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segunda-feira, 11 de abril de 2016

GUERRA DO PARAGUAI - 6 - DESFECHO FINAL DA GUERRA E EPISÓDIOS


ABORDAGEM 6
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5.4   DESFECHO FINAL DA GUERRA DO PARAGUAI E DA TRÍPLICE ALIANÇA E OUTROS EPISÓDIOS


BANDEIRA OFICIAL DO IMPÉRIO DO BRASIL NA EPOCA DA GUERRA
BANDEIRA OFICIAL DA REPÚBLICA DA ARGENTINA

BANDEIRA OFICIAL DA REPÚBLICA DO URUGUAI



BANDEIRA OFICIAL DA REPÚBLICA DO PARAGUAI



                        A Guerra que envolveu o Brasil, Argentina, Uruguai e o Paraguai, conhecida como Guerra do Paraguai ou  Guerra da Tríplice Aliança e o Paraguai, teve seu início com a ocupação  da região sul de Mato Grosso.   No entanto, logo após o Paraguai ter ocupado posições  na região Mato-grossense,  procedeu à ocupação de regiões para o Sul do Brasil e   áreas territoriais  dos países da Argentina e Uruguai.   Quanto aos acontecimentos destas etapas da Guerra pode ser pesquisado em outros livros de História do Brasil.   Nossa abordagem busca-se  relatar etapas  de envolvimento da região compreendida pelo atual  Município de Guia Lopes da Laguna, porém, não é possível estudar o nosso Município isoladamente do contexto da região.

            Assim, no dia 5 de janeiro de 1869, as tropas brasileiras, vindas pelo Sul, entram em Assunção, capital do Paraguai. Para organizar o novo governo paraguaio foi enviado do Rio de Janeiro, então Capital do Império do Brasil, Visconde do Rio Branco.

            Duque de Caxias, então comandante das tropas Brasileira, cansado e doente, volta para o Brasil.    Em substituição é nomeado comandante supremo das tropas aliadas, o Conde D’Eu, marido da Princesa Isabel.    

            Francisco Solano López,  presidente do Paraguai, com alguns soldados fiéis, não se rendem, retira-se para o Norte do Paraguai, resistindo sempre.

            Em Assunção, Visconde do  Rio Branco, enviado pelo Imperador, organiza o Governo Provisório e declara livres os escravos da República.

            Pouco tempo mais tarde, as últimas grandes batalhas da Guerra: Peribebuí e Campo Grande50,  com a derrota das forças de López em agosto de 1869.

            Em 1º de março de 1870, trava-se o último combate da Guerra: o de Cerro Corá.

            Sentindo a derrota eminente,  López empreendeu a fuga, entretanto, o Comandante Brasileiro General José Antônio Correia da Câmara, intimou-o a render-se, oferecendo a  Solano López , garantia de vida.   O comandante brasileiro não sendo atendido, mandou um soldado a desarmar López.

            Depois de breve resistência, tomba sem vida, às  margens do Aquidabaniqui.   Com sua morte estava terminada a mais longa guerra da América do Sul, com sacrifício de milhares de vidas.

            O General Câmara em seu relato sobre a morte de Francisco Solano López, assim se expressa “foi nesta posição, ajoelhado, ferido na barranca do rio Aquidabaniqui, que tenho me apeado e seguido no seu encalço, o encontrei.   Intimei-lhe que se rende e entregasse a espada que eu lhe garantiria o resto da vida, eu o General, que comandava aquela força.   Respondeu-me atirando um golpe de espada.   Ordenei então a um soldado que o desarmasse, ato que foi executado ao tempo que exalava o último suspiro”.
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5.4.1  Libertação de Famílias Mato-grossenses – prisioneiras  de Guerra


            As libertações de famílias brasileiras mato-grossenses, entre  elas estavam a  dos Lopes e Barbosas, que residiam nas cercanias de Guia Lopes e região, na ocasião da ocupação paraguaia e conduzida como prisioneiras de  guerra.

            Segundo o General Câmara51, encontramos as referências:
           
            No dia 16 de outubro de 1869, o destacamento de Câmara, chegou em Concepción, partindo de Arecutaguá, com umas tropas de 1.500 Infantes, 900 cavalarianos e 200 artilheiros.

            As instruções do conde D’Eu dirigidas a Câmara a 19 de setembro  de 1869, definia a missão “bater e apreender todas as forças e destacamentos inimigos, bem como assim subtrair ao poder do inimigo e trazer para  o lugar onde possa ser aproveitado por nossos exércitos, o gado que se consta achar acumulado naquela região e aquela  que não for necessária para a alimentação das forças expedicionárias, deve ser trazidas à margem do rio Paraguai para serem transportadas para Rosário...”.
                       
A 17 de outubro, avança para Belém-Cué e derrotada uma força que estava ao comando do  Tenente Coronel Cañete, comandante da Divisão Norte.
           
            Nos campos de Sanguina-Cué, tomaram 36 carretas que conduziam famílias, 200 reses e 300 ovelhas e muitas cavalhadas encilhadas.    Em sua parte, o General Câmara escreve: “muita prata de igreja caiu em nosso poder, fazendo eu  relacioná-las a fim de ser remetidas para Assunção.    Grande número de famílias paraguaias foi postas em liberdade.   Entre elas se achava uma de Mato Grosso de nome Ana Silveira, que conduziam atada e a paraguaia Donata  Rodriguez, que há cinco meses estava presa e sofria toda sorte de vexame,  depois de ter assistido a bárbara execução de todas as suas irmãs que eram  lanceadas nuas e à sua vista, por suspeita de desejarem a liberdade.  Igual sorte, também coube a infeliz família Pereira”.   “Entre as famílias resgatadas constam-se a dos Lopes, Fernandes, Pereira e Barbosa, residentes nas imediações de Nioaque, em Mato Grosso, que de lá haviam saído a 02 de agosto de 1866, transferidas para a Vila de Horqueta, a 9 ½  léguas de Concepción”.  (Informações Diário do Exército).


            Mesmo com o fim da Guerra em 1º de março de 1870, o retorno do povoamento foi muito lentamente.    Assim que, Nioaque, Miranda, Colônia Militar de Miranda  estavam todas em cinzas ou ruínas.    Os moradores estavam refugiados em regiões distantes.     Aos poucos,  ex-combatentes da Guerra, migrantes paulistas, paranaenses, e outros desbravadores vão se ajuntando com antigos proprietários e  estabelecendo posse com criação de animais e cultivo de terra com agricultura de subsistência.

            Pelo que temos informações, a antiga Colônia Militar de Miranda, nunca mais constituiu núcleo de povoamento, somente  fazenda.

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5.5  EPISÓDIOS BIOGRÁFICOS


Não se trata de descrever Biografias de algumas personalidades que possuíram significado  histórico, mas o fato é  que seus nomes chegaram aos nossos dias.  São apenas traços da vida, dos fatos ou de opiniões.   Não se trata da história de heróis ou mitos, mas de homens e mulheres que naquele momento histórico, marcaram presença.
     
Naqueles tempos de Guerra, somente o espírito determinado podia guiar seus companheiros para avançar ou retirar diante da situação de combate.   São crônicas que os cronistas do passado ajudaram a preservar a memória, acrescida por outras informações provenientes da Pesquisa.


5.5.1 Marechal Francisco  Solano López

Quem foi este homem que causou a maior Guerra entre Nações que a América do Sul já conheceu?

Qual a sua importância para a história e para a Memória do Estado de Mato Grosso do Sul, em especial para a região Sudoeste.
Marechal Francisco Solano Lopes

Para nós brasileiros é retratado por historiadores em muitos livros de História com a denominação de: inimigo, ditador, usurpador do Poder, destruidor da paz e da ordem, invasor do nosso território, ambicioso, tirano, pretensioso, um louco.    Independente dos seus qualificativos, na guerra ou se tem amigos ou inimigos, independente das razões que a estimularam.

Entretanto, para alguns estadistas sul americanos e para o povo da pátria guaranítica expressam assim, nas citações recolhidas por J. A.  Cova,  Solano López y la Epopeye del Paraguay52.

“ Mcal. Francisco Solano López, el caudilho y el heroe.  Encarnacion de la nacionalidad paraguaya y sintesis suprema de sus virtudes ancestrales martir del honor, de la  libertat y de la integridad del suelo patrio”.   É um resumo que Expressa a História da Nação do Povo Paraguaio, o maior herói nacional.

Para o Paraguaio Natalício Gonzáles, su apsionado y veraz apolpgista, le fija así para la historia: “ La figura de Solano López desconcierta. Este Señor de los  tiempos heroicos, el símbolo soberbio de su  dilecta estirpe.  Dualidad sugestiva e magnífica, su personalidad es una extraña amalgama de fuega y pensamiento.   Toda una raza se encarnó en él pero una  raza joven, artista y brava, que supo arrancar de las garras de la muerte, el secreto de la imortalidad.   Nadie permanece impasible ante su gran figura.    Arranca admiración y odio de todos los  pechos.   Unos le adoran como un semidios; otros nos le pintan como un satanás terrible pero hermoso, a quien se puede formular la interrogación de Milton:  “ De dónde has caído Lucifer, Hijo de la Aurora”?  Su arrogante silueta, cada vez más luminosa en la lejana perspectiva de la história, maravilla y cautiva a los varones fuertes,, a los pensadores solitários a lo  Carlyle, y espanta a los pusilánimes, a los que no sabem mirar de frente a la rutilancia espléndida del sol... No descansa un sólo  instante.   Hace brotar soldados de la nada, improvisa ejercito, y cuando el enermigo le creeya aniquilado, sorprende al mundo com sus nuevos milagros.

Su pueblo le idolatra y él a su  pueblo.  Posse una fe ciega en las superiores virtudes de su raza y el poder cada vez mayor del enemigo no influye en la firmeza de su espíritu.  La fuerza numérica y los recursos – escribe em las postrimerias de la luncha – nunca se han impuesto a la abenegación y bravura del soldado paraguayo, que se bate com la resolución del ciudadano honrado y del cristiano y se abre una ancha tumba en su Patria, ante que veria ni siquiera humillada”.

Continua ainda Gonzáles, narrando sobre López: “Solo ompertubable,  firme com  sua volundad en medio de la tormenta, su actividad deslumbra y marea.  A todo acude, todo lo sabe.  Manda abordar acorazado en canoas, improvisa fortificaciones inexpugnables y a la sombra de la noche controye trincheras en el proprio campamento del enemigo estupefacto...”    En efecto, este hombre desconcierta... 

No hay para él término medio; su divisa es la misma del escudo del Paraguay:  Independencia o Morte”; y su lema que hace grabar en letras de oro en su bastón de Mariscal, os él símbolo de su vida: Decus Pacis, Terro Belli (53)”.

O General Mitre, assim se expressou quando conheceu Francisco Solano López:

“ Le conocí en 1859.   Era ya entonces um hombre distinguido, muy educado e muy inteligente”.

