CAPÍTULO XVIII
João Ferreira Mascarenha
Coronel da Guarda Nacional
Vereador, intemdente, Deputado por Nioaque...
18 Introdução
Procurou-se reunir neste Capítulo alguns conflitos
armados desta década que envolveu Nioaque, por outro lado, a causa destes
conflitos foi motivada por desavenças políticas, disputa pelo poder “na época
do Coronelismo de Chinelo”.
A mudança na forma de Governo –
de Monarquia para República, em 1889, mudou as termologias governamentais e
Constitucionais, no entanto, os líderes políticos permaneceram os mesmos.
Os primeiros tempos da vida
Republicana em Nioaque e no Estado de Mato Grosso foram marcados pela disputa entre os políticos adventícios dos
partidos monarquistas. Mato Grosso não possuía tradições e nem partido Republicano.
A falta deste elemento contribuiu ainda mais para engrossar as causas dos
conflitos. Os interesses e ambições pessoais encontravam-se acima das
preocupações com o desenvolvimento do Estado e o bem estar geral dos cidadãos
Mato-grossenses. Daí o título “Consolidação Política e Republicana no Estado de
Mato Grosso e Nioaque”.
Será dado a conhecer o principal
personagem deste tempo, o maior líder político da sua época na região Sul do
Estado, João Ferreira Mascarenhas – “Coronel Jango Mascarenhas”, que lutou em
defesa dos interesses sul mato-grossenses, e que acaba morrendo numa luta sem
vitória, na disputa pela manutenção da sua zona de influência política.
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18.1 João Ferreira
Mascarenhas – Coronel Jango Mascarenhas.
Nascidos na fazenda Correntes, no
Município de Miranda, a 24 de Junho de 1864, foram seus pais Henrique Augusto
Ferreira de Mascarenhas e dona Gertrude Gomes Ferreira de Mascarenhas.
Tendo adquiridos conhecimentos de
instrução primária, seguiu para cidade de Corumbá, onde se empregou na casa
comercial de Firmo de Matos e & Companhia; regressou mais tarde a Miranda,
a convite de Giasone Rebuá, em cujo estabelecimento comercial também trabalhou.
Em Miranda, exerceu o cargo de
Tabelião Público e deixou para iniciar a carreira de fazendeiro, comerciante e
político em Nioaque, onde adquiriu profundas relações sociais e veio a
conquistar prestígio, principalmente no movimento revolucionário que encabeçou
em 1892.
Em Nioaque, João Ferreira
Mascarenhas, exerceu o cargo de Presidente e Vice-Presidente do Conselho da
Intendência Municipal, vereador, onde foi eleito o nosso primeiro Deputado
Estadual, representando os interesses do Município e da região sul do Estado. Em 1894, naquela época
foi eleito 2º Vice-Presidente do Estado de Mato Grosso (Vice-Governador).
No final da década de 1890, João
Ferreira Mascarenhas era chefe político de maior prestígio nesta região.
Fazendeiro abastado e residente em Nioaque. Foi um homem que podia reunir gente e comandá-las naquele
tempo tumultuoso e tinha em Cuiabá o apoio do seu partidário Generoso Ponce,
cuja política partidária dominante em Mato Grosso era a do Partido Republicano.
Gravura[1] de
João Ferreira Mascarenhas.
Jango Mascarenhas como era
chamado, era denominado Coronel da Guarda Nacional – Coronel de Campo, não de
farda. Título honorário atribuído pela sua capacidade de liderança, domínio e
poder.
"João Ferreira Mascarenhas - "Jango Mascarenhas" (1864-1901): é o patriarca da família "Mascarenhas" para nossa região... Nasceu em 26 de outubro de 1864, na vila de Nioaque-MS (Fazenda Correntes)... No sul do Estado do Mato Grosso, liderou a contra-revolução de 1892, em oposição a Antonio Maria Coelho e o Cel Barbosa, que intentaram proclamar a independência do Mato Grosso, criando a "Re pública Transatlântica de Mato Gros so"... Foi o segundo líder divisionista do antigo Estado do Mato Grosso uno, tendo inclusive, combatido o Cap. Muzzi (primeiro divisionista) na revolução de 1896... Contraiu matrimônio com Dona Delmira Mascarenhas, com quem teve três fi lhos... Um de seus filhos, Alvaro da Silveira Mascarenhas, tornou-se Prefeito de Bela Vista-MS (1951/1955)... Sendo homenageado com uma praça que leva seu nome... Jango Faleceu em outubro de 1901, em confronto com forças de Bento Xavier da Silva (terceiro líder divisionista), em suas terras, às margens do ribeirão Taquarussu".
(créditos
http://retiradalaguna.blogspot.com.br(créditos
.1999
CAP MATTOS
BELA VISTA, MATO GROSSO DO SUL, BRASIL)
18.2 O Conflito Político em Mato Grosso e a Participação do Município de Nioaque.
Nioaque vinha desde 1871 com o aquartelamento do
Primeiro Corpo de Cavalaria, mais tarde transformado em 7º Regimento de
Cavalaria Ligeira e com sede do comando do Distrito Militar do Sul de Mato
grosso.
Muitos foram os comandantes que
por aqui passaram, uns com espírito mais arrojado para o intelectual, pelo
desenvolvimento econômico, pelo progresso e justiça social; enquanto que outros
mais para imposição da sua vontade sobre a população; continham a ordem e o
respeito pela força e pelo poder. Entre outros comandantes destacaram-se:
Tenente Coronel José Antônio Dias da
Silva, Coronel Pedro José Rufino, General Frederico Sólon Sampaio Ribeiro,
General Manoel Lucas de Souza, Coronel João da Silva Barbosa.
Direta ou indiretamente, todas as
atividades sociais, políticas, econômicas, culturais e religiosas, estavam
influenciadas pelos homens do 7º Regimento.
Assim transcorreu o tempo, desde
a elevação a Freguesia em 1877 a Vila (Município) em 1890.
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18.2.1 Organização
Republicana em Mato Grosso e Nioaque
Vem o 15 de Novembro de 1889,
trazendo consigo a Magna proclamação da República dos Estados Unidos do Brasil,
atitude encabeçada pelos militares, na pessoa do Marechal Manoel Deodoro da
Fonseca; Proclamação acontecida na Capital do Império, a cidade do Rio de
Janeiro.
No período Imperial, O Brasil
estava dividido entre os Partidos Políticos: Conservador, Liberal e
Republicano.
A notícia da chegada da
Proclamação da República a Capital da Província, Cuiabá, aconteceu oficialmente
no dia 9 de Dezembro de 1889 e na Freguesia de Nioaque no dia 22 de Dezembro do
corrente ano.
Mato Grosso, praticamente isolado
e distante das manifestações políticas e culturais que se processavam na
Capital Federal, quando se chegou o regime republicano, ainda não possuía o
Partido Republicano estruturado e as suas idéias eram conhecimento de poucos.
