CAPÍTULO II
2.
Introdução
ETIMOLOGIAS,
LENDAS,
EVOLUÇÃO DA PALAVRA NIOAQUE
Toda
essa região, compreendida não apenas pelo atual Município de Nioaque, fora até
o início do século XIX, palmilhada por grupos indígenas. Hoje no Mato Grosso do Sul[1] são cinco os
grupos existentes, a saber:
a)
Guarani,
que se dividem em Kaiová e Ñandeva;
b)
Terena;
c) Kadiwéu, também conhecido pelo nome de Guaicuru;
d)
Guató;
e)
Ofaié.
Fotografia[2] de um índio
Kadiwéu, remanescente da família dos Guaicurus.
Tribos extintas[3], Bororos,
Kamba, Paiaguás, Xamacoco, Guaná, Caiapós e outros. De todas estas nações, com
certeza há remanescentes no Estado de Mato Grosso do Sul miscigenados,
aculturados, despossuídos, sobrevivendo nas mesmas condições das populações
periféricas, mas que outrora foram numerosos, orgulhosos da sua cultura.
Do ponto de vista lendária, é muito
rica a história sobre a origem da palavra Nioaque.
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Uma coisa é verdadeira: a palavra Nioaque é de
origem indígena derivada das palavras graficamente escritas: ANHUAC, ANHOAC, ANIUAC, que significa
na concepção das termologias
científicas: “Clavícula Quebrada” e procede da denominação primitivamente dada
ao Rio, do qual originou o nome da Cidade, hoje Município.
2.1
Etimologias
a)
ANIOAQUE
- Originário da tribo Guaná, segundo Estevão de
Mendonça, que significa Clavícula Quebrada[4].
b) ANHUAC - Segundo Teodoro Sampaio[5] “tirou da tribo Tapuia esta bela denominação de
formoso local, é corruptela do nome dado pelos Guaicurus, alias mencionado nos
antigos mapas portugueses, quando em exploração destes sertões, Anhuac, que quer dizer Clavícula Quebrada”.
c) NHUAQUE [6]- Palavra de origem da tribo Guarani. Junção de duas palavras: NHU + AQUE = Campo de dormir; significando campo de dormir, local onde se
faziam paradas para descansar ou dormir de viagens ou caçadas.
d)
ANHUAC - Outra variante, segundo Odilon Queirós[7], “originou-se de duas palavras da tribo dos
Terenas e também usado pelos índios Laianos e Guanás, originários do Kinikinau
(Quiniquinau; tribo Aruaque, sul de Mato Grosso), índios que dominavam as
terras firmes e montanhosas do Urucum, Rabicho, Morro Grande, Piraputangas e
Itambé. A significação de Anhuac é: ANHU
+ YAC = Clavícula + Quebrada”.
2.1.1 Evolução
Fonética e Gráfica da Palavra Nioaque
Durante
estas pesquisas[8], em diferentes
livros, impressos, manuscritas de épocas diferentes, foram encontradas as grafias seguintes:
a) Anhoac
b) Anhoaque
c) Aniuac
d) Anioac
e) Anhuyac
f) Aniuaque
g) Anhuaque
h) Anhuac
i)
Nhuaque
j)
Nyuac
k) Nioac
l)
Nioaque
Estão selecionadas algumas por haver
maiores correlações morfológicas entre si:
a) Anhuac
b) Anhoac
c) Anhoaque
d) Aniuac
e) Anioac
f) Nioac
g) Nioaque
As
cinco primeiras derivações são morfologicamente de origem indígenas.
Com a denominação NIOAC, esta forma gráfica está registrada em Relatórios[9],
manuscritos de 1848/49, “... dahi caminharão por terra até o Nioac, galho de
Miranda...” São os documentos mais
antigos encontrados e que comprovam o uso desta grafia. Esta denominação Nioac foi dada ao Rio.
A denominação Nioac está registra nos
fatos históricos em três épocas diferentes:
Primeira, antes da invasão
Guarani, na Guerra que a Tríplice Aliança sustentara contra a República do
Paraguai, a partir dos anos de 1847 até
24 de maio de 1877, Lei nº 506.