O Historiador Argentino Manoel Galvez retra a figura de López deste modo:

“... Amoséle fanáticamente como Napoleón: una palavra suya llevaba a la muerte com entusiasmo frenético, a milares de hombres.  Su oratória improvisada, violenta, producía el terror, palidez, y el bajo pueblo la locura de arrojarse al suelo, lloror y tirarse de los cabellos...”

O Venezuelano Blanco Fombona, assim o enquadra:

“Solo dos americanos han podeído hasta hoy, después de la independencia rasgos preciosos, acentuados, de la compleja y máxima  figura de Bolívar; estos americanos se llaman José Martí y el Mcal. Francisco Solano López.  Martí poseía del Libertador, la elocuencia, el fervor de proselitismo, la tendencia al sacrificio, al apostolado, el amor de la América, entera y una chispa de su genio; Solano López, la energía constante, indeclinable, fabilosa superhumana, el patriotismo intransigente, la incapacidad sublime para declarar-se vencido, el prestigio para arrastar las multitudes, el don de mando, el yo imperativo, el heroismo, la fe en sí y en su pueblo...   Solano López em defesa de su país de volvió un demonio como Bolívar de 1813 a 1819.  Los Generales de Solano López, debían al pie de la letra “vencer o morir”.
O Marechal Francisco Solano López, nascido em Assunção, Capital da República do Paraguai, em 1827 e faleceu em 1º de março de 1870.  Político, militar, ministro plenipotenciario, embaixador, ocupou a pasta da marinha e guerra.   Em 1862, foi aclamado Presidente do Paraguai.

            Segundo as narrativas históricas, proferiu as seguintes palavras antes de morrer:


            “No me rindo, muero com mi Patria e com mi espada en la mano”.
           
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5.5.2 Tenente de Cavalaria Antonio João Ribeiro


Estátua de Antônio João Ribeiro, herói da Guerra do Paraguai inaugurada em 18 de março de 1999 pelo então prefeito Dácio Queiroz (https://pt.wikipedia.org/ Antônio Joao Ribeiro)

Nascido em Poconé, Mato Grosso, em 24 de novembro de 1820 e morto gloriosamente na Colônia dos Dourados em defesa da Pátria e do solo sul mato-grossense em 29 de dezembro de 1864.





Militar, tenente de Cavalaria de Exército, símbolo do soldado mato-grossense.  É justamente considerado um herói para o  Exército Nacional.

Comandava a Colônia Militar dos Dourados, quando a Província foi invadida pelas tropas paraguaias, com apenas quinze companheiros, ofereceu a primeira resistência aos ataques, em número de 250, comandadas pelo Major Paraguaio Martín Urbieta.   Respondeu ao comandante militar que não se renderia, exceto por ordens superior.

Sem condição de defesa, foi morto.

O Governo brasileiro mandou  erigir na Praia Vermelha, um monumento comemorativo da sublime epopéia, falando por ocasião da inauguração, Sua Excia. Dom Aquino Corrêa, então Arcebispo de Cuiabá, em 15 de novembro de 1841.

Segundo narrativas históricas, Antonio João imortalizou-se na  mensagem dirigida ao Comandante da Colônia Militar de Miranda e ao Comandante do Distrito Militar de Nioaque, muito embora, segundo algumas crônicas, o mensageiro enviado por Antônio João foi apanhado pelas tropas do Coronel Resquín, sendo o mesmo feito prisioneiro e conduzido ao Paraguai.  Chegou  a ser prisioneiro ou não, não há registros, entretanto, a notícia da invasão chegou  rapidamente através da população que evadiram  os locais, dentre eles os colonos da própria Colônia.  A História eternizou a mensagem   seguinte:

“Sei que morro, mas que o meu sangue e dos meus companheiros servirão de protesto solene contra a invasão do solo da minha Pátria”. 

Sobre Antonio João, encontramos as seguintes narrativas:

“Mesmo54  sabendo do efetivo da Força inimiga, mesmo sabendo que a resistência era impossível, mesmo sabendo que não havia tempo para solicitar reforços, Antonio João, não titubeia.

Decide ainda Antonio João pela evacuação  da maioria dos civis que habitam a Colônia, era cerca de oito dezenas de cidadãos idosos que se dirigem para o Norte, em direção a Miranda.   Ao tenente Coronel José Antonio Dias e Silva, comandante do Distrito Militar de Miranda enviou um mensageiro com um bilhete escrito a lápis em pedaço de papel, bilhete que passaria à História com uma das mais sublimes frases já escritas por qualquer militar brasileiro.

Cada um dos soldados dispunha de uma espingarda e duas clavinas carregadas.  Dispôs os seus homens nos postos de combate e aguardou o ataque inimigo.

Ao alvorecer do dia 29, manda outro soldado a busca de  informações sobre o inimigo, que dele se desencontra.

Pouco depois se apresenta o invasor.  Antonio João recebe a intimação para render-se da parte do tenente de infantaria paraguaio Manuel Martinez, sub chefe de Urbieta que comandava o ataque à frente de mais de 200 homens.

Ativamente respondeu Antonio João que se o intimante lhe trouxesse ordem do Governo Imperial, se renderia, senão, não o faria de maneira alguma.

Ante a resposta, travou-se o embate desigual, a descarga de mais de duas centenas de boca de fogo, responde Antonio João com irrisório número de 13 espingardas.   Antonio João, dois soldados e mais dois bravos colonos caem mortos ante a fuzilaria inimiga.    Assevera o tenente coronel Jorge Maia, que também faleceram três mulheres que combatiam ao lado dos homens, vestidas como eles.  Os restantes recuaram para um bosque próximo, onde muitos são feitos prisioneiros, incluindo-se dois feridos”.
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5.5.3 José Francisco Lopes,  O Guia Lopes (55).

Nascido na Vila de Piumi, em Minas Gerais, o Benemérito Sertanista, que serviu à Pátria como sertanista e Guia à Expedição Militar Brasileira, que  invadiu o Norte da República do Paraguai em 1867.

http://guerradoparaguaimatogrossodosul.blogspot.com.br/2015/05/maio-mes-da-retirada-da-laguna-148-anos.html


Irmão de Joaquim Francisco e Gabriel Francisco Lopes, faleceu vítima de Cólera-morbo, imortalizado para a História por Visconde de Taunay no seu monumental livro, “Retirada da Laguna” e em 1953 como homenagem ao novo Município desmembrado de Nioaque, “Guia Lopes da Laguna”.

Na ocasião da invasão paraguaia José  Francisco  Lopes havia retirado da sua fazenda do Jardim com seu rebanho de gado para Miranda, sabendo da invasão dos Paraguaios e foi lá que acabou encontrando-se com as tropas brasileiras, segundo Taunay.

Já no caminho do Apa junto com a Coluna Camisão, escreve Taunay, “passavam-se os dias naquele ponto de Miranda e a 12 léguas do Apa e do Forte Paraguaio de Bela Vista.  ...começavam a aparecer indícios da aproximação do inimigo, principalmente  pelas queimadas que faziam do lado sul.

Os paraguaios, dizia-nos José Francisco Lopes:

__ “Estão dando sinal da nossa chegada e acrescentava rindo melancolicamente, não estão contentes, preferiam o tempo em que avançavam e os brasileiros recuavam e fugiam”.

Vivia lamentando, diz Taunay:

__ “Ah! Perros! Que terão feitos da minha desgraçada família, minha mulher e meus filhos?!”.

José Francisco Lopes fora aos poucos se tornando amigo de Taunay e da própria Tropa.  Dormia e comia com o Estado Maior.  Nas confidências, diz Taunay, era acusado por alguns pela morte de um parente próximo.  Sofria de insônia e passava horas da noite lamentando.

“O próprio forneceu parte das suas reses para alimentação da tropa.  Outra parte era enviada de Nioac pelo Intendente Lima e Silva”.

O título imortal de “Guia Lopes” é proveniente da sua participação junto às forças em operação no sul da Província de Mato Grosso, guiando a Coluna, principalmente, na Retirada da Laguna, até a sua fazenda Jardim, à margem direita do Miranda, atualmente no município de Guia Lopes da Laguna, Rodovia Guia Lopes à Bonito. Para conhecer mais sobre O Guia Lopes, ler o Livro, Guia Lopes da Laguna, Nossa História, Nossa Terra, Nossa Gente.

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5.5.4 Manoel Gonçalves Barbosa

            Manoel Gonçalves Barbosa, está para Nioaque assim como o rio de mesmo nome.  A cidade de Nioaque foi assentada em terras da Fazenda Ubumbeva de posse de Manoel.  O rio Nioaque foi o balizador natural, por ser afluente do Miranda que propiciou a navegação e a sinalização, originando o povoado.

A narrativa seguinte é baseada na Obra que trata da Genealogia dos Barbosas em Mato Grosso56 e aqui está posta, pois pode ser considerado que Manoel Gonçalves Barbosa, foi um dos colaboradores mais eminentes para a fundação da cidade de Nioaque.
           
            Manoel Brunswick Gonçalves Barbosa e a participação nas tropas brasileiras de  resistência a invasão paraguaia na região do Desbarrancado, atual município de Guia Lopes da Laguna. “...verdadeiramente não se falava em Guerra por estas bandas, violência pouco existia, todos queriam saber de trabalhar!   As fronteiras guaranis estavam desabitadas, vez ou outra apenas excursionam nosso território,  piquetes paraguaios querendo comprar muares ou cavalos, mas que no final pouco ou quase nada compravam.  Isso, entretanto, não causava inquietação à população do povoado, onde Manoel registrou um casal de filhos.

Treze anos se passaram, os campos do Urumbeva onde Manoel criara e enchera-se de gado, onde os consumidores eram a própria população.

Foi o souberam da invasão de um grande exército paraguaio, que entravam matando e saqueando sem dó e sem piedade.

O grande Inácio Gonçalves Barbosa, prevendo a invasão paraguaia nos seus domínios, convocou os seus filhos e entregou a chefia da família a seu  segundo varão e mato-grossense nato, Joaquim, que assinava Barbosa Marques, nome da sua mãe e  recomendou-lhes:  avisasse a Manoel que se achava no Urumbeva, para que defenda a Pátria e as nossas fazendas que tanto sacrifícios custaram e caso não possa ser feito, retire-se para os pantanais ou para os morros, juntamente com os seus amigos guaicurus, incutir patriotismo e combater até o fim, sobrevivam com inteligência, não podendo nada se fazer, retirem-se para retomar, quando tudo passar.

Cada um procurou salvaguardar o que se pode, geralmente fugindo para Cuiabá ou então para Leste57.

Foi  em Mato Grosso, manhã de 1º de janeiro de 1865, dia de sol, ligada por mal construídas pontes, estavam ambos às margens do rio Desbarrancado, ocupado por Forças desiguais em número e municiamento.

A esquerda completa abarrancava batalhões paraguaios do cauteloso Coronel Resquín.   À direita, aguardava ordens prontas à primeira voz, apreensivos com os cavalos encilhados, permaneciam os noventa e tantos milicianos, comandados pelo tenente coronel  Antonio José Dias.