A fundação do Partido
Republicano, em Cuiabá, aconteceu somente no dia 27 de Julho de 1890.
Cuiabá e por sua vez Nioaque,
estavam até então divididos entre os dois Partidos Imperiais: Conservadores e
Liberais.
A mudança na forma de Governo, da
Monarquia para a Republica e a ausência do Partido Republicano, instrumento
pelo qual os líderes políticos dariam sustentação do novo governo no Poder,
fizeram eclodir lutas, alimentando divergências entre os líderes das duas
facções políticas, liberal e conservadora, ressurgindo daí as velhas
rivalidades dos tempos da Monarquia. Mudava-se filosofia do ato de Governar,
mas continuavam sendo os mesmos homens da formação do regimento anterior.
Com a Proclamação da República, o
Marechal Deodoro da Fonseca, Presidente Provisório, - nomeou para governar Mato
Grosso o General Antônio Maria Coêlho, que foi empossado no cargo pelo Presidente da Assembléia
Legislativa Provincial e chefe do Partido Liberal, Coronel Generoso Paes Leme
de Souza Ponce.
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18.2.2 O Partido
Republicano e o Nacional em Mato Grosso e Nioaque
Os dois principais líderes
políticos da Capital e do Estado dividiram-se em dois novos partidos políticos:
Partido Republicano, liderado pelo Coronel Generoso Paes Leme de Souza Ponce e
o Partido Nacional, chefiado pelo General Antônio Maria Coêlho.
No dia 1º de Junho de 1890,
tomava posse para comandar o 7º Regimento de Cavalaria Ligeira, aquartelado em
Nioaque, o Coronel João da Silva Barbosa, que era partidário do General Antônio
Maria Coêlho, desencadeia em Nioaque todas as suas forças para firmar o partido
da situação: o Nacional.
No dia 18 de Julho de 1890, foi
criado o Município de Nioaque e no dia 14 de Novembro instalado o seu primeiro
Conselho da Intendência Municipal e eleito o Primeiro Presidente, passando a
denominar-se “Levergeria”. Os cinco membros do Conselho da Intendência nomeado,
pelo General Antônio Maria Coêlho foram:
¨
Tenente.Cel.
Zozimo Francisco Gonçalves – eleito Presidente;
¨
Alferes
Luiz Pinto de Figueiredo – Vice-presidente;
¨
José
Lemes da Silva – Membro e Secretário;
¨
Major
Francisco David de Medeiros- Membro;
¨
Cel.
João da Silva Barbosa – Membro.
Quatro conselheiros das fileiras
dos militares e um cidadão sem farda.
Entre os conflitos que se colocou
o General Antônio Maria Coêlho, custou-lhe a exoneração do cargo no dia 31 de
Novembro de 1890 e para o seu lugar, o Marechal Deodoro, nomeou o Coronel
Frederico Sólon Sampaio Ribeiro, ex-comandante do 7º Regimento de Cavalaria de
Nioaque, que tomou posse somente no dia 16 de Fevereiro de 1891.
No entre meio as disputas pelo
poder, os correligionários dos dois partidos estavam espalhados pelo Estado,
inclusive Nioaque. A eleição prometida acontece no dia 3 de Janeiro de 1891,
para elegerem trinta Deputados Estaduais para a Assembléia Constituinte, com o
objetivo de elaborar a nova Constituição do Estado de Mato Grosso.
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18.2.3 A Primeira
Eleição para 31 Deputados Estaduais Constituintes, 1891
No Anexo Histórico 13 deste,
encontra-se a ata desta eleição que aconteceu no Município de Nioaque.
O Coronel Barbosa, com todas as
sua forças pressionou os eleitores do
Município de Nioaque para votarem nos candidatos do Partido Nacional, apoiado
por ele.
Entretanto, os resultados da
votação em Nioaque não foram os desejados: venceram na Vila de Nioaque, mas
perdera nos Distritos de Campo Grande e
Vacaria, vencendo no âmbito Estadual, onde elegeu os candidatos dos Partido
Nacional.
Era o “Coronelismo e o voto de
cabresto” que estava em ação. A derrota nos distritos de Campo Grande e Vacaria deixou o chefe militar
enfurecido; ordenou o Sargento Ludgero Magalhães, comandante do Destacamento
Militar de Campo Grande, que perseguisse os republicanos. Distante dos reclamos
da população local e sem nenhuma atitude das autoridades, o povo expulsa o
comandante do destacamento e toda a sua guarnição. Por instrução do Coronel
Barbosa, o Sargento atea fogo no quartel
e vem para Nioaque, acusando a população do selvagem ato.
Para Campo Grande foi enviado para comandar a sub-delegacia, o
Delegado Philadelpho de Campos Machado em ordens severas para conter a
população em respeito e usar de punições para os que afrontarem as ordens.
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18.2.4 Os dois
ofícios[2]
seguintes expressam este contexto:
N. 52 – “Quartel do Commando do
7º Regimento de Cavallaria Ligeira, em Levergeria 3 de Abril de 1891.
Ao
cidadão Coronel Frederico Sólon de Sampaio Ribeiro Governador e Commandante das
Armas do Estado de Matto-Grosso.
Transmitto-vos em proprio
original incluso que me foi dirigido pelo subdelegado de Policia de Campo
Grande na qual demonstrou reprehensiva em relação a attenção da ordem publica
n’aquella localidade. E como já acha recolhido o destacamento que alli existia,
de conformidade com a vossa ordem, peço-vos ministreis intrucções para cazo em
que venha a se realizar provisões d’aquella authoridade.
Saude
e fraternidade
João da Silva Barbosa.
Coronel”
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“Quartel
do Commando Interino da Armas do Estado de Matto-Grosso, em Cuyabá, 9 de Maio
de 1891
N.
566
Ao
Cidadão José da Silva Rondon
Governador
d’este Estado.
Para vosso conhecimento e fins
conveniente vos envio em proprio punho original dos officios do Commandante do
7º Regimento de Cavallaria Ligeira e do subdelegado de Policia de Campo Grande
que me enviarão as mãos no pacote ultimo.
Saude
e fraternidade
Sebastião Benjamin
Cel.”
Não foi possível localizar no
arquivo de Cuiabá, o ofício encaminhado pelo subdelegado de Campo Grande.
O Governador Coronel Frederico
Sólon Sampaio Ribeiro, recebeu o governo incumbido de resguardar o novo regime
de deturpações dos princípios de moralidade e respeito à soberania popular e
também apurar as tão comentadas irregularidades denunciadas pelos republicanos
nas eleições realizadas no dia 3 de Janeiro de 1891.
Constatada as irregularidades nas
eleições, Sólon Ribeiro resolveu através de Decreto anulatório de 25 de
Fevereiro de 1891 e marcou nova eleição para escolher os trinta Deputados
Estaduais Constituintes para o dia 28 de Maio do mesmo ano.
