indefinido, permanecerá em Nioaque, até o ano de 1877, quando o então
Presidente da Província, resolve dar o primeiro passo pra o desenvolvimento e
emancipação de Nioaque, quando elevado à categoria de Freguesia, recebendo
posto de correios, distritos policial, Juizes de Paz, Paróquia de Santa Rita.
As autoridades chegam a mudar o
nome do Povoado de “Nioac” para o de – Levergeria – criando mecanismo que
estimulassem a marcha do progresso e amenizassem a dor da Guerra. A denominação
Levergeria tinha por objetivos: homenagem a Augusto Leverger e conotação de
tempos modernos, de renascimento,
desenvolvimento, muito embora, em 1883, retorna a antiga denominação –
Nioac; para retornar novamente a denominação de Levergeria em 1890, deixando
transparecer mais uma vez o sentido de novo; no entanto, em 1892, retoma a
denominação primitiva – Nioac.
Teria Nioaque sobrevivido após a
Guerra se não fosse o aquartelamento militar?
Teria conquistado sua emancipação
política em apenas vinte anos?
Teria conquistado a importância
social, política, econômica na região sul de Mato Grosso sem a presença da
Unidade Militar?
Certamente não. Não teria tido
infra-estrutura para reagir diante dos imensos obstáculos.
Quando saia Nioaque dos horrores
da Guerra, sob tais escombros permaneceu por mais de cinco anos, não restando
nada do seu povoado, exceto as ruínas que sobreviveram aos incêndios 1866/1867.
Foi necessária a presença de uma força que injetasse o ânimo e
operacionalizasse a lei, a ordem, a segurança, não apenas de Nioaque, mas de
toda a fronteira com a vizinha República do Paraguai.
Assim, quando foi transferido
para Nioaque, a residência do Comando do Distrito Militar, através do 7º
Regimento de Cavalaria Ligeira, os homens que habitavam Nioaque, encontravam-se
apáticos, causada pela dor da Guerra e tormentos de vida.
A finalidade da brusca
transferência do contingente Militar de Cuiabá, para Miranda e desta para
Nioaque, povoado que se encontrava
totalmente indeciso, era o de guarnecer as nossas fronteiras, reprimir os
contrabandos e sobre tudo cooperar no reerguimento do Povoado, cujo progresso a
Guerra havia atrofiado por completo.
Nos dizeres de Hélio Serejo, em O Homem Mau de Nioaque: “Direta ou
indiretamente, influenciaram em tudo, revelava a vida pública e privada do
cidadão, na escolha dos empregos públicos, nas eleições, nos festejos, nos
bailes, nas disputas, nos delitos, nos crimes, etc. Via-se na mão protetora ou
perseguidora do Comandante do Regimento, com os aplausos de uma parte do povo
que gozava a sua simpatia”.
Acontecia na Freguesia de
Nioaque, a qual quando lhe apara a sorte de ter
no seu seio um comandante digno de toda a consideração e amante de
progresso e da civilização, sobejas à vontade dos que representam o povo e
contrariando, somente buscava o adiamento
material, como se fosse fácil obtê-lo, se o verdadeiro progresso moral
que é a base e o sustento de todo o progresso social.
Cresceu assim a comunidade civil,
geralmente omissa ou submissa, conjugando dos interesses e esforços na força do Regimento.
Inegavelmente que do renascimento
a emancipação política de Nioaque, a presença do 7º Regimento e oficialato,
influenciaram decisivamente nos rumos dados
na marcha do progresso da renascentoura Nioaque. Normalmente quem fazia
os contatos com os governantes da Capital, era o próprio comandante que expedia
uma correspondência, encaminhando ou solicitando algo.
Possuía os homens das armas e
também a dos eruditos, possuía
infra-estrutura para manter homens aglomerados e disciplinado, oferecia
assistência básica: lei, segurança, ordem, saúde, religião, dinheiro, consumo
da produção local, realimentando as transações comerciais, aquisição de
propriedades, bens imóveis, que os
manteve radicados na própria região por longos anos.
Uma questão Psicológica: quem
possui o poder, a força, a riqueza, possui condições suficientes para manipular
os órgãos públicos e influenciar e até determinar a direção que deverá ser tomada por esta ou
aquela instituição política, econômica, religiosa e cultural.
As influências foram inegáveis,
no entanto, as contribuições são incontestáveis.
Percebe-se
assim, que escrever as influências militares sobre a vida de Nioaque neste
século XIX, historicamente é impossível enumerar todas. Por meio das correspondências, depoimentos, narrações
que se encontram inclusas algumas entre os Capítulos deste Trabalho,
registramos as mais significativas:
- ¨ Origem da cidade;
- ¨ No povoamento;
- ¨ Na justiça, lei, ordem, segurança, guarnição, repressão;
- ¨ Guerra do Paraguai;
- ¨ Nas atividades sociais, religiosas e culturais;
- ¨ Nas atividades políticas e econômicas;
- ¨ No caminho da consolidação Republicana;
- ¨ Na emancipação política e consolidação do Poder Judiciário;
- ¨ Nas atividades educacionais.
Em resumo, Nioaque nasceu e cresceu
durante este século XIX sempre influenciado pelas decisões, presença dos
militares das Unidades aqui relacionadas.
Pode-se dizer que Nioaque é fruto
do Regime Militar, prova-se, quando esta Unidade (7º Regimento) foi perdendo o
seu espaço de ação e a retirada para
Bela Vista, o Povoado, a cidade de Nioaque entrou em apatia e sua decadência
foi acelerada. Bela Vista de simples Distrito de Nioaque, passa a categoria de
Município em 1908, pouco depois da transferência do quartel.
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