Convidado a conferenciar com o invasor recuou o oficial brasileiro à rendição que lhe fora insistentemente proposta.   Rápido, inutilizou a ponte e perseguido por partilhas inimigas, começou tiroteando a meio galope, inevitável retirada que rumo norte lhe prometia e lhe proporcionou o aproveitamento dos poucos meios de defesa, que lhe estavam à mão, estrada salvadora, embora estreita.

Meia hora já durava o original combate, quando um dos retirantes, Manoel Gonçalves Barbosa, o cavalo baleado, afrouxou.   Dois ou três minutos bastaram para que apressados e empoeirados, ficassem a meia distância do retardatário combatente, os inimigos que avançavam e os companheiros que fugiam.

Horrível instante!   Veloz e impetuosa ocasião, não, porém, as cenas que se empilhavam decisiva todas de heroísmo.  O soldado não quer fugir e não pode avançar, perdido, completamente perdido, está calmo.

Manoel Barbosas, apea o cavalo que espantado, esconde-se tremulo em denso capão próximo, engatilha a arma capaz ainda de um  segundo tiro e bem aproveitado tiro, que já não fora o primeiro e a espera.

Manoel Barbosa, um só homem a espera de um exército, pontaria firme, derruba  o primeiro dos quatros assaltantes da vanguarda paraguaia, levanta a espada três vezes e desce ocultamente, ensangüentada, desmonta três adversários, cresce a carga, acorrem, avultam os inimigos, cercando-o não recua, esgrima.

Largo de uma polegada, um golpe lhe fende o crânio.  É lhe o fim da vida, começo da glória, morre sem gemido”.

Palavras de J.R. Sá de Carvalho, “Manoel Barbosa não é um caso isolado.  Tem linhagem nobre.  Dez registros de honra e dos fatos de valentia consta modelo de sua façanha, antecedentes da sua temeridade, observando e estudando em suas intenções, nas impressionantes circunstâncias, o feito militar de Manoel Barbosa reúne a impavidez à bravura e a coragem extrema ao   extremo valor”.

Neste episódio, em que  Nioaque e o povo sul mato-grossense ignoram, Manoel Gonçalves Barbosa, eminente brasileiro que soube morrer, para que o Brasil vivesse.  É lamentável que a História perdeu a Memória de tantos homens e mulheres simples, sertanejos, colonizadores, desbravadores, mas heróis do sertão, heróis sem medalha, minha homenagem e reverência.

Em Emilio Gonçalves Barbosa, extraímos as referências seguintes: os primeiros Barbosas Mato-grossenses foram filhos de Antonio,Inácio,  Francisca Maria, Francisco, João.  Manoel era filho de Inácio  e nasceu a 20 de fevereiro de 1835.  Ajudou se pai na fundação da Fazenda Passa Tempo com a idade de sete anos.  Aos dezessete anos de idade veio para a posse da Fazenda Urumbeva acompanhado do escravo Augusto, recebera do pai ainda um machado, uma foice, uma enxada, um cavalo encilhado, a margem do rio que emprestou nome a fazenda, afluente do Nioaque, dois quilômetros ao norte da cidade.

Na ocasião da notícia da invasão paraguaia, participou junto com as tropas de Dias da Silva e Pedro José Rufino58.

Manoel casou-se com uma índia Guaicuru, de nome Inês, no ano de 1835.  Em 1859 nasceu a primeira filha que recebeu o mesmo nome da mãe.   No dia  22 de maio de 1861, nascera o seu segundo filho, que fora batizado na Vila de Nioaque, que ele próprio ajudara a fundar e a levantar casas e o quartel, com o nome de Joaquim Calixto
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5.5.5 Inácio Gonçalves Barbosa

Inácio Gonçalves Barbosa, era filho de Antônio Gonçalves Barbosa, este morador da fazenda Boa Vista.   Inácio foi feito prisioneiro, na Fazenda Jardim60, onde morava a sua irmã Dona Senhorinha da Conceição Lopes Barbosa, esposa de José Francisco Lopes em segundas núpcias, pelo Capitão Martín Urbieta, em 1865, juntamente com outros brasileiros.   Escapou da prisão no Paraguai com outros brasileiros  e que se incorporaram a Coluna do coronel Camisão a 11 de Abril de 1867, no caminho do Apa.
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5.5.6 Coronel Pedro José Rufino

Pedro José Rufino, está aqui  posto, tendo em vista as suas raízes e descendência em Nioaque e região Sudoeste de Mato Grosso do Sul.  Como militar e cidadão, exerceu grande influência não só no episódio da Guerra do Paraguai, mas também no balizamento dos alicerces da fundação de Nioaque e povoamento da região.   Residiu em Nioaque por  muitos anos.
Uma das medalhas com passador de ouro recebidas por Pedro José Rufino das mãos da Sua Majestade Imperador do Brasil, Dom Pedro II, pela sua participação na Guerra do Paraguai.

As narrativas seguintes são trechos de transcrições e alguns documentos inéditos que fazem parte não apenas da história militar, mas da história de um povo.   Não vão longe os tempos da colonização e povoamento de Nioaque e Mato Grosso do Sul, onde as instituições Militares foram os balizadores e baluartes para o nascimento de muitas cidades, entre outras, Nioaque, Corumbá, Miranda, Bela Vista, Jardim.

Ao lado medalhas (61)  recebidas por Pedro José Rufino.




Por ocasião da comemoração do 57º aniversário da turma Laguna e Dourados (62), o General Eurico da Fonseca Moraes,  proferiu a seguinte oração cívica:

“... no ensejo do nome da nossa gloriosa turma, permitam-me dizer algo sobre a nossa epopéia de laguna e Dourados, exalto os feitos de um dos heróis dessa falange de bravos nessa jornada gloriosa nos campos do Paraguai e da então Província de Mato Grosso.

Desejo falar sobre a personalidade inconfundível do Tenente Coronel de Cavalaria Pedro José Rufino, comandante nº. 1 do Regimento Antonio João63, comandante número um, não porque era o primeiro a comanda-lo e organizá-lo, mas, sim por ter sido bravo entre os seus bravos, o maior entre os seus notáveis.   A sua vida, meus amigos, foi um rosário de atos de bravura, paradigmas de constância e valor, exemplo contínuo de todas as virtudes militares e civis.

Capitão do Corpo de Cavalaria de Mato Grosso e mais tarde comandante do Corpo de Caçadores a Cavalo.

Monumento em homenagem ao Coronel Pedro José Rufino, na Praça dos Heróis, em Nioaque – MS. Inaugurada no dia 19 Setembro de 2015, por ocasião da Marcha Cívica Cultural da Retirada da Laguna. Foto do autor. (Escultura de João Orcideney Xavier)

Reconhecendo-lhe mérito invulgar, o Governo Imperial conferiu-lhe em 1863 o hábito de São Bento de Avis.

No dia 30 de dezembro de 1864, abre-se meus amigos, de Nioac, em direção ao sul, a estrada espinhosa, que levará o Capitão de Cavalaria aos pícaros da glória.  Neste dia, Rufino,  sob as ordens do valoroso Dias e Silva, que comandava o Corpo de Cavalaria de Mato Grosso, desloca-se daquela localidade para a Colônia de Dourados, comandando a vanguarda do Corpo.   Duzentos Cavalarianos do Brasil sob o comando deste centauro marchavam resolutos, estóicos, contra 2500 homens de Resquín.   31 de dezembro batem-se violentamente no rio Feio, mas diante da inferioridade numérica, são obrigados a retirar-se para o Desbarrancado, ferindo-se ai, novo e encarniçado combate, onde brilham admiravelmente as lanças e  espadas da Cavalaria brasileira.   No dia 1º de janeiro de 1865, lindo presente de Ano Bom oferecido à Pátria pelo Corpo de Cavalaria, Rufino arriscou a vida para salvar o arquivo de sua unidade como que pressagiando  entregá-lo mais tarde à História.

A partir do Desbarrancado, resolve Dias e Silva exercer ação retardadora no eixo Nioac-Miranda e durante todo o trajeto, Rufino comandou a retaguarda e tão energicamente foi a sua ação, que só depois de dois dias, Nioac foi ocupada pelo inimigo.

Em Miranda, assume o comando do Corpo, já muito desfalcado e conduzem-no a Cuiabá.

Meus amigos, agora vai começar a história do Corpo de Caçadores a Cavalo.

Em 12 de abril de 1866, data gloriosa para nós Antonio João.  Nesse dia o Capitão Pedro José Rufino, organiza o  Primeiro Corpo de Caçadores a Cavalo, utilizando as  companhias  de cavalaria de Minas e São Paulo e o casco do Corpo de Cavalaria de Mato Grosso.   Destes caçadores a cavalo, foi Rufino além de organizador, o único que teve a suprema honra de comandá-lo na vanguarda, nos flancos e na retaguarda da Coluna Camisão durante a Epopéia da Laguna.

Para entrar no cenário de lutas, os Caçadores a Cavalo, reuniram-se a 1º de dezembro de 1866, em Miranda, ao Corpo de Expedicionários, que foi do Rio de Janeiro para Uberaba, Coxim e Miranda.

Aí, meus amigos, reinicia Rufino a marcha para o novo transpor dos umbrais da história, não mais a testa de seu antigo esquadrão, mas à frente do seu brioso Corpo de Caçadores, agora integrado a Coluna Camisão.

Atinge Nioac a 24 de janeiro de 1867 e chega a Machorra no dia 20 de abril.   Pedro Rufino transpõe o Apa e pisa em território do inimigo para atacar o Forte de Bela Vista, após receber a missão de com o 21º Batalhão de Infantaria de Thomaz Gonçalves, atacar um acampamento paraguaio, distante a seis quilômetros da Estância Laguna; neste dia com Pedro José Rufino, brilham também Dias Coelho, Celestino Bueno, Dias dos Santos e Lopes fragoso.  Resplandece os Caçadores a Cavalo.

Meus  Amigos!

Vendo Camisão sua Coluna atacada por todos os lados, e a impossibilidade de continuar para a Vila de Concepción, seu objetivo, resolve a 7 de maio iniciar no dia seguinte a  Retirada que ficou célebre no mundo inteiro.

Às sete horas do dia 8, lá estava Rufino, no posto da vanguarda, para bater-se durante todo o dia de Laguna às margens do rio  Apa-Mi.

Durante o dia 9 e 10, ele protege a Coluna no seu acampamento a margem esquerda do rio Apa, onde ainda fumegavam  os destroços do Forte de Bela Vista.  As dez hora da manhã de 11 de maio, depois de transpor novamente o Apa, a Coluna marchou rumo a Machorra, com Rufino cobrindo flanco  esquerdo, onde se empenhou valentemente.

Continuando a traçar rastros de sangue flagelados pela peste e pelo inimigo, a Coluna Camisão serpenteia rumo a fazenda Jardim, aonde vai descansar eternamente, Camisão, Juvêncio e Guia Lopes.   Durante o percurso, o bravo Rufino e o bizarro Piza Flores, Capitão de Voluntários, põe os paraguaios sempre a distancia.