Segunda, entre 7 de julho de 1883
a 18 de julho de 1890, Lei nº 612, até
a criação do Município de Levergéria
(Nioaque), Decreto nº 23.
Terceira, a partir de 26 de
outubro de 1892, em razão da lei nº 13, até aproximadamente o ano de 1938,
quando sofre reforma ortográfica.
Pesquisando em livros Atas e Arquivos, contendo conteúdos manuscritos, a
grafia Nioac é encontrada até o ano de 1938.
No entanto, alguns poucos já
escreviam no ano de 1937 a forma gráfica atual Nioaque. O que se pode afirmar, que a partir do ano de
1938, temos a forma gráfica atual: Nioaque.
Quanto à denominação atual NIOAQUE
incorporada à nova forma fonográfica da Língua Nacional, sofreu um processo
metamórfico ao longo do tempo.
Acompanhe a análise seguinte:
a) Anhuac; b) Anhoac;
c) Anhoaque; d) Aniuac; e) Anioac, formas gráficas cuja origem está
ligada ao contexto primitivo, indígenas, dadas ao Rio e esta evolução com diferentes formas de
grafias, consiste na maneira que se ouve, fala e escrevemos. Na Língua Portuguesa, geralmente escrevemos
as palavras através dos sons e quando
não se domina perfeitamente a pronúncia
e a grafia da palavra, acabam por escrevê-la com caracteres diferentes da palavra original,
principalmente no nosso estudo, por estarmos tratando de uma língua indígena
que não apresenta nada em comum com a
latina.
Com a presença dos portugueses, sem falarmos do pioneirismo
que coube aos espanhóis, ouvindo-se a Língua e comunicando apenas através dos
sons, aos poucos a sua grafia foi sendo aportuguesada fonética e graficamente.
Com o passar das épocas,
popularizando-se o nome, a pronúncia veio trazer mudanças gráficas, onde se
concluí que na tentativa de fazer a grafia através do fono, pareça mais
original escrever assim: NIOAC.
Uma vez aceita e oficializada
esta forma de se escrever e pronunciar,
esta acabara ao longo de novas décadas
sofrendo novas influências através das reformas ortográficas na Língua
Portuguesa, o que conduziu a palavra Nioac
a tomar outra estrutura
gráfica, de acordo com a terminação do som.
Observe que a palavra N I O A C possui um som final de “QUE”, onde se conclui
que foi abolido a consoante “C” e acrescentado o dígrafo “que”, correspondente ao
som final da antiga forma gráfica NioaC,
para NioaQUE
- NIOA + QUE = NIOAQUE[10].
Tendo então oficialmente a palavra
escrita fonética e graficamente Nioaque, mas conservando, como podemos
observar, a raiz etimológica, seja ela pertencente a qualquer uma destas
derivações: Anhuac; Anhoac; Anhoaque; Aniuac; Anioac.
Apenas uma curiosidade, em um
único caso, no aprofundamento nas pesquisas de manuscritos do século XIX,
encontra-se no registro de uma escritura de terra a palavra Nioaque, com a grafia idêntica a dos
dias atuais, mas que designava o nome do Rio Nioaque e não a povoação. Conheça
o trecho[11]: “...divisando
com os campos da fasenda de Antonio José de Souza até encontra a coxilha que
divisa as agôas do Rio Nioaque, tributario
do Mandego (Miranda)... Porto de Jaty
des de abril de mil oito centos e cincoenta”
2.2 As lendárias Histórias sobre a origem da palavra
Nioaque (atributo ao Rio e não a cidade)
2.2.1 Nioaque – na
versão da tribo Guarani
NHU
+ AQUE
Segundo descendentes de Guaranis, paraguaios, principalmente
na região com a fronteira, contam-nos que esta região adjacente ao Rio Nioaque,
área do Município
de Nioaque, fora outrora
trânsito livre dos índios Guaranis que incursionavam estes sertões, ora
fugindo dos brancos, ora em busca de caça.
O Rio Nioaque ficava no itinerário dos grupos guaranis e que os mesmos realizavam paradas para descanso e pernoites,
às margens desse Rio, os quais chamavam em sua língua Nhuaque – NHU = campo e AQUER = dormir. Assim, com o passar dos tempos, o Rio passou
a ser identificado pela denominação de Nhuaque, que significava, local onde
se pararia para descansar, pernoitar.