Nova afronta se preparou no
Estado. Os Nacionalistas, vencedores do pleito de 3 de Janeiro, não aceitavam a
anulação e passaram a perseguir os republicanos estes reagem e marcam para o
dia 4 de Maio uma revolta.
Em Nioaque, o Coronel Barbosa,
temeroso, acompanhado de praças do 7º Regimento, do Capitão José Maria Ferreira
e do Coronel Zozimo Francisco Gonçalves, Presidente do Conselho da Intendência
Municipal, seguem para Cuiabá.
Embora a revolução marcada para o
dia 4 de Maio, tenha sido malograda, graças a alguns oficiais do 8º Batalhão de
Cuiabá, João da Silva Barbosa, fora reprovado na sua atitude pelo próprio
General Antônio Maria Coêlho e foi impedido de retornar para o seu Quartel em
Nioaque, permanecendo em Corumbá como Comandante Interino do 7º Distrito
Militar.
Em Nioaque, o povo começava a
reagir. No dia 23 de Maio de 1891, o Alferes José Luiz Pinto de Figueiredo,
Vice-presidente do Conselho da Intendência Municipal, solicita do Secretário da
Intendência, José Alexandre Monteiro que lhe entregasse a chave do cofre do
arquivo municipal, onde se encontravam os livros com os resultados das
eleições, aquele recusou e foi suspenso das atividades. O cofre foi arrombado,
no entanto, os ditos livros não se encontravam lá. Aumentavam os problemas para
os republicanos. Levaram ao Juiz de Paz,
Pio José Rufino, que por sua vez ignorou o fato sem tomar quaisquer medidas
para a averiguação dos fatos.
José Alexandre Monteiro,
revoltado, saiu às ruas embriagado, acompanhado por alguns militares do 7º
Regimento, dando tiros e soltando gritos e dando vivas ao General Antônio Maria
Coêlho, ao Coronel João da Silva Barbosa e as eleições de 3 de janeiro de 1891.
Os militares foram detidos e levaram oito dias de cadeia e Monteiro foi
intimado a deixar a Vila.
Em novo pleito que se realizou no
dia 28 de Maio de 1891, foram eleitos somente candidatos do partido
Republicano, eis que o Partido Nacional
não se apresentou para o pleito, em
virtude de haver interposto recurso contra o ato do Governador Coronel Sampaio,
cuja validade impugnara.
Neste ínterim, em 1º de Abril,
assume o Governo do Estado, José da Silva Rondon e a 6 de Junho, o Coronel João
Nepomuceno de Medeiros Malett.
A Assembléia Estadual
Constituinte, eleita em 28 de Maio, reunida, escolhe seu Presidente Dr. José
Maria Metelo, elaboram a 1ª Constituição Republicana do Estado, trabalhos de redação
e aprovado aqueles a 15 de Agosto de 1891; elege em seguida o Presidente e
Vice do Estado de Mato Grosso: os
primeiros eleitos no regime republicano. Foram eleitos: Presidente Dr. Manoel José Murtinho; Primeiro
Vice-Presidente Coronel Generoso Paes
Leme de Souza Ponce; Segundo Vice-presidente Coronel da Guarda Nacional José da Silva Rondon e Terceiro
Vice-Presidente Pedro Celestino Corrêa
da Costa.
No dia 16 de Agosto, o Dr. Manoel
José Murtinho foi empossado como Presidente do Estado juntamente com os
respectivos Vice-Presidentes.
Os Deputados do Partido Nacional,
inconformados com anulação da eleição de 3 de Janeiro, elaboraram uma
Constituição e elegeram o Capitão de Fragata Henrique Pinheiro Guedes como
Presidente do Estado e o Coronel Honorário Luiz Benedito Pereira Leite, como
Vice e encaminharam para os Deputados Constituintes e ao Dr. Murtinho; criando
a duplicidade de Poderes Constituintes no Estado.
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18.2.5 Levergeria,
Nioaque entra em estado de guerra
Murtinho tenta estabelecer uma
nova ordem pública no Estado, demitindo autoridades corruptas e partidárias dos
Nacionalistas. Em Nioaque, novas autoridades foram nomeadas para chefia dos
cargos públicos. Os demitidos, partidários do Coronel Barbosa e do Partido
Nacional, protestam veemente contra as novas autoridades, criando anarquia na
vila de Levergeria (Nioaque).
Eis uma correspondência[3] da
época do Presidente Interino do Conselho da Intendência Municipal, a qual
retrata com clareza a situação:
“Paço da Camara Municipal da Villa de Levergeria 2
de Dezembro de 1891.
Ile.
Cidadão Presidente do Estado
Encontro-me interinamente na
presidencia da Camara Municipal d’esta Villa como um dos seus membros,
entendendo e de meu dever levar ao vosso conhecimento o lamentavel accontecimento occorrido aqui no dia 30 do
mez passado = João Moraes Ribeiro, Pio José Rufino, Gustavo Adolpho Pereira
Machado, autoridades ultimamente demithidas, acompanhadas do commerciante
Manoel Guilherme Garcia, Alexandre d’Arruda Fialho, o menor João Pedro de
Souza, Philadelpho de Campos Machado e Subdelegado de Campo Grande e o heroe
dos vandalismos há tempos ali praticados, Miguel Angelo Palermo que a pouco
aqui chegou, vindo do Paraguay e Ezequiel Carduz, tambem a pouco vindo do
Paraguay, fugindo por quebra fraudulenta, dizendo-se representante do povo - entenderas que o 2º substituto do Juiz de
Direito, João Rodrigues de Sampaio, não deveria exercer o cargo e reunidos forão, no dia referido a
casa do Major Commandante do 7º Regimento na complecta anarchia de certo tempo
a esta parte plantada pelos homens ultimamente destituidos dos cargos
autoritarios á qual somente para
providencia energicas que os homens sizudos e honestos de Vossa Exª. esperam a
fim de que esta Villa recupere a paz tão desejada e necessaria.
Saude e fraternidade
Eduardo Peixoto Freire Giraldes
Presidente Interino”.
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N.º
1 Subdelegacia de Policia da Villa de Levergeria
Termo
Unido a Comarca de Miranda, 4 de Dezembro de 1891
Ao
Exmo Senr. Dr. Manoel José Murtinho
Dignissimo
Presidente do Estado de Matto-Grosso
Tenho a honra de Communicar a V.