As duas faces da Medalha  de Prata recebida do Imperador do Brasil, Dom Pedro II, pelos serviços prestados a Pátria Brasileira como oficial do exército, da Arma de  Cavalaria64.


Após transpor o Miranda, a Coluna, agora sob o comando de Thomaz Gonçalves, segue por Canindé até Nioac e, daí leva Rufino e seus  Caçadores à Cuiabá.

            Em 1º de fevereiro de 1871, é extinto o valoroso Caçadores a Cavalo e  com sua ossatura é organizado ainda sob o comando de Pedro José Rufino, o  Primeiro Corpo de Cavalaria.

Finda a Guerra do Paraguai, Rufino merece do Governo Imperial, pelos seus feitos, a condecoração de Constância e Valor, a medalha Geral da Campanha do Paraguai nº 3 com  passador de ouro.

Em 1874, é Rufino promovido a Major por merecimento e classificado em Goiás, mas não chega a partir por ter sido novamente transferido para o Primeiro Corpo de Cavalaria.

Em 1884 é transferido para Goiás, de onde um ano depois voltava já Tenente Coronel graduado para o seu inseparável Corpo de Cavalaria.   Promovido a Tenente Coronel, é classificado no 3º Regimento de Cavalaria Ligeira, reformando-se a 3 de fevereiro de 1888, com 49 anos de serviços efetivos e com 54 anos dobrados pela idade.

Hoje, os ossos do comandante nº. 1 do Regimento Antonio João repousam em pátio interno, onde são venerados.

Se Antônio João é o Regimento, a sua maior Gloria, Pedro José Rufino quase sua  história.”

Pedro José Rufino nasceu a 26 de abril de 1816, na então Freguesia do Monte, hoje no Estado da Bahia.   Assentou Praça voluntariamente a 21 de junho de 1841, com 25 anos de idade.

Faleceu em Cuiabá a 1º de Agosto de 1891.

Foi sua esposa Dona Ana Joaquina Rufino.   Entre os seus filhos destacamos Pio Rufino, Afonso Rufino, Ovídio Rufino, que residentes em Nioaque, desempenharam atividades políticas das mais variadas: Juiz de Paz, Intendente, Delegado, Vereador. Pedro José Rufino  foi também o sogro do Major Antonio Francisco Xavier, ler Capítulo XX.

Os restos mortais encontram-se no cemitério Municipal de Nioaque, inclusive o de Dona Ana Joaquina.

Pedro Rufino residiu em Nioaque por muitos anos, como então comandante do 7º Regimento de Cavalaria Ligeira.

Na seqüência, do episódio biográfico sobre Rufino, haverá a transcrição de algumas correspondências ao valoroso Rufino, que de Nioaque recebe homenagem póstuma através de uma rua que leva o seu nome e de um monumento que se encontra no pátio do 9º Grupo de Artilharia de Campanha, também em Nioaque.  As transcrições seguintes são extraídas do próprio original, concedidas pelo arquivo Público de Mato Grosso, através das pesquisas do autor.

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5.5.6.1 Algumas Correspondências Relativas a Pedro José Rufino (65)

¨      Documento número um – Pedido de licença

I          llmo. Sr. Doutor Presidente da Provincia

Pedro José Rufino, Tenente Coronel do 3º Regimento de Cavallaria Ligeira, vem mui respeitosamente impetrar de V. Exa. A graça de conceder-lhe trez meses de licença para tratar de sua saude no Districto de Miranda, onde reside sua familia.

N’este termos pede a V. Exa. Defferimento.

R. Mce.

Cuyabá, 9 de Fevereiro de 1889
                                  
Pedro José Rufino

Resposta:
“(concedo – Palacio da Presidencia da Provincia de Matto-Grosso, em Cuyabá, 12 de Fevereiro de 1889 – Souza-Bandeira)”
                                     


¨      Documento número dois –
Participação no manifesto de apoio e adesão Proclamação da República

Para conhecer este documento, ver documentos Republicanos no Capítulo XII.

¨      Documento  número três – Pedido de auxilio feito por Anna Joaquina Rufino, esposa de Pedro José Rufino.

 Commando interino do 7º Districto Militar

Quartel em Corumbá, 22 de fevereiro de 1892


Nº 145  Ao Cidadão Coronel Luiz Benedicto Pereira Leite
            Governador do Estado de Matto-Grosso

           
De novo faço chegar ás vossas mãos o incluso requerimento de Dona Anna Joaquina Rufino, visto que pela repartição da Guerra, não póde ser satisfeita sua pretenção que, sendo graciosa, fica exclusivamente sob a alçada de Vossa authoridade.


Saude e fraternidade

O Coronel João da Silva Barbosa.


Emminente Cidadão Governador d’este Estado

Diz Dona Anna Joaquina Rufino, que havendo fallecido na Capital d’este Estado o seu marido e Coronel Reformado do Exército, Pedro José Rufino, a  1º de agosto do anno proximo findo, vem respeitozamente impetrar a vóz passagem, para si, quatro filhos e um criado, pela linha fluvial do Porto de Miranda ao dessa Capital afim da supplicante tratar não só de coizas inherente ao  seu finado marido, como da educação dos filhos sob sua guarda e sendo dispendioza essa viagem espera que vóz coadjuvara baseado na justiça que caracterizão vossos actos e,

E.R. Mce.

Villa de Levergeria (Nioaque), 6 de Janeiro de 1892

Anna Joaquina Rufino

Fotografia (66)  do mausoléu da Família Rufino no Cemitério Municipal de Nioaque.  Sendo a primeira a ser sepultada foi a esposa do Tenente Coronel Pedro José Rufino, a Senhora Anna Joaquina Rufino, cujas as iniciais das letras  A. J. R. estão gravadas.




Resposta:

“(Não competindo a este Governo a concessão da passagem requerida pela supplicante, mas sim ao Ministerio da Guerra, como viúva que é, de um Coronel de Exercito, dirija-se ao mesmo Ministerio, uma vez que o transporte pedido não póde ser  mandado das por conta do Estado, attenta a exiguidade de seus recursos, Palácio do Governo do Estado, em Cuyabá.   3 de março de 1892 – Leite)”


5.5.7 Dona  Maria Senhorinha da Conceição Barbosa Lopes
(Esposa de José Francisco Lopes)  

            Para Conhecer quem foi a Dona Senhorinha, ler o Livro Guia Lopes da Laguna, Nossa Terra, Nossa Gente,Nossa História, volume 1, autor José Vicente Dalmolin.

5.5.8 Antonio Francisco Xavier
         Para conhecer este militar e que deixou suas raízes em Nioaque, ler o Capítulo XX.

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5.6 TRAMITAÇÃO DE UMA ESCRITURA DE TERRA – 1863- 1894



O documento seguinte, inédito, “prato cheio” de informações para os estudiosos da História, dos tempos  de 1863 a 1894, entre outras informações que poderão ser  degustada estão:

·         Construção  estilística e ortográfica da Língua Portuguesa;
·         A presença militar na atividade pública;
·         Papel das Câmaras Municipais e Intendências;
·         Testemunhas da Guerra Paraguai;
·         Tratados e limites entre o Império do Brasil e a República do Paraguai;
·         A fronteira entre Mato Grosso e o Paraguai nesta época;
·         A situação do Rio Apa e Rio Estrela;
·         Até a o final da Guerra do Paraguai, o rio Apa era conhecido por Estrela e o Estrela por Apa.
·         A mudança entre os nomes dos rios ocorreu, sendo que o volume de águas do então Estrela era maior do que o Apa;
·         Até o final da Guerra as terras entre os rios Apa e Estrela pertenceram ao Paraguai, sendo de propriedade da Família López, especificamente de Dona Raphaela López, irmão do Marechal Francisco López.
·         Uma das conseqüências da Guerra foi o extravio dos documentos das propriedades das terras;
·         Uma batalha na justiça brasileira para se provar a propriedade e posse das terras entre os rios Apa e Estrela;
·         Situações de Guerra.
·         Tramite dos documentos: Nioaque, Bela Vista, Miranda, Corumbá e Cuiabá;
·         Território hoje localizado na fronteira entre Bela Vista (Brasil) e Bella Vista (Paraguai), mas que até 1908 foram parte do Município de Nioaque;
·         Cidadão Brasileiro casado com a irmã de Francisco Solano López.
Entretanto, uma outra versão é dada a história deste documento pelo italiano que esteve radicado em Nioaque e região, Miguel Ângelo Palermo, que chegou a escrever um Livro, publicado em 1913, em Concepcion, Paraguay, que segundo ele estas terras pertenciam a Dona Senhorinha Maria da Conceição Barbosa de Lopes, esposa de Gabriel Francisco Lopes em primeira nupcia e de José Francisco Lopes, o Guia Lopes, em um segundo casamento, após a viuvez, que vale conhecer alguns trechos:

“Com esta justificação67   transparente de falsidades, insuflamento claro e loucura, verddeira loucura de apossar o alheio, justificando a revelia da proprietaria  que possuia essas terras há 42 annos, com titulos  legitimos, procurando mistificar para fazer surgir confusão entre a familia  Lopes, brazileira, em cujo numero está um benemerito da patria, coronel José Lopes68  e a familia Lopes paraguaya, que tanto damno causou a patria e em cujo numero está  D. Raphela Lopes de Bedoia, casada em primeiras núpcias em 1862 com D. Saturnino Bedoia, Thesoureiro da Republica do Paraguay, fuzilado no Forte de Humaytá em 1868, segundo affirma o General Resquin em sua obra publicada logo após a guerra, -  e casada em segundas núpcias com o justificante Dr. Pedra.

Qual o valor moral e jurídico dessa justificação?  O leitor não pode obscurecer, e se quizer vel-o mais claro, procure a publicação da Resolução Imperial dando ordem ao Presidente da Provincia  de Matto-Grosso, para fazel-a chegar ao conhecimento dos interessados, pouco tempo após a mesma justificação, e pela qual se davam em propriedde a D. Raphaela Lopes, irmã, mulher e filhos do benemérito e saudoso Coronel  José Lopes,morot na  Guerra do Paraguay, os terrenos devolutos que existissem á margem direita do rio Apa, na zona de dez léguas da fronteira do Paraguay e descipta  entre limites naturaes, do marco de Amambahy uma recta á cabeceira do rio Miranda; Poe este abaixo até a foz do rio da prata, por este acima até a sua mais alta cabeceira; dahi uma recta ao rio Perdido; por este abaixo até a sua foz no rio Apa, abaixo S. Carlos; pelo Apa acima até a Serra de Maracaju e marco de partida d sua cabeceira, fazendo tão somente exclosão ds propriedades  adquiridas pela Lei nº 601 de 1850 e sua regulamentação de 1854 n. 1318, as quaes porventura existissem nessa zona, como também as colônias existentes e as demarcdas.  Tudo isso em recompensa aos grandes prejuizos  soffridos por occasião da guera com o Paraguay e aos relevantes serviços prestados á patria pelo referido Coronel José Lopes.