2.2.1.1 Guarani -
Grupo Tupi-Guarani, um dos maiores que
habitaram do Atlântico à República do Paraguai e Argentina; embora guerreiros,
facilmente foram conduzidos à civilização por conquistadores e missionários
jesuítas.
Os Guaranis, no Brasil subdividem-se
em três grupos Mbyá, Kaiová e Ñandeva.
Estes dois últimos grupos, com predominância dos Kaiová, vivem no Mato
Grosso do Sul. Os Ñandeva
autodenominam-se Guaranis. Cerca de
24.649 índios entre Guaranis e Kaiová
vivem no Estado.
Foto[12] de
um grupo de crianças do grupo indígena Guarani.
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2.2.2 Nioaque – na versão da Tribo Guaicuru
ANHUAC
Os índios Guaicurus, cavaleiros bons, realizavam incursões
permanentes nestas regiões, sendo que, quando os primeiros homens brancos
pisaram pelo torrão nioaquense, eles eram os habitantes nativos.
Contam-nos a lenda, que em uma
destas viagens a cavalo, um dos índios, filho do cacique, caiu do cavalo e
fraturou uma determinada parte do corpo, que em nossa língua recebe a
denominação de Clavícula e na língua
indígena, denominavam pôr Anhuac.
Ora, era comum andarem montados nos cavalos sem complementos
de montaria, que fornecem comodidade e segurança ao cavaleiro.
Esse acontecimento deu-se às
margens de um riacho, o qual passou a denominar de Rio Anhuac.
Aos poucos o
Rio foi tornando-se um ponto de localização geográfica na região e quando os
exploradores aqui chegaram já encontraram o Rio com esta denominação e dela
fazendo uso. Esta denominação do Rio
passou a ser transmitida aos
exploradores espanhóis e sucessivamente aos exploradores e colonizadores
portugueses e brasileiros, chegando até
os nossos dias.
2.2.2.1 Guaicurus/Kadiwéu - grupo indígena, primitivamente da região do
Chaco, pantanal, baixo Paraguai, viviam da caça, da pesca e agricultura de
subsistência.
Os índios Kadiwéus são os últimos
remanescentes da família Guaicuru.
O aparecimento do cavalo,
introduzido na América do Sul pelos espanhóis, no século XVI, aproximadamente a
partir de 1535, multiplicou-se rapidamente, meio a um clima propenso, em menos
de um século, inúmeras tropas de animais selvagens vagueavam pelos campos.
Enquanto que para algumas tribos
os cavalos constituíam-se em mais um animal para caça, os guaicurus, souberam
domá-los e utilizá-los como meio de transporte.
Foi desde modo, que se tornaram
hábeis cavaleiros, dominando terras e submetendo povos: Caiuás, Bororos,
Guanás, Caiapós, Terenas. Assim, quando
a ocupação dos homens brancos foi penetrando por estes arredores, eles já
dominavam a região.
Monumento no Parque das Nações indígenas, Campo Grande - MS. Representa um índio Guaicuru. Foto do autor, março 2016.
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2.2.3 Nioaque – Na versão da tribo Guaná
ANHOAC / ANHOAQUE
Contam-nos a seguinte lenda: Era habitual entre a tribo indígena
Guaná saírem em determinadas épocas do
ano para caçar (assim também procediam
todas as outras).
Andando pela região à procura de
caça, penetrando matas à dentro e aproximando-se às margens de um riacho...
De repente, um dos índios, ouviu entre as matas um
movimento de folhas e pisadas sobre galhos secos. Com sua visão acusada, fez sinal, para que
seus companheiros parassem de caminhar.
Súbito de alegria avistou um
lindo veado que se dirigia às águas do riacho...
Habilmente, armou-se do arco e de
flechas e disparou contra o animal.
Ouviu-se na floresta, primeiro um berro e depois um gemido e, por fim, o
esperneamento por entre a vegetação.
O índio, percebendo que o animal havia tombado, ainda
debatendo-se, correu e agarrou com seus fortes braços. Neste instante, percebendo que o animal
estava apenas ferido, isto é, a penetração da flecha fez com que uma das determinadas
partes do corpo estivesse fraturada, a qual
denominamos de clavícula, então gritou para os outros companheiros:
__
ANHOAC! ANHOAC! ANHOAC!
