CAPITULO XV
Conhecendo um pouco da Historia
Política e Econômica que envolveu o Município de Nioaque,
principalmente na última década do
século XIX, é fácil de concluir a origem do título “A VOZ DO SUL”. As distâncias que separavam
Cuiabá, Capital do Estado de Mato Grosso, as
precariedades das estradas, tornando as viagens longas e cansativas. O
único meio de transporte mais confortável era o da navegação fluvial:
Aquidauana, Miranda, Paraguai, Cuiabá; as relações econômicas com a Capital
eram praticamente inexistentes, uma vez que tudo que se consumia vinha de fora
do Estado, Paraguai, São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro ou mesmo
do Rio Grande do Sul e Argentina, do mesmo modo, nossa produção retornava para
estas mesmas regiões.
As únicas relações entre
Nioaque, - Sul de Mato Grosso – com
Cuiabá era tão somente política e administrativa. As principais fontes
geradoras de receitas do tesouro, provinha das atividades econômicas do Sul.
Entretanto, no momento de usufruir dos benefícios do tesouro, estes eram desviados para rumos
diversos, menos para a região, fonte geradora.
Daí a necessidade de uma “Voz” que
gritasse e lutasse em defesa de seus interesses. Nesta ocasião, Nioaque,
representava, a cidade mais importante politicamente de todo o Sul, Além de
estar constituído como um dos maiores municípios do Estado, tinha força,
precisava de um instrumento que chegasse a todos os rincões do Apa ao Paraná,
levando sua mensagem de positivismo, progresso, liberdade, fraternidade e união
do Sul mato-grossense.
No mandato do primeiro Intendente,
João Luiz da Fonseca e Moraes, progressista e administrador de visão – por
sinal, foi ele quem mais lutou pelos interesses do Sul, como executivo
Municipal - apoiando sem duvida pelo incansável defensor desta terra o Cel. João Ferreira Mascarenhas “Jango
Mascarenhas”, e
também um grande líder político, pois exerceu legislatura de Presidente
do Conselho da Intendência Municipal, Chefe das Forças Patrióticas do Sul, na
luta contra a tirania iniciada pelo Coronel João da Silva Barbosa, Comandante
do 7º Regimento de Cavalaria, vereador, Juiz de Paz, Deputado Estadual e 2º
Vice Presidente do Estado de Mato Grosso e pelo Dr. Cláudio Gomes da Silva,
advogado e vereador eleito em 1893, foi quem montou em Nioaque uma tipografia e
nela era impresso o grito do Sul – o
Jornal “A VOZ DO SUL”.
Nascia no ano de
1894, quinto da República do Brasil e quarto da criação do Município de
Nioaque, então desmembrada de Miranda,
foi montado em Nioaque sua primeira imprensa tipográfica e a publicação do seu
primeiro jornal: “A VOZ DO SUL”.
Quando João
Ferreira Mascarenhas, Deputado Estadual, representante dos interesses de
Nioaque e da região Sul do Estado de
Mato Grosso, adquiriu em Cuiabá, equipamentos tipográficos da antiga tipografia
o Jornal “D’A Situação” e montou na Vila de Nioaque.
Em 26 de outubro
de 1894, entrava em circulação a publicação do primeiro número do jornal aqui
impresso, que trazia por título “A VOZ
DO SUL”.
Na primeira página, a orientação do novo órgão, foi traçada[1]:
“... somos alheios a
toda e qualquer seita religiosa, mas
convencidos apesar das diversidades das
partes doutrinárias, de que todas as religiões partem do mesmo princípio, que a
moral voluntária, apresentamo-nos como
secretários deste alto princípio social, sendo a nossa divisa, a divisa do
desinteresse: para a sociedade, pela sociedade.
Republicamos de princípios, para nós
a República é a chave que coroa a abóbada desse grande edifício de conquistas
político-sociais.
Que a
República é o único Governo que pode fazer a felicidade do povo brasileiro. Eis
as nossas convicções.