Exª. que havendo aceito a nomeação de 3º suppe. de subdelegado deste Municipio,
assignei a 16 do mez de novembro ultimo respectivo termo de compromisso, porem
deixei de continuar no exercicio do cargo que me compete por estar acephala
todos os cargos policiaes em consequencia das desordens e anarchias promovidas
por João Moraes Ribeiro, Pio Rufino e outros homens appasionistas do governo de
V. Exª. que em ajuntamento com carater sediosa e apoiado por alguns militares
insobordinados e sem dissiplina, tem alterado a ordem publica, desrespeitando,
desobedecendo e abstendo o exercicio das funções as autoridades civis, como
aconteceu no dia 30 do referido mez, ajuntarem para porem a autoridade do 2º
substituto do Juiz de Direito, que felismente não aconteceu devido a prudencia da referida
autoridade, continuando-na entretanto as
ameaças da parte desses homens a ponto de obrigarem-nos a retirar da sede da
Villa, porque não contamos com auxiliar de força alguma, antes somos
hostilisados pelos militares com perigo de vida. Ponderando a V.Exa. este
estado de cousas, cumpre-me pedir energicas providencias no intuito de serem
punidos os verdadeiros culpados e restabelecida a paz e tranquilidade da população.
Saude
e fraternidade
A . 3º Supplente do Subdelegado
Leopoldo Nunes Ferras”.
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18.2.6 A Renúncia
do Presidente Deodoro da Fonseca e deposição do Dr. Murtinho em Cuiabá
Tudo isso se passava em Nioaque,
enquanto isso, na Capital Federal, Rio de Janeiro, o Marechal Deodoro aplica em
duro golpe em 23 de Novembro de 1891, dissolve o Congresso Nacional; a
Constituição Federal Promulgada em 24 de Fevereiro de 1891, a qual confirmando
no dia seguinte da sua promulgação, o Marechal Manoel Deodoro da Fonseca como
Presidente da República dos Estados Unidos do Brasil e o Marechal Floriano
Vieira Peixoto, no cargo de Vice Presidente, não autorizava tal procedimento de
Deodoro. Os protestos foram violentos, principalmente pelos adversários Políticos.
Os trabalhadores da Estrada de Ferro Central do
Brasil entraram em greve, o Contra-Almirante Custodio José Melo,
apoderou-se dos três maiores navios da esquadra e ameaçou bombardear a cidade
do Rio de janeiro. Diante das pressões, Deodoro renuncia e Floriano Peixoto
assume a Presidência do Brasil até o ano de 1894.
No Mato Grosso, os derrotados do
Partido Nacional, civis e militares, aproveitando a situação, voltam à tona,
tramam a deposição do Presidente do Estado. Dr. Manoel José Murtinho o que levaram
a efeito à 1º de Fevereiro de 1892, com o apoio da guarnição militar que aderiu
às instigações do Major Antonio Aníbal Mota, vindo de Corumbá.
Murtinho não dispondo de
elementos para resistir à intimativa de deixar o governo, retira-se para o Rio
de Janeiro, a 16 de Fevereiro de 1892, para buscar junto ao Governo Central o
apoio para controlar as ações subversivas em seu Estado.
Uma junta pelo Coronel Honorário Luiz Benedito
Pereira Leite, Coronel da Guarda Nacional José Marques Fontes e Major do Exército
Antônio Aníbal Mota. Essa junta fez-se substituir dois dias depois pelo Coronel
Luiz Benedito Pereira Leite, que se dizia eleito nas eleições de 3 de Janeiro
de 1891.
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18.2.7
A rebelião do Coronel do 7º Regimento de Cavalaria, Coronel João da Silva
Barbosa
Em Corumbá, elementos
pertencentes a várias unidades militares reuniram-se no quartel e residência do
Comandante Interino do Distrito Militar do Estado, no qual então se achava no comando, o Coronel João da Silva Barbosa,
que também era do 7º Regimento de Cavalaria de Nioaque, para decidir sobre a
atitude que deveriam assumir em relação aos acontecimentos que desenrolavam na administração Estadual.
Dessa reunião realizada no dia 31
de Março de 1892, convocada pelo Coronel Barbosa, comandante interino do 7º
Distrito Militar, presente os oficiais do 21.º de Infantaria, o 2º de
Artilharia de Posição, 19º de Infantaria, alguns do 7º Regimento de Cavalaria e
da Armada Nacional.
O Cidadão Coronel Barbosa disse[4]:
“...o fim da reunião era assentar-se nas medidas que deveriam ser tomadas ante
o procedimento do Governo Federal, querendo impor um governador para este
Estado, quando ele já estava sendo dirigido pelo vice-governador. Disse mais
que o povo dessa cidade tinha resolvido mandar uma comissão ao Forte Coimbra,
para intimar ao Cidadão General Ewbank para não entrar no Estado e fez também
ler a intimação dirigida pela Comissão”.
“O Major Tupy, do 9º Batalhão de Infantaria disse
que o povo estava certo e no direito repelindo o governador, mas que os militares
recebiam ordens do comandante do Distrito, que era uma autoridade nomeada pelo
poder competente”.
O Capitão Ferreira, não achava
correta a maneira de pensar do seu colega, mas que naquele momento, havia
apenas dois caminhos: o primeiro era mandar dizer ao General Ewbank, que
poderia tomar posse no cargo do 7º Distrito Militar e de que tudo não passou de
uma brincadeira ou então resistir a todo transe, porque não poderia esperar do
Governo Federal se não medidas enérgicas. Entre as objeções se resistência,
apresentou que a única saída era declarar livre o Estado de Mato Grosso e
Oficiar as Repúblicas do Prata, porque
aquelas para manter a neutralidade, não consentiram passar forças pelos rios que banham as
mesmas.
Foi Objetado que na falta de recursos,
podia-se obtê-los hipotecando o Estado à
Inglaterra.
O Tenente Wanderley do Arsenal da
Marinha de Ladário e o Comandante da Companhia de aprendizes Menores, não
envolveriam nas questões políticas e que
recebiam e cumpriam ordem do Governo Federal.
Dissolveu a reunião sem acordo
algum.
Os oficiais do 21.º Batalhão de
infantaria da Guarnição do Estado, percebendo que o Coronel Barbosa pretendia
continuar seus criminosos e antipatrióticos crimes e que a separação do Estado
seria prejudicial para todos, redigiram um manifesto de protesto dirigindo ao
Coronel Barbosa onde expressaram: “... vem declarar-vos que não são solidários
com a intimação feita ao Cidadão General Luiz Henrique d’Oliveira Ewbank
comandante nomeado pelo Governo Federal para este Distrito, por isto que tal
intimação não foram ouvidos e o fato de não comparecimento dos mesmos na
reunião que disso tratou não importa adesão, tratando-se de um assunto tão
grave. Não concordam também na declaração de Estado Livre de Mato Grosso ou República
Transatlântica de Mato Grosso, porque
como filhos dele, sabem que o Estado não dispõe de recursos, finalmente não aderem a movimento algum que tenha fim repelir atos
e ordem do Governo Federal”.
Em Nioaque
permaneceram muitos militares partidários do Coronel Barbosa e que igualmente
sentiam-se derrotados e prepararam um golpe de Estado, entre outros: “José
Maria Ferreira, Tenente Antonio
Perdigão, Tenente Antero, Alferes José Joaquim de Azevedo Saldanha, Capitão
Hermenegildo, Major Francisco David de Medeiros”.