Que estava significando, está apenas com uma quebradura na
clavícula. Terminando de matá-los,
conduziu a caça até os seus companheiros.
Aos poucos os índios foram
percebendo que a região compreendida pelas margens do Rio Anhoac era muito abundante a caça dessa espécie,
passando a considerá-la de muito boa, denominando o rio de Anhoac/Anhoaque.
2.2.3.1 Guaná - Povo da família Aruaque, localizado à margem
esquerda do Rio Paraguai, vizinhando com os Guaicurus, possuidores de afinidades com os brasileiros e com a tribo
dos Guaicurus, onde a união de sangue e de Língua era permanente. Além da caça e da pesca, dedicavam-se à
tecelagem de algodão e a lavoura.
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2.2.4 Nioaque – Na versão da Tribo Terena
ANHU + YAC
Nos apontamentos históricos de
Manoel de Pinho, transcritos por Odilon de Queirós[13],
em estudos realizados sobre a cidade de
Jardim e Guia Lopes da laguna, encontra-se o seguinte trecho: “... nos estudos históricos que me propus
fazer em 1906, sobre a região sul de Mato Grosso, quando Sargento do 7º
Regimento de Cavalaria de Nioaque, visitando em sua aldeia, estabelecida à
margem do Rio Urumbeba, disse-me o velho capitão dos índios, Vitorino, filho de
celebre chefe indígena Vitório Jibóia, ambos famosos veteranos da Guerra do Paraguai, que o nome ANHUAC, depois NIOAC, originou-se da queda de um jovem índio, sofreu quando
montava um cavalo, tendo fraturado a clavícula, daí o nome Anhuac – Clavícula
Quebrada – ANHU = Clavícula + YAC = Quebrada, com a qual ficou sendo conhecida
a atual cidade de Nioaque...”
2.2.4.1 Terenas - Da família Aruaque, da ramificação
Guaná. Aceitou facilmente a presença
espanhola e depois a portuguesa, bem como a de seus usos e costumes. Especialistas na arte da cerâmica. Originários da região do “Chaco”, pantanal
paraguaio. Transferiu-se posteriormente
para as regiões de Miranda, Aquidauana e Nioaque. Muitos lutaram como voluntários na Guerra
contra o Paraguai.
<><><><><><><>
2.2.5 NIOAQUE –
Lenda Popular Satirizada
NI + O + AQUE
Conta-se que há muitos anos
atrás, no começo da existência de Nioaque, havia aqui um homem que não andava e que tinha que ser
conduzido através de um couro, puxado
por alguém. Diz ainda que este homem não
falava direito, era gago, pois lhe apelidaram de “NI”.
Certo dia, NI, pediu para ir ao
outro lado da ponte do Rio Nioaque. E o
homem que puxava o couro foi levando o NI.
Quando estavam para atravessar a
ponte, vinha em disparada, na direção deles uma manada de bois, que naquela
época eram chamados de “AQUES”.
Quando o homem que puxava o NI,
viu a manada de AQUES, gritou desesperadamente:
__ “NI” o “AQUE”! NIOAQUE.
Saiu correndo, deixando o pobre
NI para morrer embaixo dos AQUES.
Esta frase ficou conhecida, pois
toda vez que contavam a história de NI, lembravam deste fato.
Algum tempo depois, a população
local, resolveu chamar o local de NIOAQUE, homenagem póstuma ao NI.
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2.2.6 NIOAQUE –
PALAVRA COMPLETA, CIDADE DAS VOGAIS
Leitores despercebidos
ignoram o que a natureza humana através da evolução da linguagem oral e com a
representação do código linguístico fez com a palavra Nioaque. É uma palavra de origem indígena e que sofreu
as influência da língua portuguesa até ganhar a representação fonética e
morfológica. Acompanhemos juntos este
prodígio da linguagem até certo ponto curioso:
A
palavra Nioaque é constituída por sete letras
– n i o a q u e.
A palavra Nioaque é
constituída somente por duas consoantes - n q.
A palavra Nioaque reúne as
cinco vogais -
(a,e,i,o,u) n i
o a q
u e.