Assim é que ficou fulminada a tal justificação Pedra, marcando mais um acto de plena justiça nos annaes do velho regime imperial, ficando a fazenda do Apa, garantida, ampliada e posta fora do alcance dos usurpadores, que procuravam fazer desaparecer o direito da família Lopes, Brasileira, que a força de tantos dissabores e provações, antes da guerra e durante ella, tudo tinha sacrificado.”

Ano de posse 186369 - Quando pertencia ao território Paraguaio.
Ano de requerimento 1886 – Miranda.
Ano de registro 1893 – Nioaque.

Requerentes da Posse:
Milciades Augusto de Azevedo Pedra
Dona Albertina Rego de  Azevedo Pedra (esposa em Segundas núpcias)
            Dona Raphaela López70 de Pedra (esposa em primeiras núpcias)

Anno  de mil oitocentos e oitenta e seis, juizo dos feitos da Fazenda da Provincia de Matto-Grosso.

Justificação:


Documento registrado na Intendência71  Municipal de Nioaque,onde um cidadão brasileiro requer o direito de posse e propriedade de terras que pertenceram a sua esposa Rafaela López, que até o ano de 1870 pertenceram ao território paraguaio e que  com os Tratados de limites entre o Brasil e o Paraguai, passaram a pertencer ao território Brasileiro, hoje sul mato-grossense.

5.6.1 Registro em Nioaque
Anno de 1893

Illustre Cidadão Intendente Geral do Municipio de Nioac

Milciades Augusto de Azevedo Pedra por si e sua mulher Dona Albertina Rego de  Azevedo Pedra, com quem se casara em Segunda nupcia no dia dez de dezembro do ano passado (1892), na Capital Federal, residente em sua fasenda de criação de gado vaccum e cavallos e cultura, denominada “São Raphaela da Estrella”, n’este Municipio, situada entre os rios Apa e Estrella, na fronteira d’este Estado de Matto-Grosso com a Republica do Paraguay, da qual são proprietarios por compra legal que da dita fasenda fisera a primeira esposa do supplicante Dona Raphaela López de Pedra, no anno de mil oitocentos e secenta e tres  ao Governo da  Republica do Paraguay, que da zona onde estão comprehendidas as terras da dita fasenda e outras estava de posse e n’ellas  exercia todos os direitos de soberania nacional, como tudo prova, o supplicante com o titullo de propriedade que acompanha este requerimento vem dal-a a registro na forma interpretativa do artigo nono da ley Estadoal de nove de novembro de mil oitocentos e noventa e dois e artigo cento e catorse,  paragrapho terceiro do seu respectivo regulamento, combinados com o artigo terceiro, paragrapho segundo da ley de desoito de setembro de mil oitocentos e cinquenta e do artigo vinte e dois do Regulamento d’esta, para que no respectivo  livro de que trata a ley Estadoal  moderna e seu regulamento, seja transcripto devolvendo-se tudo para  o supplicante para obter da repartição competente o titullo definitivo.

As terras da fasenda do supplicante e sua mulher tem os limites constantes do titullo apresentado e o mappa n’elle incerto: são os seus  pontos confinantes pelo lado Norte Dona Senhorinha da Conceição, viuva de Gabriel Lopes e herdeiros d’este, os sucessores de Francisco Loureiro de Almeida e João Rodrigues de Sampaio, cujas posses de terras vão  morrer no rio Estrella, antigamente conhecido por Apa.   Pelo lado Sul, confina a fasenda do supplicante com o rio Apa, antigamente conhecido por Estrella.  Limites definitivos entre a Republica do Paraguay e este Estado. Pelo  lado de Este, confina a fasenda do supplicante em uma pequena parte com o posseiro Manoel Francisco Gonsalves Barbosa     e o Fisco tem o supplicante em sua fasenda criação de gado vaccum e cavallos em grande escala, curaes, casa coberta de telhas, engenho de assucar, alambique, potreiro e apartador, isto a largos annos sem outra interrupção, mais que a Guerra que sustentou o Brasil com o Tyrano Presidente da Republica do Paraguay.

Pede defferimento na forma da Ley.

Villa de Nioac, vinte e tres de Dezembro de mil oitocentos e noventa e tres.

Melciades Augusto Azevedo Pedra.

Numero cento e cinco
Réis – tresentos réis -  pagou tresentos  réis de sellos de verba,

Nioac vinte e tres de Dezembro de mil oitocentos e noventa e tres.

P. J. Almeida.

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Anno de 1894

Registre-se o presente documento no livro numero um por estar de accordo com o §º do artigo cento e catorse do regulamento numero  trinta e oito de quinse de fevereiro de mil oitocentos e noventa e tres, combinado com o paragrapho sendo do artigo segundo da Ley Estadoal numero vinte.

Nioac, oito de Janeiro de mil oitocentos e noventa e quatro.

Fonseca e Moraes.

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5.6.2 Requerimento da Possa no Pós Guerra – Miranda
            Câmara Municipal da Vila de Miranda

Anno de 1886

Mil oitocentos e oitenta e seis.
Juizo dos Feitos da Fazenda da Provincia de Matto-Grosso.

Justificação:

Justificante:
Dr. Milciades Augusto de Azevedo Pedra e sua Mulher
Dona Raphaela López - Justificada.

Fazenda Nacional por seu Procurador  Fisco Interino –
Tenente José Estevão Corrêa. 
Escrivão J. J. Carvalho.

Anno do Nascimento  de Nosso Senhor Jesus Christo de mil oitocentos e oitenta e seis, nesta cidade de Cuyabá, aos vinte e um de  Agosto do dito anno, antero a petição despachada e documentos que se referem e são os que adiante se seguem; do que para constar fis este termo:

Illustrisimo Senhor Dr. Juiz dos Feitos da Fazenda

Milciades Augusto de Azevedo Pedra e sua mulher Dona Raphaela López, com citação do Senhor Procurador Fiscal dos Feitos da Fazenda Geral, querem por este juiso justificar o seguinte:

Primeiro -  

Que são donos dos terrenos comprehendidos entre os rios Apa e Estrella, no Municipio  da Villa de Miranda, na fronteira com a Republica do Paraguay, d’esde o ponto que elles se juntão, rios acima até um serro colocado mais ou menos em  meio d’elles conhecido e denominado de  Serro Primeiro, que serviu de marco natural; por compra de taes terrenos fes a esposa do supplicante em  Janeiro de mil oitocentos e secenta e tres do governo da Republica do Paraguay – a qual os supplicantes provão com documentos de numero um a tres, esteve na posse do terreno d’esde tempos imemoriais até a conclusão da Guerra  que o Brasil sustentou  contra elles, quando em razão dos tratados de limites, passarão a fazer parte do territorio do Imperio n’aquella Commarca  fronteira:

Segundo -  
Que a esposa do supplicante possuia aquelles terrenos comprados sem oposição de authoridade alguma do Brasil, tendo alli criação de gado vaccum em larga escalla;

Terceiro -  

Que os titullos  creditorios da compra dos ditos terrenos a esposa do supplicante perdera na passada Guerra do Paraguay, desaparecendo também, do Archivo Nacional d’aquella Republica o original, pois até aquelle quasi todo foi-se tudo na coragem da Guerra que é da História, tudo se destruio n’aquelle desgraçado Paiz.  O mappa que os supplicantes juntão, ainda que imperfeito, da uma ideia aproximada do terreno comprado e objecto d’esta justificação, para maior ascendencia de prova, os supplicantes apontão os documentos que juntão de numero um a seis, oferece as testemunhas: Juan Lion Benitez, de presente actualmente n’esta Capital e de  nacionalidade Paraguaya; e os capitães de Exercito: Geographo de Castro e Silva, Heliodoro Joaquim de Oliveira e Antonio Tupy Ferreira Caldas, dos Corpos de Linha d’esta Capital, numero vinte e um e oitavo; Alferes Luiz Zeferino Moreira,  também do Batalhão numero vinte e um e o official honorario do exercito brasileiro José Martins de Figueiredo, tambem residente n’esta Capital que prestarão suas declarações a hora e dia que V.Sª  se designe marcar.

Os supplicantes jurão ser verdade o que allegão e pede a V. Sª defferimento.

Espera R. a Mercê

Cuyabá vinte de Agosto de mil oitocentos e oitenta e seis

Milciades Augusto de Azevedo Pedra
Raphaela López de Pedra.

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Estava uma estampilha devidamente inutilizada
A justifique-se dia e hora que o escrivão designar com a assistencia do Senr. Proocurador  Fiscal.
Cuyabá vinte e um de Agosto de mil oitocentos e oitenta e seis. – R. de Moraes.

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Anno de 1885

Illustrissimo senhor Presidente e mais  membros da Camara Municipal da Villa de Miranda.

Milciades Augusto de Azevedo Pedra,  vem requerer, attenta a verdade historica dos factos anteriores e posteriores á  Guerra que nosso paiz sustentou contra a Republica do Paraguay até vencêlla como vencê-o pela  pujança de seos Exercitos se dignem attestar-lhe:

Primeiro –

Si antes da dita Guerra as authoridades que civis ou commerciaes, criminaes ou administrativas d’esta Provincia   e d’esta Comarca exercerão actos de Jurisdição do territorio comprehendido entre os rios  até então conhecidos por Apa e Estrella.

Segundo –

 Si ao contrario foi sempre aquella Republica quem na posse e de posse d’aquelle territorio exerceo n’elle todos os actos  de jurisdição e soberania deixando de n’elle sómente pratical-os por força e em virtude dos tratados definitivos de Páz com o Brasil e não aquella Republica pertencesse aquellas terras por ser o rio Apa não até então conhecido por este nome e sim por outro, Estrella.

Terceiro –

 Se a illustrissima Camara consta por qualquer fórma que parte d’aquellas terras, compreendidas por Apa e Estrella d’esde a sua confluencia até um ponto acima denominado em Lingua Espanhola de Siero Primeiro, fora vendido pelo Governo da Republica do Paraguay a Dona Raphaela López, irmã do finado Marechal, ex-Presidente da mesma Republica, com a qual o supplicante contraio matrimonio por carta de ametade  logo apos a Guerra.

N’estes termos o supplicante P. a Illustrissima Camara Municipal se digne attestar na fórma requerida, por ser assim a direito e justiça.
E. R. Mercê

Milciades Augusto de Azevedo Pedra.

Estava duas estampilha de dusentos réis devidamente inutilizadas.

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Anno de 1885

Villa de Miranda catorse de Novembro de mil oitocentos e oitenta e cinco.

Camara Municipal da Villa de Miranda, attesta que em vista do pedido na petição retro, resolve em secção ordinaria de  hoje, o seguinte:

Primeiro  -  Nenhuma authoridade da Provincia quer civil, militar, administrativa exerceo acto algum de jurisdição no territorio comprehendido entre os rios Apa e Estrella, assim conhecidos até a terminação da guerra entre o Brasil e a Republica do Paraguay.