De Corumbá, o Coronel
Barbosa distribuía ordens para todo o Estado.
Em Nioaque, uma junta
provisória destituía do poder as autoridades, o Major Francisco David de
Medeiros, assume a Presidência do Conselho da Intendência Municipal.
O povo protesta. O 7º
Regimento de Cavalaria persegue os revoltosos.
Uma guerra sem
quartel se alastra pelo Município: Vila de Levergeria (Nioaque), Distritos de
Campo Grande, Bela Vista, Vacaria, Ponta Porã; pelo Estado: Santana do
Parnaíba, Santo Antonio do Rio Abaixo, São Luiz de Cáceres, Poconé, Cuiabá; era
a contra revolução que se armava.
O General Ewbank,
quando impedido de desembarcar no Estado
e navegar além do Forte Coimbra, no dia 21 de Março de 1892, a bordo do navio,
Vapor Diamantino, redige a ordem do dia e encaminha ao Coronel Barbosa.
“... deixo de seguir para Corumbá, assumo o
exercício do cargo que me foi confiado a
bordo deste navio por me ter sido vedado
à passagem pela guarnição do Forte Coimbra”.
E em outro trecho
continua:
“... desgraçadamente para o Brasil e especialmente
para nós militares, acabo de convencer-me que não soubeste manter os créditos
da classe a que pertencemos à altura que ela tem direito se exigirmos. Ao
Senhor Coronel João da Silva Barbosa, chefe das tropas revoltadas e que tão
feia mancha acaba de lançar sobre a farda que deveria manter impoluta, a este
oficial, principal fator de anarquia, rebeldia dessa guarnição;... e bem assim os seus principais auxiliares, Capitão
de Cavalaria João Maria Ferreira e o 2º Tenente João Teodorico, ordeno que
impreterivelmente sigam na primeira oportunidade para a Capital Federal”..
Nesta data retiro-me
profundamente desiludido.
Ao Senhor Marechal,
Vice-presidente da República comunicarei logo que possa tais acontecimentos,
pedindo providências enérgicas o que por sua vez ponha a termo a lastimável
anarquia deste Estado.
Luiz Henrique
d’Oliveira Ewbank
General de Brigada”.
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18.2.8
A Contra Revolução, Jango pelo Sul e Ponce pelo Norte de Mato Grosso
A demora das providências
que cabiam ao Governo Federal tomar criou no espírito dos responsáveis pelo
destino do Estado à convicção que deveriam reagir independentemente do Poder
Federal.
No Norte do Estado,
Cuiabá, Cáceres e adjacências; no Sul, Nioaque e os seus Distritos, começara a
reação, através de arregimentação de civis e militares.
Pelo Norte, Generoso
Ponce, organizava e chefiava as Forças Patrióticas e pelo Sul, João Ferreira
Mascarenhas, Coronel Jango Mascarenhas, organizava e chefiava as Forças
Patrióticas.
João Ferreira
Mascarenhas e Vicente Anastacio, este comerciante e fazendeiro, haviam assumido
respectivamente a Presidência e a Vice-Presidência do Conselho da Intendência
Municipal, dirigiram-se para o Paraguai, onde passaram a seguinte mensagem
telegráfica[5]:
“Ilustre Brigadeiro
General Floriano Peixoto Presidente dos Estados Unidos do Brasil –Rio de
Janeiro
Comunico Vossa
Excelência que o Estado de Mato Grosso convulsionado movimento sedicioso 2º
Batalhão Corumbá para deporem Governador
Murtinho e outras autoridades constituídas secundando facções políticas Antônio
Maria Coêlho 7º Regimento fez coro sedicioso reina anarquia povo indignado
pronto contra revolução sustentando direito autoridades constituídas”.
No dia 2 de Maio, na
Ordem do Dia, o Major Tupy Ferreira Caldas, comandante do 19.º Batalhão de
Infantaria, estacionado em Cáceres, condenando o impedimento levantado contra o
General Ewbank, segue com sua unidade para Cuiabá, cumprindo determinações do
Vice-Presidente Floriano Peixoto.
Em Nioaque, o Coronel Mascarenhas, Oficial da Guarda
Nacional e Vicente Anastacio começam a preparar o levante. Na Segunda quinzena
de Abril de 1892, chegou à notícia de que o 3º Vice-Presidente do Estado eleito
e deposto a 1º de Fevereiro, junto com o Dr. Murtinho, Dr. Corrêa da Costa, com
o objetivo de conquistar o apoio da população, visitaria Nioaque.
O Coronel Barbosa
comunica-se com o Major David de Medeiros para requisitar praças do 7º
Regimento de Cavalaria e avisar o Comandante Major Nicolau Consul que de um
momento para o outro lhe pediria auxilio.
Nessa ocasião chegou
de Cuiabá o Sargento Americano e colocou Mascarenhas a par de todos os
movimentos do Norte e disse: “que o
Coronel Ponce à frente do movimento do Norte, que confiava em Nioaque, ao qual caberia
à honra e glória de iniciar o movimento e que afastaria os intrusos do poder”.
“18 de Abril, caia
sobre Nioaque um forte temporal! Mascarenhas em reunião com os seus amigos na
sua residência, situada à rua General Diogo, prescreve a situação[6]:
“Tenho compreendido que chegou o momento de
demonstrar a Nação inteira os elementos valiosos com que contam o torrão deste Estado, a nossa índole, a nossa
vontade e o nosso amor à Pátria. É certamente um grande sacrifício, mas devemos
nos juntar para que os nossos inimigos da ordem e da tranqüilidade pública
conheçam o próprio dever e respeitam a nossa soberania popular ultrajada por
poucos ambiciosos, sustentados por um coronel insubordinado que diariamente
mancham a farda que deveriam manter impoluta”.
“Qualquer sacrifício
é pequeno diante do nosso dever e tenhamos presente que o nosso comportamento
nesta justa causa será uma prova solene que daremos ao Ilustre Governador deste
Estado e a Sua Excelência Vice-Presidente da República do nosso devotamento, que
sem dúvida frutificará em nosso favor aquele afeto que deve procriar naquele
amor do bem comum e a nossa felicidade e
segurança, será somente objetivo de seus cuidados”.
João Ferreira
Mascarenhas
Comandante Supremo
das Forças Patrióticas do Sul
Coronel Generoso Paes
Leme de Souza Ponce,
Chefe do Norte
Os Nioaquenses ficam
divididos entre o Major David de Medeiros, que possuía muitos amigos e o
Coronel João Ferreira Mascarenhas, que por sua vez também tinha força e poder
entre os amigos que detinha.
Mascarenhas e
Athanasio de Almeida Mello traçam alguns planos: conseguir voluntários,
alimentos, cavalos, armas. Para isso organizam uma comissão para o preparo das
Tropas: João Ferreira de Mascarenhas, Athanazio de Almeida Mello, Antonio
Vicente Azambuja, Joaquim d’Oliveira Cezar, Eduardo Peixoto Freire Giraldes.