Pelo
pouco que conheço da nossa Língua Pátria,
a palavra Nioaque é a menor palavra que reúne as cinco vogais com o
menor numero de consoantes. Deste modo, é riqueza linguística para todos os Nioaquenses e sul-mato-grossenses.
2.2.7 NIOAQUE –
Considerações
Any’wac ou ani’uac
Nioaque é sinônimo de “costela quebrada” ou como os
homens brancos denominaram, “clavícula
quebrada”.
No entanto, esta diferença
aconteceu em função de os grupos indígenas não terem nomes internos para as partes do corpo humano. Tinham conhecimento de ossos humanos, mas não
havia denominações ou estudos científicos; por isso mesmo pode ter sido
costela, clavícula ou qualquer outra qualificação.
Realmente a afirmativa mais
assertiva a respeito da origem da palavra
NIOAQUE, não encontramos outra significação mais convincente entre as pelos homens brancos denominada,
senão as de indígenas do grupo Tupi-guarani e Guaicuru.
O que precisa ser entendido, que não apenas Nioaque, mas outra região do Mato Grosso do Sul, sempre foi território
de aborígenes, ora de um grupo, ora de outro e que cada qual dava a sua
interpretação ou cognominação, outros simplesmente adotavam o mesmo nome;
entretanto, uma vez que pronunciarmos uma palavra de língua indígena ou
estrangeira, sempre sofre influência da nossa Língua na sua elaboração
vocálica; uma vez que os povos primitivos
não faziam uso da linguagem escrita, com os códigos linguísticos do nosso alfabeto, somente a oral, vocalizada e alterada pelos
freqüentes povos que neste espaço compreenderam os seus habitats ou assim dizendo, território de caça.
A região que compreende a atual
circunscrição municipal, nunca foi local de residência indígena, isto nos diz a
respeito, por não termos encontrados até então, nada que possa caracterizar
como ocas, vestígios de fósseis humanos e nem utensílios, até o momento não se encontraram sítios arqueológicos.
Nioaque compreendeu como uma
reserva, mas nunca propriedade específica a nenhum grupo indígena; assim, quem
estivesse aqui, era seu ocupaste.
Não se dispõem de registros que notifiquem que tenha havido
disputas de terras entre os índios na
região de Nioaque.
A alimentação natural sempre foi
muito farta entre as águas dos Rios Nioaque, Miranda, Apa e Paraguai.
No tocante a origem da palavra, o
fundo primitivo, encontra-se situada entre os primórdios de 1580, quando os
primeiros homens brancos de origem espanhóis, acompanhados por grupo
tupi-guarani, servindo de guias, entre outros grupos indígenas, caminharam por
estas cercanias, ora na direção da atual Bolívia e Peru. Os Bandeirantes do século XVII e XVIII e os
povoadores do século XIX foram os que realmente vieram a conhecer o Rio,
popularizando a denominação qualquer que tenha sido a sua origem primeira.
Uma das hipóteses da origem
lendária estar relacionada à queda de um índio, provavelmente filho de um chefe
indígena, da montaria de um cavalo, dos acompanhantes dos grupos aventureiros
ou caçadores. Isto pode ter acontecido,
pois andar a cavalo representava uma novidade para quem sempre andou a pé,
principalmente entre os Guaicurus. O
fato, de o índio ser ainda jovem e inexperiente na arte de cavalgar, sofreu uma queda diante de um momento do
salto que o animal daria ao atravessar as correntezas das águas do Rio, ocasião
que poderia estar cheio ou com barranco muito acima do nível do Rio. Já próximo à travessia, o golpe natural do
animal para pegar o impulso e atingir terra firme, o índio sem presteza, acabou
deslizando da montaria e caindo para trás, batendo com as costas no chão sob
entulhos de madeira ou pedras depositadas na margem.
Como já era de se esperar,
feriu-se e fraturou alguns ossos das costas pelo impacto violento sobre o solo,
Clavícula quebrada ou Costela fraturada.
Conforme algumas tradições, no momento os índios percebendo a gravidade
do ferimento e as dores que foram aparecendo
com a letargia natural do corpo, colocaram então, o ferido sob os cuidados dos seus
especialistas, que na ocasião envolveram-no em espécie de ataduras, unguentado com plantas de Urumbeva,
encontrado nas imediações de outro
ribeirão não distante do local do acidente, esta é a uma hipótese que
pode ter originado o acidente e posterior denominação.