Segundo         -   Sim foi sempre a Republica do Paraguay que esteve de posse d’aquellas terras exercendo n’ellas actos de jurisdição e soberania, passando esta em rasão do maior volume das agôas do rio e não o Estrella, limitando convenio entre o Brasil e a Republica do Paraguay.

Terceiro           -    Constam pela fórma publica que a esposa do supplicante Dona Raphaela López antes da Guerra adquirio em propriedade por compra feita ao Governo Paraguayo terrenos a que se refere o supplicante, que d’elles estiveram de posse e na posse antes da Guerra e durante ella.

Paço da Camara Municipal da Villa de Miranda

Desenove de Novembro de mil oitocentos e oitenta e cinco.

Luiz da Costa Leite Falcão – Presidente
Joaquim da Costa Pereira  - Vice  Presidente
Luiz Generoso da Silva Albuquerque
Luiz José da Costa e Arruda.

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Anno de 1886

Illustrissimo Senhor Secretario da Camara Municipal

O Dr. Milciades Augusto de Azevedo Pedra, precisa abem do seu direito que V. Sª revendo o livro de informações das terras lhe dê por certidão thêor da informação dada no requerimento de Decleosiano Augusto Ferreira em que pede ao Governo Imperial concessão gratuita de um lote de terras entre as margens direita do rio Estrella e a esquerda do rio Apa pertencente a este Municipio.

Pelo que E. R. Mercê.
Miranda trese de maio de mil oitocentos e oitenta e seis.

Milciades Augusto de Azevedo Pedra.

Estava devidamente sellado com sellos de verba.

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Resposta, apresentada pelo Secretário da Câmara Municipal de Miranda, Caetano da Silva Albuquerque, neste documento, confirma que após o tratado de limites de 1870, Império do Brasil e a República do  Paraguai, entre as fronteira de Mato Grosso do Sul (Estado atual) e o Paraguai os fatos seguintes:

·         Rio Apa tinha a denominação de Estrela
·         Rio Estrela possuia a denominação de Apa.
·         Até o período da Guerra do Paraguai 1879, os limites entre Brasil e Paraguai era tido através do rio Estrela, até então Apa.
·         Após o período da Guerra, 1870, o limite entre os dois países passou a ser através do rio Apa (Bela Vista, Brasil e Bella Vista, Paraguai).
·         As terras compreendidas entre os dois rios, até a Guerra, pertenceram ao Paraguai e que atualmente, são brasileiras.

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Caetano da Silva Albuquerque, Secretario da Camara Municipal da Villa de Miranda e seo  Municipio na fórma da Ley.

Certifico que revendo o Livro de correspondencia official das informações do Governo n’elle afls. Noventa e quatro verso e noventa e cinco, encontrei o pedido de que fás menção a petição retro thêor seguinte:

Illustrissimo Exmo. Snr.
A Camara Municipal de Miranda


Acusa recebido o officio de V. Exª. sob o numero cento e cinco de desesseis de novembro do anno proximo findo em que manda que esta Camara informe com o que lhe occorer sobre o requerimento de Decleosiano Augusto Ferreira que pede ao governo Imperial a concessão gratuita de um lote de terras devolutas de uma légua de frente e duas de fundo entre a margem direita do rio Estrella e a esquerda do rio Apa pertencente a este Municipio.

Esta mesma Camara tem honra de informar a V. Exª. que as terras solicitadas pelo supplicante são de propriedade particular, pertencentes  ellas ao Dr. Milciades Augusto de Azevedo Pedra e a sua mulher Dona Raphaela López de Pedra, quando solteira as comprara  do Governo da Republica do Paraguay, que n’ellas exercia dominio e posse e outros direitos de soberania nacional até que finda a Guerra que o Brasil sustentou contra aquella Republica, passarão ellas a fazer parte das terras d’este municipio pelos tratados de limites.

A Camara Municipal entende que apesar d’estes tratados não provão o direito dos particulares e é da publica notoridade n’esta Villa e seo termo a compra de que estas terras fes Dona Raphaela López do Governo do seo irmão Marechal López antes da Guerra.

Estas terras passaram a pertencer ao Brasil por se ter reconhecido na occasião da demarcação de limites entre Brasil e a Republica do Paraguay, ser até então o rio conhecido por Apa o Estrella e o Estrella até então conhecido por Apa
 É o que consta a esta Camara informar a V. Exª ou ao Governo Imperial que resolverá como entender em sua alta sabedoria.

Deus guarde V. Exª.

Paço da Camara Municipal da Villa de Miranda, des de Abril de mil oitocentos e oitenta e seis.

Illustrissimo Exmº. Snr. Dr. Joaquim Galdino Pimental
Muito Digno Presidente da Provincia

Assignados:
Tiberio Augusto d’Arruda – Presidente
Luiz Genº. Da Silva Albuquerque – Vice-Presidente
Miguel João de Castro
Joaquim da Costa Pereira.

Era o que continha em o dito livro as correspondencias officiaes de onde e bem extrahi a informação dada no requerimento de Decleosiano Augusto Ferreira e ao proprio livro me reporto e dou fé.

Miranda des de Maio de mil oitocentos e oitenta e seis.

Secretario –
 Caetano da Silva Junior

Numero 226 – R$ 200 – pagou dusentos réis de sellos por verba,
Collectoria de Miranda 12 de Maio de mil oitocentos e  oitenta e seis.

O Collector –
Manoel Ignácio da Cunha.

Reconheço a  letra e firmo a certidão ser do proprio punho do Secretario da Camara Municipal Caetano da Silva Albuquerque, por d’ella ter pleno conhecimento de que dou fé.

Miranda desoito de Junho de mil oitocentos e oitenta e seis.

Tabellião  Interino –
Catidio Pompeo de Camargo.

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5.6.3        Requerimento de Posse
Destacamento Militar de Bela Vista

Anno de 1885

Correspondência expedida para o Comandante do Destacamento Militar de Bela Vista, Brasil, para obter as mesmas informações semelhantes as  solicitadas a Camara Municipal de Miranda pelo requerente Milciades Augusto de Azevedo Pedra72.

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Ilmo Snr. Alferes Luiz Zeferino Moreira
Commandante do  Destacamento de Bella Vista

Milciades Augusto de Azevedo Pedra, cidadão casado com Dona Raphaela López de Pedra, residente na Villa de Miranda, abem do seo direito precisa que V. Sª lhe atteste:

Primeiro:

 Si sabe e lhe consta que o territorio comprehendido entre os rios Apa e Estrella, esteve sob dominio e posse do Governo da Republica do Paraguay antes da Guerra e durante a Guerra que sustentou contra o Brasil, ficando elle ao Brasil pertencendo só apóz dos tratados de Páz e limittes entre o Brasil e aquella Republica.

Segundo:

Si sabe e lhe consta  que a esposa do supplicante antes da Guerra comprara d’aquella Republica parte d’aquellas terras a começar da confluencia d’aquelles rios que da parte comprada estivera de posse com a criação de gado vaccum.

Terceiro:

 Si é verdade que V. Exª em respeito ao direito da esposa do supplicante, tambem se os ditos terrenos tem negado conceder em propriedade ou posse partes delles aos que solicitão, tendo alliáz autorisação para fasel-a de termos devolutos.

O Supplicante,
E. R. Mercê.

Villa de Miranda dose de Novembro de mil oitocentos e oitenta e cinco.

Milciades Augusto de Azevedo Pedra.

Estava duas estampilhas de dusentos réis devidamente inutilizadas.

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As respostas do Comandante Militar de Bela Vista, o Alferes Luiz, apenas confirmam as respostas já dada pela Câmara Municipal de Miranda, que as terras entre os rios Apa e Estrela, pertenceram ao território paraguaio até o término da Guerra.

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Satisfasendo o pedido constante do presente requerimento attesto sob a fé de minha patente o seguinte:

Primeiro:         -  Que os territorios compreendidos entre os rios Apa e Estrella só ficou pertencendo definitivamente ao Brasil depois dos tratados de Páz e Limites com a Republica do Paraguai, que alliáz. D’elles sempre esteve de posse, antes da Guerra que sustentou contra ella.

Segundo:        -   Que sei e que me consta pela forma publica que a esposa do suppicante Exmª Dona Raphaela López, irmã do finado López, comprara do Governo da Republica do Paraguay parte dos terrenos comprehendidos entre os rios Apa e Estrella, começar da confluencia d’estes dous rios, mais que estou bem informado e é verdade que a esposa do supplicante antes da Guerra estivera de posse das ditas terras de sua propriedade tendo ella criação de gado vaccum.

Terceiro:          -  Ser verdade que como Commandante do Destacamento de Bella Vista, respeitando os direitos do supplicante e de sua esposa aos ditos terrenos pelo motivo acima ditos evitei sempre  concederem propriedades ou posse parte d’elles aos individuos que  as pretendião, supondo serem terras devolutas ou do Estado.

Villa de Miranda dose de Novembro de mil oitocentos e oitenta e cinco.

Alferes Luiz Zeferino Moreira
Commandante do Destacamento de Bella Vista.
Reconheço verdadeiramente a firma supra do Alferes Luiz Zeferino Moreira, por  ter d’ella  conhecimento do que dou fé.

Cuyabá vinte e um de Agosto de mil oitocentos e oitenta e seis

Segundo Tabellião
 Manoel José Moreira da Silva.

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5.6.5 Requerimento de Posse
            Freguesia de Levergeria - Nioaque           

Anno de 1885

Os três documentos a seguir, sendo um expedido da Freguesia73 de  Levergeria, do italiano, radicado em Nioaque, Vicente Anastacio, são petições de pessoas interessadas  em comprar ou arrendar as terras compreendidas entre os rios Apa e Estrela, reforçam a prova de que estas as terras  foram paraguaias até a assinatura do tratado de paz e limites com o Paraguai na fronteira entre o Brasil e o Paraguai, cercanias do Município de Bela Vista, Mato Grosso do Sul.

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Ilmo. Snr. Dr. Milciades Augusto de Azevedo Pedra
Corumbá dez de Novembro de mil oitocentos e oitenta e cinco

Estimado Senhor

Fasendo dez a dose annos que eu sabendo positivamente que a Exmª. Senhora Dona Raphaela López com quem V. Sª se cazou logo depois da  guerra do Paraguay, essa dona dos campos comprehendidos entre os rios Apa e Estrella d’esde a sua confluencia até mais acima por compra que sua Senhora havia feito d’elles ao Governo do Paraguay e durante em sua direcção como é publico e notorio no Paraguay e na nossa fronteira com esta Republica, escrevi a  V. Exª. pedindo-lhe que me arrendasse ou consentisse que alli me  estabelecesse com criação de gado e mais animaes.

Não sei se V. Sª. recebeo ou não a minha carta, sendo certo de que  d’ella  não tive resposta.  Agora que V. Sª. se acha  n’esta cidade vou fazer-lhe o mesmo pedido sob as condições que V. Sª. achar convenientes equitativos, tendo em consideração que no começo de meo estabelecimento n’aquelle logar pouco poderei pagar por que pouco será os lucros, pois que esta minha proposta também está em seo interesse.