Organizam três Regimentos de Cavalaria, com voluntários da Vila de
Nioaque, Distrito de Campo Grande, Ponta Porã e Bela Vista. Escolheram os
seguintes cidadãos para comandar:
¨
1º Regimento - Tenente Coronel João Rodrigues Sampaio
¨ 2º Regimento - Tenente Coronel João Luiz da Fonseca e Moraes;
¨ 3º Regimento - Tenente Coronel Athanazio de Almeida Mello.
Enquanto isso na Vila
Nioaque, o Major David de Medeiros tenta sublevar o povo contra Mascarenhas. Já
era tarde e foi inútil a tentativa.
É a contra revolução,
tomando o Destacamento de Bela Vista no dia 6 de Maio e o de Ponta Porã no dia
12 e sitiado a Vila de Nioaque no dia 21, tudo do mês de Maio.
Todo o desenrolar da
contra revolução no Sul do Estado pode ser acompanhado pela íntegra dos
documentos[7]
seguintes; do ano de 1892:
Directorio Provisorio
do Partido Popular da Villa de Levergeria, no Destacamento de Bella Vista, 8 de
Junho de 1892.
Exm.º Snr. Dr. Manoel José Murtinho
Digmº Presidente deste Estado
Tenho a honra de
communicar-vos com suma satisfação que depois de acordo entre noz e nossos
amigos, deliberamos reagir contra os revoltosos que infelelismente teem implantado n’este Estado a mais completa
e abusiva anarchia e para isso convocado o povo que de muita boa vontade se
prestou a auxiliar-nos, reunimos 723 homens que sob o commando em chefe do
nosso prestimoso amigo João Mascarenhas secundado pelo também nossos amigos
João Baes de Sampaio, Augusto Nunes Ferras, Athanazio d’Ameida Mello,
levemos a cabe com o melhor exito nosso intento, sendo tomado o Destacamento de
Bella Vista, no dia 21 tudo do dito mez; depois de citiado Nioac, os militares
aderirão á nossa cauza, notando que sua adezão, segundo cremos, foi cauzado
pelo temor que lhes invadiu o numero de povo que os cercava, visto como até aquella dacta, cumpriram todas
as ordens emanadas pelo Coronel Barboza. Todo o Povo se portou com moralidade e
energia que deve ter homens honestos e que defendem uma cauza justa, havendo
entre elles alguns que se destingem pelos esforços que fizerão e serviços que
prestarão de cujos tereis conhecimento mais tarde.Temos mais a notar que o povo
que reunimos foi pertencentes aos districtos de Nioac, Bella Vista e Campo
Grande, faltando todo o povo de Vacaria, por haver o Capitão João Teixeira
Muzzi empregado toda a sua influencia afim de desvial-los de nos accompanhar e
que infelismente conseguiu, por cujo
motivos o considera como nosso adversario, como realmente é.
O Major Francisco
David de Medeiros, munido por um official assignado pelo Major Consul, em que,
segundo o mmo. David declara lhe ordenava que reunisse homens e cavallos para
com os Militares de Nioac baterem o povo, ao ponto de reunirem 20 homens,
incluzive tres filhos e quatro camaradas e com estes tentou retomar o
Destacamento de Bella Vista, occazião em que
soube do ocorrido em Nioac, pelo Capitão José Maria Ferreira e
Philadelpho de Campos Machado, que seguiram para o Paraguay emigrados em vista
do que os acompanhou. Estes levarão em sua companhia um criminozo de mortes de
nome Satiro, que se achava prezo em Nioac no xadrez do 7º Regimento de
Cavalaria, do qual obtiverão a soltura e com este malvado de lá mesmo ameação a
existencia d’alguns de nóz, porem estamos prevenidos.
Miranda também foi
tomada pelos nossos amigos, Capitão Francisco Alves, José Alves Ribeiro e
outros.
Bella Vista e Ponta
Poran, achão-se guarnecidos por paisanos até ordem de Vossa Excelencia. Em
vista das circustancias que occorreram, tomaremos as nossas medidas que
julgamos convenientes e necessarias.
Saude e fraternidade
Os membros do
Directorio presentes:
João Rodrigues de
Sampaio,
Eduardo Peixoto
Freire Giraldes
Augusto Nunes
Ferraz”.
><><><><><><><
18.2.9
Dissolvição das tropas contra-revolucionárias
O próximo
documento[8]
de Mascarenhas trata do fim deste movimento, dissolvição das tropas e o custo
total das operações no Sul, vinte contos de réis.
“Miranda 1º de Julho
de 1892
Ilustre Cidadão Coronel Generoso Paes Leme de Souza Ponce – 1º
Vice-Governador do Estado e Commando das Forças Patrioticas de Cuyabá.
Cabe-me a honra
juntar-vos um relatorio breve dos movimentos populares d’esta comarca e as
copias das notas officiaes cambiadas até
a dacta com as differentes autoridades para os fins que antecederdes
mais adequados e convenientes, approveito a opportunidade, para manifestar-vos
que hoje dissolvi as forças sob meu
commando a convite do Coronel Horacio de Almeida, por declarar-me por nota n.
15, que as forças federaes acahão-se em numero suficientes para a manutenção da
ordem n’este Estado. O gasto por mim autorizado, tanto pela manutenção das
forças patrioticas, como para a sua conservação podem montar a quantia de
20:000$000(vinte contos de reis) aproximadamente, caso deve-se atender os
reclamos dos varios proprietarios prejudicados pelo extravio ou perda de alguns
cavalos.
Saude e Fraternidade
João Ferreira
Mascarenhas”.
Ao mesmo tempo em que
as Forças patrióticas lutavam no Sul conquistando os Distritos e as Vilas de
Nioaque e Miranda, em Cuiabá, o Coronel Generoso Ponce, a 7 de Maio de 1892, à
frente de mais de 3.000 homens,
estabeleceram cerco a Cuiabá e depois de sangrentos combates nas ruas,
assume o Governo, até que o Presidente deposto, Dr. Manoel José Murtinho,
que se encontrava no Rio de Janeiro, se
apresentasse para reassumir o seu cargo e que verificou a 20 de Julho.
Restabelecida,
estava, portanto, a normalidade política e administrativa do Estado e
consolidado definitivamente o regime republicano e a nova Constituição.
O Presidente
Murtinho, embora tenha tido pesado ônus na sua gestão governamental, marcado
por conflitos políticos terminou o seu mandato e pôde transmitir ao seu
sucessor o Governo do Estado numa condição de relativa tranqüilidade e
organização administrativa.
O mentor intelectual
da tamanha confusão, o Coronel João da Silva Barbosa e que o escritor
Nioaquense, Hélio Serejo, cognominou de: “O Homem Mau de Nioaque”, derrotado,
foi escoltado e enviado para o Rio de Janeiro para apresentar-se ao Ministro da
Guerra, para as cabíveis punições Militares.