Trabalhar pelo engrandecimento da
Pátria mato-grossense em todo terreno; defender os interesses estaduais, nas
questões dos interesses gerais
batermo-nos pelos interesses do Sul, em
todas as questões em que for desenvolvido. Eis o nosso programa”!
Poder-se-ia dizer
que é tudo que se restou de material da “A VOZ DO SUL”, não sendo possível recuperar quaisquer tipos
de fragmentos do Jornal.
Sua duração foi
de curta existência. Sendo em 1896, empastelado a respectiva oficina e o
material utilizado para a impressão atirado nas águas do rio Nioaque.
O Autor desse
feito selvagem recebeu o cognome de “ONÇA PRETA”, que quer dizer: “Traiçoeira”.
Segundo Rubens de
Mendonça, este foi o primeiro atentado à imprensa, na Historia do Jornalismo
Mato-grossense.
Fotografia
do antigo Prédio da Loja Maçônica de Nioaque, atual rua Quintino Bocaiúva.
Estabelecimento este que na década de 1930 e inicio de 1940 funcionou como
Escolas Reunidas de Nioaque. Localizado
da Antiga Rua General Diogo.
O
Jornal a Voz do Sul, propagador dos ideais democráticos, republicanos,
liberdade, fraternidade, igualdade, sofreu este atentado entre outras razões:
¨
Era instrumento do Partido Republicano;
¨
Apoio à sucessão do Intendente Geral do Município de Nioaque, João
Luiz da Fonseca e Moraes;
¨
Atendia os interesses de apenas um grupo de políticos, liberados
pelo então Deputado Estadual, João Ferreira Mascarenhas;
¨
Tecia forte crítica a centralização do Governo Mato-grossense, má
distribuição dos lucros tributários. Nesta Ocasião, o Município de Nioaque, com toda a sua vastidão, era o
maior contribuinte para os cofres do tesouro do Estado, tinha na extração e
comercialização da “Erva Mate”, seu principal produto industrial e de
exportação e que o monopólio estava reservado ao fisco estadual.
O Município de
Nioaque, o então maior representante do Sul tinha contido em si, a maior força
política e econômica, mas, no entanto era castrado pelo poder centralizado
em Cuiabá. O incentivo financeiro que
recebia não dava se quer para a construir o Paço Municipal, muito menos para
atender as necessidades de educação, saúde, segurança pública, construção de
pontes e abertura de estradas.
“A VOZ DO SUL”,
clamava por uma maior assistência do Governo Estadual, mas foi sufocada a sua
“voz”, mas não foi capaz de emudecer os homens que radicados no Município,
através do trabalho e do espírito de
união, construíram o desenvolvimento e o progresso do Sul.
Nioaque foi o
instrumento, a cidade mãe e mártir da região sul.
Foi daqui que se
levantou o primeiro grito pela emancipação do Sul, foi na expressão Latina: “Primus Inter Pares”, a primeira a
sofrer a dor da Guerra e da obstrução do seu desenvolvimento público. Por meio
da sua vida e dor, prosperou a grande região Sul de Mato Grosso, hoje Mato
Grosso do Sul, desanexando Municípios do seu território, para que houvesse o
progresso do Apa ao Paraná, quase o Estado inteiro.
O Jornal “A VOZ
DO SUL” foi calado por um grupo de políticos conservadores, que serviram de
instrumentos as forças políticas
radicadas na Capital, tentando desestabilizar a
influência de Jango Mascarenhas e seus correligionários.
Sabe-se por meio
de informações orais, que a Maçonaria,
através de alguns dos seus membros, eram os responsáveis pela
organização e funcionamento deste veículo de comunicação.
A tipografia onde
era impresso o Jornal em Nioaque, era de propriedade do Dr. Cláudio Gomes da
Silva, sendo também o redator do Jornal.
A Voz do Sul foi a
primeira a clamar, não apenas por Nioaque, mas por todo povo Sul Mato-grossense. Nossa homenagem póstuma
pelos idealizadores da brilhante filosofia e título do Jornal Nioaquense.
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