Com o passar dos tempos foram os
próprios homens brancos que acabaram popularizando a qualificação dos dois Rios
com as denominações “Nioaque e Urumbeva” – ANI’WAC e URUM’BE’WA.
Segundo Antenor Nascente[14] “Urumbeva, mesmo que urumbeba, planta da
família das cactáceas (cactus opuntia), do Tupi – urubeba”. Já para
Silveira Bueno[15] “Urumbeba, nome de um cardo de folhas largas
em forma de espátula”.
Os
dois nomes sofreram alterações, mas conservaram a raiz etimológica. Em entrevista com algumas pessoas
descendentes dos índios da Tribo Terena, nas Aldeias de Nioaque, Água Branca e
Brejão, confirmam a tradição oral, de que a palavra Urumbeva ou Urumbeba, ser
relativo a uma espécie de planta medicinal.
Visconde de Taunay[16] trata pela denominação de “Orumbeva”
“Fora a vila de Nioac abandonada
pelo inimigo a 2 de agosto de 1866. Por toda a parte ali se viam vestígios do
incêndio. Poupadas, apenas, duas casas e uma pequena igreja de pitoresca aparência.
À primeira vista agrada o aspecto geral do lugar. De um lado, o povoado e um
ribeirão chamado Orumbeva; do outro, o rio Nioac, cujas águas confluem cerca de
900 metros, para trás da igreja, deixando livre, em torno desta, à direita e à
esquerda, um espaço duas vezes maior. Pequena colina fica-lhe em frente, a
pouca distância”.
[1]
Governo do Estado de Mato Grosso do Sul, Índio, vivendo novas lições de etnia,
2000, volume 1.
[2]
Fotografia extraída do caderno da Secretaria de Estado de Educação, Volume 1 –
Escola Guaicuru – índio – Vivendo novas
lições de etnia, 1999.
[3]
Home Page: www.geocities.com/grupote
[4]
Estevão de Mendonça, Datas Mato-grossenses, 1973, vol. 1, p. 251.
[5]
Teodoro Sampaio, Dicionário Etimológico da
Língua Portuguesa, 1954.
[6]
Alguns documentos de origem paraguaia, os que tratam da Guerra do
Paraguai, apresentam a denominação
NHUAQUE designando o local da Povoação e do Rio.
[7]
Odilon Queirós, manuscritos fornecidos pela Fundação de Cultura de Mato Grosso
do Sul, retratando aspectos históricos das cidades de Jardim e Guia Lopes da
Laguna, 1983.
[8]
Levantamentos bibliográficos entre os anos de 1981 a 1989.
[9]
Manuscritos dos Relatórios de 1848 e 1849 do Presidente da Província de Mato
Grosso, Joaquim José de Oliveira, p. 121, Arquivo Público do Estado de Mato
Grosso, CPA, Cuiabá, 1984.
[10] Esta alteração gráfica também está de
conformidade com as instruções para organização do vocabulário da Língua Portuguesa, aprovado pela Academia
Brasileira de Letras, na seção de 12 de agosto de 1943, tendo por base o
vocábulo ortográfico da Língua Portuguesa da Academia das Ciências de Lisboa,
Edição de 1940
[11]
Do Livro de Registros dos Títulos de Propriedades e Sujeita as Legitimações
pertencentes a este Município, de 1893/1894, Livro nº 14, folhas 9 verso a 20.
[12]
Fotografia extraída do caderno da Secretaria de Estado de Educação, Volume 1 –
Escola Guaicuru – índio – Vivendo novas
lições de etnia, 1999.
[13]
Op. Cit. 1.
[14]
Dicionário da Língua Portuguesa, Bloch Editores, 1989, p. 645.
[15]
Dicionário Vocabulário Tupi-Guarani, 1982.
[16] A Retirada da Laguna, Visconde de Taunay
Fonte:
TAUNAY, Alfredo D'Escragnolle Taunay, Visconde de. A
retirada da Laguna - episódio da
Guerra do Paraguai. São Paulo: Ediouro. (Prestígio)
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