Os últimos desfechos
em Nioaque e Sul do Estado podem, também
ser sintetizados nas correspondências seguintes:
De João Mascarenhas
encaminhada ao General Ewbank[9]
“Depois que o 7º
Regimento fez adesão à causa do Povo e aceitou a imposição se mandar o Capitão
José Maria Ferreira para a Capital Federal para apresentar-se ao Ministro da
Guerra, julguei terminada a necessidade
de reter por mais tempo todas as forças arregimentadas, debandei-as para tratarem dos respectivos trabalhos
abandonados somente pelo patriotismo de cada um, porém como é indispensável
esperar os últimos acontecimentos de uma ordem de V. Exª. que nos assegure a
paz e tranqüilidade no nosso Estado fico de prontidão com uma força de 150
praças compreendidas as que foram em
perseguição do caudilho Francisco David de Medeiros, que se diz refugiado na
vizinha República do Paraguai com o intuito de bater o nosso destacamento
aleivosamente e praticar outros absurdos
de que é capaz.
O Capitão Secretário
cidadão Miguel A. Palermo, que é portador deste relatório, dará as explicações
que lhe forem exigidas por V. Exª.
Saúde e fraternidade
João Ferreira
Mascarenhas
Comandante e Chefe”.
><><><><><><><
18.2.10 Retorno à normalidade
O ofício[10]
do delegado de polícia de Levergeria, Nioaque, Augusto Nunes Ferraz testifica a
volta à normalidade e a restituição aos cargos das autoridades nomeadas pelo
Presidente Murtinho antes da sua deposição do governo.
“Delegacia de Policia do
Termo de Levergeria, 3 de Setembro de
1892.
Ao Ilustre Cidadão Tenente José Magno da Silva Pereira
Digmº Secretario do Governo do
Estado
Tenho a satisfação de
acusar a recepção de vosso officio n.º 320 de 10 de Junho proximo findo no qual
acompanhou o exemplar da Gazetta Official n.º274 de 19 de Maio que publicou o
Decreto e Acto n.º 1 as quaes declaram nullas todos os actos ao Governo sedioso
que iniciados em Corumbá a 22 de Janeiro
e terminou a 7 do dito mez de Maio (1892), dia em que se estabeleceu a
legalidade e justiça, prevaleço-me da opportunidade de apresentar-vos os meus
protestos de alta consideração e subida estima.
Saude e fraternidade
Augusto Nunes
Ferraz”.
<><><><><><><>
João Ferreira
Mascarenha, reclama ao governo do Estado, Dr. Murtinho, o não recebimento do
dinheiro gasto com a operação militar da contra-revolução no sul do mato grosso
sob o seu comando, é o teor do próximo documento[11].
“Nioac
6 de Junho de 1893
Excelentissimo Senhor
Tenho dirigido em data de 1º de
Julho do anno p.p. em officio ao
Vice-Governador do Estado, cuja copia inclusa verá logo depois de restabelecido o Governo da
Legalidade, versando sobre os gastos de
manutenção da Força Patriotica no Sul
deste Estado e não obtido resposta alguma até a prezente é momento
opportuno rogar V. Exª tomar as providencias necessarias para que “em caso negativo” possa recorrer ao
Governador Federal.
Saude
e fraternidade
Ao
Exmº Sr. Dr. Prezidente do Estado
João F. Mascarenhas”.
><><><><><><><
A nomeação do novo delegado de
polícia, Manoel Jorge das Neves, para Nioaque, indicação do Presidente do
Estado, Manoel José Murtinho, é o assunto do próximo ofício[12].
N.º
1 – Delegacia de Policia do Municipio de Nioac 9 de Outubro de 1894
Ao
Exmº. Senr. Doutor Manoel José Murtinho
Dignissimo
Prezidente do Estado de Matto-Grosso.
Altamente honrado por V.Exª. para
exercer o cargo de suplente do Delegado de Policia deste Municipio e não
podendo deixar de responder ao chamado que me fez para de alguma maneira, com
quanto humildemente secundar os esforços do digno magistrado que tem feito
guiar sua administração sobre eichos de brilhante na moralidade e na justiça,
tenho penetrado neste dia, o compromisso do estylo assumido a jurisdição
passada pelo cidadão Delegado de policia em officio de hoje.
Assim ao communicado a V.Exª. e
agradecendo-lhe a distinção de que me fez
assegurar-vos que não pouparei esforços para corresponder
devidamente a confiança que em mim se
fez.
Saude
e fraternidade
Manoel Jorge das Neves”.
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Voltando a reinar a normalidade
política e administrativa no Município de Nioaque, sendo vencedores o Partido
Republicano, todos os eleitores preparavam-se para eleger o primeiro
Intendente, Vice-Intendentes e Vereadores
do Município de Nioaque para o quadriênio de 1893 a 1896.
No dia 27 de Outubro de
1892, procedeu a eleição, sendo eleito Intendente o Cidadão João Luiz da
Fonseca e Moraes, ex-comandante de um dos Regimentos das Forças Patrióticas e
Vice-Intendentes os cidadãos: Joaquim Augusto de Oliveira Cezar e Olimpio
Monteiro de Lima.
><><><><><><><
18.3
Episódio Jango Mascarenhas & Muzzi
18.3.1 Capitão
Caetano Teixeira Muzzi
Na fazenda Santa Rosa[13],
no Porto do Rio Brilhante, foi organizada uma guarda avançada da fronteira, sob
o comando do Capitão João Caetano
Teixeira Muzzi, veterano da Guerra de 1870 e uma dos heróis da Retirada da
Laguna, tendo tomado parte ativa nos combates travados com os paraguaios às
margens do Apa. No combate Nhandê-pá, foi ferido, o que lhe permitiu receber a
condecoração de Cavalheiro da Ordem da Rosa.
Muzzi inteligente e trabalhador
começou a conduzir mercadorias da Vila de Concepción (Conceição), no Paraguai e
negociava com os fazendeiros, suprindo-os de sal e demais artigos que
necessitavam. A sua caravana ultrapassava o número de trinta carretas, que eram
os únicos veículos existentes para aquele transporte.
Assim, com o seu comércio
estabelecido em Santa Rosa, Muzzi logo se tornou abastado, corajoso e
insinuante como era; angariou grande prestígio naquela zona, tornando-se o
chefe do Partido autonomista e partidário da separação do Sul de Mato
Grosso, pelo que começou a ser
combatido. Começaram as divergências entre ele e Mascarenhas, agravada pela
ação dos Murtinhos que, de Cuiabá, o insuflavam para uma resistência de caráter
político.
Colocado os dois caudilhos em
posição antagônica, a situação agravou-se e irrompeu
a luta. Depois de alguns encontros entre as suas forças, que já estavam em
campo, Mascarenhas sitiou Santa Rosa que foi arrasada e incendiada pela ação do
bombardeio de um canhão levado do velho Forte de Dourados, que ali estava
abandonado.