Sem outro motivo me é grato assignar-me de V. Sª. Att.

Capitão Manoel de Castro Pinheiro.

Reconheço verdadeiramente letra e firmo do Capitão Manoel de Castro Pinheiro, pelo pleno conhecimento que d’ella tenho.  O referido é verdade e dou  fé.

Corumbá vinte e seis de novembro de mil oitocentos e oitenta e cinco.

Tabelião –
Manoel Feliciano Pereira.

Estava uma estampilha de dusentos réis devidamente inutilizados. 

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Anno de 1886

Illustrissimo Senhor Dr. Milciades Augusto de Azevedo Pedra.

Sendo V. Sª. proprietario das terras comprehendidas entre os rios Apa e Estrella d’esde a fóz até o Serro Primeiro na divisa d’esta Provincia com o Paraguay, por ser V. Sª. casado com a Exmª. Senhora Dona Raphaela López que antes da Guerra como é notorio tenho plena certeza comprarão do Governo do Paraguay a quem antes da demarcação de limites  pertencião, aonde tiverão grande numero de gado de crear, visto até ainda hoje existir vestigios de gado bravos.   Venho propor a V. Sª. arrendamento ou compra das referidas terras visto tencionar estabelecer-me com creação de gado, aguardando a resposta de V. Sª.   Subscrevo-me com estima e alta consideração.

De V. Sª. Att.Crº Muito Obrigado.

João Rodrigues de Sampaio.

Miranda trese de Maio de mil oitocentos e oitenta e seis.

Nº. 326 – R$ 200 – pagou dusentos réis de sellos.

Collectoria de Miranda, desoito de Junho de mil oitocentos e oitenta e seis.

Collector –
 Cunha

Reconheço a  letra e  firmo do proprio punho de João Rodrigues de Sampaio por ter d’ella pleno conhecimento e dou fé.

Miranda desoito de Junho de mil oitocentos e oitenta e seis.

O Tabellião Interino –
 Cantidio Pompeo de Camargo.

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Anno de 1886

Nioac oito de Maio de Mil oitocentos e oitenta e seis

Illustrissimo Senhor Dr. Milciades Augusto de Azevedo Pedra
Miranda – Illustrissimo Senhor

Sabendo que V. Sª. pretende dispor das terras denominadas Pontal do Estrella de propriedade de V. Sª. , pede não por muito elevado e convido-le desejo compral-as.  Conversarei a este respeito com o Senhor Jacintho Moreira, o qual lhe explicará as condições e V. Sª.  na primeira opportunidade  me  fará  o favor communicar-me o minimo preço que por ellas pede.

De V. Sª. Attº Nºs.
Criado de Vicente Anastacio

Nº. 327 – R$ 200 – pagou dusentos  réis de sellos.

Collectoria de Miranda desoito de Junho de mil oitocentos e oitenta e seis.

O Collector – Cunha.

Reconheço a  firma ser do  proprio  punho de Vicente Anastacio por ter d’ella pleno conhecimento, do que dou fé.

Miranda desoito de Junho de mil oitocentos e oitenta e seis

Tabellião
 Cantidio Pompeo Camargo.

Acompanhava a justificação de um mappa descripto das terras da  fasenda Estrella.

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5.6.6        Requerimento de Posse - Cuiabá
Depoimento de Testemunhas

Anno de 1886
Os depoimentos das testemunhas nos textos descritos a seguir, são de uma riqueza histórica bastante significativa dentro do contexto    que envolve o tema da Guerra do Paraguai.  Os depoimentos de militares  brasileiros que participaram como combatentes na Guerra, entre eles, na expedição comandada  pelo Coronel Camisão, apresentam  detalhes da situação da Guerra, de famílias paraguaias, e  da própria família do Marechal  Francisco López.

Depoimento das Testemunhas:

Certifico ter notificado as testemunhas,  paraguayo Juan Leon Benitez, Capitão Geographo de Castro e Silva, Heliodoro  Joaquim de Oliveira, Antonio Tupy Ferreira Caldas, Alferes Zeferino, digo, Luiz Zeferino Moreira e José Martins de Figueiredo para deporem sobre a justificação de fll. Dois e as partes Dr. Milciades Augusto de Azevedo Pedra e sua mulher Dona Raphaela López e o  Procurador Fiscal Interino José Estevão Corrêa para assistirem ao acto que bem sciente ficarão e dou  fé.

Cuyabá vinte e seis de Agosto de mil oitocentos e  oitenta  e  seis. 

O Escrivão José Jacintho de Carvalho, assentada aos vinte e sete de agosto do dito anno n’esta cidade de Cuyabá em casa de residencia Mmo. Juis dos Feitos da Fasenda Interino – Tenente-Coronel André Gandie Nunes, onde eu escrivão de seo cargo me achava ahi presentes o mesmo juis e o Dr. Milciades Augusto de Azevedo Pedra, o solicitador da fasenda Geral Mariano Trajano da Silva Juruema, pelo mesmo juis forão inquerida as testemunhas desta assentado que fes este termo.

Eu José Jacintho de Carvalho –
Escrivão que escrevi.

Primeira Testemunha:             Geographo de Castro e Silva

Capitão do oitavo Batalhão de Infantaria do Exercito, natural da Provincia do Ceará, casado, com quarenta e quatro annos de idade, residente nesta cidade, aos costumes nada disse.

Testemunha jurado ao Santo Evangelho na fórma da ley e sendo inquerido sobre os artigos da justificação de folhas que lhe fora lido:

Respondeo ao primeiro  que sabe ser certo que Dona Raphaela López comprara do Governo da Republica do Paraguay parte dos terrenos, comprehendida entre os rios Estrella e Apa, isto porque tendo feito a Campanha do Paraguay, isto ouviu de muitas pessôas daquelle pais e ahinda de habitantes desta Provincia e onde veio parar como official do Exercito.
Ao segundo  respondeo que sabe pela mesma  fórma  que a esposa do justificante tem ali criação de gado vaccum sem  opposição de qualquer authoridade do Imperio do Brasil, porquanto é da historia e dos tratados do Brasil entre a Republica do Paraguay, que esta possuia estes terrenos como seo, só passando a pertencer ao Brasil depois dos tratados de pas e limites.

Ao terceiro  respondeo saber positivamente  ter-se perdido quasi todo o archivo Nacional da Republica do Paraguay, onde era recolhido e depositado segundo as leys do pais todos os protocollos das escrivanias publicas dando-se a penar aos particulares, que sabe disso por  ter   visto os soldados do Exercito Brasileiro destruirem muitos desses papeis, que sabe ainda, por que sendo casado com uma Senhora Paraguaya, não pode no archivo Nacional encontrar os titullos originaes creditoraes de propriedades que n’aquelle pais ella tinha e tem vindo-se obrigada a levantar a justificação para provar não só o direito de propriedade de sua esposa, como a perda dos titullos que como official do Exercito Brasileiro informa mais que, juntamente a familia López é que teve e tem maiores motivos para ser acreditado allegando a perda de seos documentos por que sabe e é publico e conhecido do mundo inteiro ter sido ella uma das maiores victimas do tyrano d’aquelle pais, que justamente a esposa do justificante encarcerou, fes condenar a morte por duas veses, mandou-lhe tomar tudo que possuia, especialmente papeis ver se entre elles se encontrava algum que comprometesse ou o seo primeiro marido.

E como nada mais disse e nem  lhe  fosse perguntado deo-se por findo este depoimento que lhe sendo lido e achado conforme, assignou com o juis e as partes.

Eu José Jacintho de Carvalho –
 Escrivão que o escrevi.
Gandie Nunes – Geographo de Castro e Silva – Milciades Augusto de Azevedo Pedra – Mariano Trajano da Silva Juruema.

Segunda Testemunha:             Antonio Tupy Ferreira Caldas

Capitão do Oitavo Batalhão de Infantaria do Exercito, natural da Provincia do Maranhão, casado com trinta e sete annos de idade, residente n’esta cidade.  Aos costumes nada disse.

Testemunha jurado aos Santos Evangelhos na fórma da ley e sendo informado sobre os artigos da justificação de folhas que lhe foi lido.

Respondeo ao primeiro  que sabe por ouvir diser-se no Paraguay, cuja Campanha inteira fes parte até serro Corá e ainda por pessôa d’esta Provincia, ser a esposa do justificante Dona Raphaela López dona da parte das terras comprehendidas entre os rios Apa e Estrella por compra que fes delles  ao Governo da Republica do Paraguay, que possuia deste tempos imemoriaes, do tempo da Guerra e ainda durante ella até que forão incorporados ao territorio do Imperio pelos tratados de Pas e limites.

Ao segundo  respondeo, que como official que fes parte da Força Espedicionaria contra Francisco Solano López, tendo ido a mandado dos seos superiores até os terrenos, objecto d’esta justificação, encontrou muito gado e casas a familia López.

Ao terceiro  respondeo elle que tendo como official do Exercito desde Serro-Corá até a Villa da Conceição feito guarda ou guardando de ordem superior a esposa do justificante,mãi e mais parentes que foram tomados em Serro-Corá em maior estado de  mizeria, em uma dessas occasiões a esposa do justificante, referindo-lhe os tormentos e vexames por que passou e até da historia consta tambem justificara da perda de todos os papeis titullos e documentos que acreditavão qualquer direito as suas propriedades no Paraguay, sendo estes tomados em Assunção quando fora presa de ordem do Marechal López.  Que soube e é certo ter desaparecido  na vagagem da Guerra  que redusio  aquelle pais a esqueleto até o archivo d’aquella Nação onde se depositavão todos os documentos, quer publico, quer particulares.

E como nada mais disse nem lhe fosse perguntado, deo-se por findo este depoimento que sendo lhe lido e achado conforme,  assigno com juis e as partes.

Eu José Jacintho de Carvalho,
escrivão que escrevi.

Gaudie Nunes – Antonio Tupy Ferreira Caldas – Milciades Augusto de Azevedo Pedra – Mariano Trajano da Silva Juruema.

Terceira Testemunha  José  Martins de Figueiredo

Alferes Honorario do Exercito Brasileiro, residente nesta cidade, natural da Provincia  de Minas Gerais, casado, com quarenta annos de idade.  Aos costumes nada disse.

Testemunha jurada aos Santos Evangelhos na fórma da ley e sendo inquerido  sobre  os artigos da justificação de folhas que lhe foi lido:

Rspondeo ao primeiro que fasendo parte da Força Expedicionaria de Minas  Gerais ao Sul d’esta Provincia, chegou juntamente com ella as terras, objecto desta justificação entre os rios Apa e Estrella, vendo ahi muito gado e cavallos, sendo então informado pelas pessôas que ahi encontrou ser estancia da familia López,    acontecendo até que a Força de que  fasia parte, desse gado se nutrio apanhando também alli alguns cavallos de que carecia.

Ao segundo que  não sabe  e só sabe que o gado, terras e cavallos alli encontrados pertenciam a familia López, sem todavia saber a qual de seos membros.

Ao terceiro  respondeo que as melhores familias paraguayas tudo perdera, apenas tendo trapos com que cobria-se, que condusindo tres mil prisioneiros para a cidade de Assumpção, estes nada levavam consigo e todos se queixavão da pena que havião sofridos até de papeis e documentos importantes que ouvira muitos queixar-se de haverem perdidos até o que tiverão tempo de esconder debaixo da terra e em paredes de suas casas, pois que soldados e lavandeiras do Exercito tudo  poude encontrar, furando as paredes das casas e arrancando tijolos.  Disse mais, ser um facto publico e notorio ter os arquivos publicos quer do Governo, quer dos officiaes, desaparecidos quasi todos no Paraguay, não restando aos particulares o seo direito de propriedade senão ao testemunho de seos patricios em justificações.   E como nada mais disse, nem lhe fosse perguntado, deo-se por findo este depoimento que sendo elle  lido  e achado confórme e assignou com o juis e as partes.  

Eu José Jacintho de Carvalho,
escrivão que o escrevi.

Gaudie Nunes – José Martins Figueiredo – Milciades Augusto de Azevedo Pedra – Mariano  Trajano da Silva Juruema.

Quarta Testemunha:  Juan Leon Benitez

Natural da Republica do Paraguay, solteiro, com trinta e oito annos de idade, alfaiate, residente na cidade de Assumpção, presentemente  n’ esta Capital, aos costumes nada disse.

Testemunha jurada aos Santos Evangelhos na fórma da lei e em seguida sendo inquerido sobre os factos constantes dos artigos da justificação de folhas que lhe foi lido:

Respondeo ao  primeiro, que sabe que Dona Raphaela López comprou do Governo da Republica do Paraguay terrenos comprehendidos entre os rios Apa e Estrella até um serro chamado Serro Primeiro, porque quando se realisou a compra venda, fora elle portador do dinheiro que montara na quantia de desesseis mil patacões, sendo oito em ouro e oito em papel para a authoridade da Nação em companhia de Dão Saturnino  Bidoia Flusomeiro da Nação, com quem ella veio depois a casar-se em primeira nupcia de mil oitocentos e sessenta e sete, que este dinheiro havia recebido das mãos da may da justificante, Dona Joana Paula C. de López.

Ao segundo respondeo, que a esposa do justificante, Dona  Raphaela López, entrou logo na posse dos campos comprados no anno de mil oitocentos e sessenta e tres, sem oposição alguma de authoridade do Brasil, porque aquelles terrenos pertenciam a Republica do Paraguay; que a justificante esteve alli, teve criação de gado vaccum e cavallos.

Ao terceiro respondeo, que sabe e é certo haver a esposa do justificante, Dona Raphaela López, perdidos os titullos de compra e ainda desses campos não se encontrando tão pouco os originaes no arquivo da Nação, onde tem sido procurado, porque até este quasi todos se extraviarão com a guerra.   E nada mais disse nem lhe fosse perguntado e sendo ligo o seo depoimento,o ratificou por achar confórme e assignou com o juis e as partes.

Eu José Jacintho de Carvalho,
escrivão que o escrevi.

Gandie Nunes, Juan Leon Benitez , Milciades Augusto Azevedo de Pedra, Mariano Trajano da Silva Juruema.

Quinta Testemunha:   Luiz Zeferino Moreira

Alferes de Infantaria do Exercito, natural desta Provincia, residente nesta cidade, casado, com trinta e quatro annos de idade, aos costumes nada disse.

Testemunha jurada aos Santos Evangelho na fórma da ley e sendo inquerido sobre os artigos da justificação de folhas que lhe foi lido:

Respondeo e sabe que é certo e consta da historia e dos tratados de limites entre o Imperio do Brasil e a Republica do Paraguay havendo estado as terras comprehendidas entre os rios Apa e Estrella, sob o dominio do Governo desta Republica, passando a pertencer ao Imperio depois dos ditos tratados.  Que sabe e elle consta pela voz publica dos habitantes d’aquelles lugares, que a esposa do justificante,  Dona Raphaela López possuia como seo e por compra  feita  ao Governo da Republica do Paraguay antes da Guerra, os terrenos, da parte dos terrenos comprehendidos entre aquelles dous rios a começar da junção d’elles até cume primeiro, cujos terrenos hoje são conhecidos pelo nome  “Ponta do Apa”.  Disse mais que sabe que a esposa do justificante Dona Raphaela López tivera  n’aquelle lugar criação de gado vaccum.  Disse mais de que tudo isso, sabe que alli há bem pouco tempo como official do Exercito estivera commandando aquelle ponto e que por ter disso  sciencia fes até respeitar o direito da esposa do supplicante, negando aos que lhe pedia posse d’aquelles terrenos por esse motivo.

E como nada mais disse  nem lhe foi perguntado, deo-se por findo este depoimento, que sendo-lhe lido achou confórme e assignou com o juis as partes. 

Eu José Jacintho de Carvalho,
escrivão que o escrevi.

Gandie Nunes – Luiz Zeferino Moreira – Milciades Augusto de Azevedo Pedra – Mariano Trajano da Silva Juruema.

Certifico que pela parte do Dr. Milciades Augusto de Azevedo Pedra, foi dispensado o depoimento da  testemunha Heliodoro Joaquim de Oliveira.  O referido é verdade e dou fé

Cuyabá vinte e sete de Agosto de mil oitocentos e oitenta e seis.

O Escrivão
 José Jacintho Carvalho.

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5.6.7 Conclusão

O depoimento das testemunhas foi decisivo para confirmar que as terras entre os rios Apa e Estrela pertenceram ao Paraguai, a família López, Dona Raphaela.   Sendo a sentença a favor do Dr. Milciade Augusto de Azevedo Pedra.

Aos vinte e oito dias do dito mez e anno faço estes autos concluso ao Senhor Juis dos Feitos da Fasenda, Tenente Coronel André Gandie Nunes, do que fis este termo.  E eu J. J. de Carvalho, escrivão que o escrevi.

Concluso: Haja vista ao Snr. Procurador Fiscal para diser o que  for de bem da fasenda.

Cuyabá vinte e oito de Agosto de mil oitocentos e oitenta e seis

Gandie Nunes, data e na mesma data supra me  forão entregues estes autos de que fis estes termos.

Eu J. J. de Carvalho –
Escrivão que o escrevi.

Vista e logo na mesma data faço  estes autos com vistas ao Senhor Procurador Fiscal com o depoimento conteste das testemunhas de folha dose verso até  desessete verso acha-se provado os itens da petição inicial que portanto está no caso de ser julgado por sentença.
Cuyabá vinte o oito de Agosto de mil oitocentos e oitenta e seis.
Procurador Fiscal Interino –
José Estevão Corrêa.

E na mesma data forão entregues estes autos de que fis este termo.

Eu  J. J. de Carvalho, escrivão que escrevi.

R$ 1.800 – Guia de Sellos – folhas 1,12,13,14,15,16,17,18,e 19 a 200.

Cuyabá trinta de Agosto de mil oitocentos e oitenta e seis

Estava tres estampilhas no valor de mil e oitocentos réis devidamente inutilizados.
Julgo por sentença o  dedusido da petição a folhas duas para que produsa os seos effeitos.
Entregue-se esta a parte  que pagará as custas.

Cuyabá 1º de Setembro de 1886.
André Gandie Nunes.

Certifico ter  internado a sentença de folhas  desoito  verso nas proprias pessôas do Senhor Procurador Fiscal Interino José Estevão Corrêa e o justificante Dr. Milciades Augusto de Azevedo Pedra de que bem sciente ficarão e dou  fé.  Cuyabá primeiro de Setembro de mil oitocentos e oitenta e seis. J. J. Carvalho74.







50 No Paraguai.
51 Apud, General Augusto Tasso Fragoso, História da Guerra da Tríplice Aliança e o Paraguai, 1960.
52 Op. Cit. Ref. 29.
53 Expressão latina, Decoro na Paz e Terror na Guerra.
54 Op. Cit. Ref. 13.


55 Para  mais informações ler o Livro Guia Lopes da Laguna Nossa Terra. Nossa Gente, Nossa História de José Vicente Dalmolin.
56 Considera-se, o Livro não possui capa e identificação de autoria, para algumas pessoas consultadas, sugeriram que fosse de Emilio Garcia Barbosa.  Os Barbosas em Mato  Grosso. S/d., apresenta características de impressão dos anos de 1950 ou 1960.
Também foi consultado a Obra de Emilio Gonçalves Barbosa, Os Barbosas em Mato Grosso, 1961, p.22.
57 Santana do Paranaíba.
58 Sugiro a leitura completa da Obra de Emilio Gonçalves Barbosa, 1961, p.22 e a de Ledir Marques Pedrosa, 1986, p. 42.
60 Hoje, Guia Lopes da Laguna era a sede, mas a área estendia onde hoje se encontra o município que leva o nome da Fazenda Jardim, município e cidade de Jardim.
61 Medalha pertencente a João Orcydeney Xavier, foto de Paulo Abílio, Jornal O Estado do Pantanal..
62 Cópia cedida pelo Quartel  do Exército, 10º RCM – Bela Vista-MS. 1986.
63 10º RCM – Bela Vista-MS.
64 Propriedade do Senhor João Orcideney Xaxier, fotos de Paulo Abílio do Jornal, o Estado do Pantanal.
65 As cópias dos originais foram cedidas pelo Arquivo Público do Estado de Mato Grosso, Cuiabá, 1984.
66 No verso da Fotografia há a seguinte descrição: 5 de outubro de 1913, a sua irmã Amabeni, por Affonso Rufino.
67 Fazenda do Apa – (Monjolinho) Miguel Angelo Palermo, 1913. Colaboração de Ada Irene Palermo, Ponta Porã – MS. Julho de 2003, cópia dos fragmentos recuperados do Livro original.
68 Nota do Autor: José Francisco Lopes, o Guia Lopes.
69 Cópias dos documentos foram extraídas  do Livro de Registros dos Títulos de Propriedades Sujeitas a Legitimação, pertencentes a este Município de Nioaque, 1893 a 1894.  Livro n.º 14, Fls. n.º 2 verso a 15. Arquivo Prefeitura Municipal de Nioaque, 1985.
70 Irmã do Marechal Francisco Solano López, presidente do Paraguai na ocasião da Guerra, 1864 –1870.
71 Intendência, o mesmo que Prefeitura Municipal.
72 Ainda casado em primeiras núpcias com Raphaela López, irmão de Solano López.
73 Freguesia, o mesmo que Distrito, Levergeria, nome atribuído a Nioaque em 1877, Lei Provincial n.º 506.
74 Os originais deste documento foram transcritos por José Nelson de Santiago, Secretário da Intendência Municipal da Vila de Nioac, no dia 20  de janeiro de 1894, transcrito  para o Livro de Registro dos Títulos de Propriedades sujeitas a legitimação.

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