O Capitão Muzzi, embora vencido,
persistiu na luta desigual e, de acordo com sua têmpora, queria sacrificar a
vida sem recuar diante do seu valente inimigo.
Somente e empenho dos seus
inimigos, pode dissuadi-lo daquela resistência inútil na qual estava empenhado
e o acompanharam até o outro lado da fronteira, no Paraguai, onde ele se
homiziou, abandonando a política definitivamente e não mais
regressando ao Brasil e somente depois de morto, foi trazido e enterrado em
Bela Vista, onde ainda hoje encontramos o mausoléu homenagem de sua família.
CAP MATTOS
BELA VISTA, MATO GROSSO DO SUL, BRASIL).
"João Caetano Teixeira Muzzi - "Cap Muzzi" (1846-1908): é o patriarca da família "Muzzi"... Integrou as forças do Cel Camisão na Guerra do Paraguai... Pertenceu ao 17º Batalhão de Voluntários da Pátria, tendo inclusive, combatido na "Batalha de Nhandipá" (11 de Maio de 1867), durante a Retirada da Laguna... Contraiu matrimônio em primeira núpcias com Dona Dolores Arguelho, com quem teve um filho e, em segunda núpcias com Philomena Chaves, com quem teve três fi lhos... Foi o primeiro líder divisionista do antigo Estado do Mato Grosso, tendo inclusive, fundado um partido (o Autonomista)... Liderou a revolução de 1896, que leva o seu nome... Derrotado em suas terras por Jango Mascarenhas (segundo divisionista), retirou-se para o Paraguai, onde veio a falecer em 1908, na cidade de Concepcion... Seus restos mortais foram transladados para o cemitério de Bela Vista-MS, onde se encontram". (créditos
http://retiradalaguna.blogspot.com.br/. 1999CAP MATTOS
BELA VISTA, MATO GROSSO DO SUL, BRASIL).
><><><><><><><
18.3.2
João Ferreira Mascarenhas.
O destino final do maior líder
político que Nioaque possuiu em toda sua História e que sua vez, foi também o
líder político mais importante que o Sul de Mato grosso possuiu até o final do
século XIX, teve uma morte típica de um homem, que não fez outra coisa na vida,
senão lutar. Lutar em defesa do Sul! Lutar pelo desenvolvimento social,
político e econômico de Nioaque! Lutar para restabelecer a paz e a ordem
política na região Sul do Estado e deste modo, em cooperação com o Norte de
Mato Grosso! Lutar pela maturidade dos ideais Republicanos no Estado! Lutar
para vencer!
Lutar para não morrer! E por fim,
lutar para não mais lutar!
O Coronel João Ferreira
Mascarenhas, é um pouco das Memórias de Nioaque, um pouco da
História do Mato Grosso do Sul. É um pouco das Memórias que deve estar
presente na mente de todos os filhos desta terra.
Em
15 de Agosto de 1895, assume o Governo do Estado de Mato Grosso, o sucessor do
Dr. Manoel José Murtinho, o Engenheiro Antônio Corrêa da Costa e que pediu
exoneração do cargo no dia 25 de Janeiro de 1898, um pouco antes do término do
mandato. Depois de uma gestão equilibrada, organizou a exploração da erva-mate na região Sul do
Estado, regulamentou a instrução pública do ensino fundamental, reorganizou a
imprensa oficial, modificou o processo de medição e demarcação das
propriedades.
Sua renúncia foi motivada por um
incidente conhecido como o episódio “Siga o Bonde”. 25 de Janeiro de 1898
chegava em Cuiabá o Senador Ponce, líder
político e de grande prestígio no Estado. Recebido festivamente no porto
fluvial, em seguida rumou para o centro
da Cidade, onde habitualmente buscava o bonde para transportá-lo. Quando
acomodados, por ordem do chefe de polícia. O Senador Ponce, indignado e
imperativo ordena: “Siga o Bonde”. Tal transtorno causou a renúncia do
Presidente do Estado e a demissão do Chefe de Polícia, por sentirem com autoridade
desrespeitada.
Assumiu o cargo, o Coronel
Antônio Cezário de Figueiredo, 2º Vice-Presidente. As circunstâncias criadas
com a renúncia de Corrêa da Costa motivaram na escolha do seu sucessor uma
profunda agitação política.
Definida a escolha do candidato
para o quadriênio seguinte, divide-se o partido dominante em face das
indicações dos candidatos: Generoso Ponce apresentou o Engenheiro João Felix
Peixoto de Azevedo e os irmãos Murtinho (Manoel e Joaquim) indicaram o Senador
José Maria Metelo.
Nas eleições, Joaquim Felix,
candidato do Senador Ponce, saiu vitorioso.
Os irmãos Murtinhos, não se
convenceram da derrota e juntamente com os seus correligionários, começam a
pressionar a Assembléia Legislativa para anular as eleições. Organizam grupos armados. A neutralidade do Governo
Central e das forças policiais da Capital colocam o Coronel Antônio Paes de
Barros, usineiro da região, no comando de um grupo armado, invadindo a Capital.
A Assembléia Legislativa acabou aceitando a imposição que lhe fizeram anular a
eleição.
O Senador Ponce chefe dos
Republicanos, retira-se e abstém-se da nova eleição.
Sem concorrente, o Capitão de Mar
da Marinha Nacional, Antônio Pedro Alves de Barros, foi empossado no dia 15 de
Agosto de 1899.
Em seguida, 31 de Agosto, em plena
via pública da Capital, deu-se o atentado a vida do Senador Ponce, pelo
agrimensor Ramão Jackwisk, de nacionalidade polonês e naturalizado
brasileiro. Os amigos de Ponce, revoltados, lincham o agrimensor. Essa violenta
reação fez eclodir novamente no Estado uma vida política conturbada. Da Capital
espalhou para o interior.
Em Paranaíba, o
Argentino Dionísio Benites, conflitava com os domínios políticos dos Garcias
que imperavam no Município há muitos anos.
Na região Sul, João
Ferreira Mascarenhas, caudilho da região de Nioaque e Miranda, organizava
forças solidário com Ponce, cujo prestígio político se procurava demolir desde
o golpe desfechado contra a Assembléia Legislativa e pela perseguição dos seus
correligionários de maior projeção.
Por outro lado, João
Mascarenhas vinha sendo aos poucos desprestigiado pelos outros caudilhos
migrados do Rio Grande do Sul para a fronteira com o Paraguai, Bela Vista e
Ponta Porã, entre outros: Felipe de Brum, Bento Xavier, Firmino Rodrigues,
partidários dos Murtinhos. Era uma revanche política.
Na Capital, o Capitão
Pedro Alves de Barros, face aos conflitos, entrega o comando das forças ao
Coronel Antônio Paes de Barros[14],
famoso comandante da Legião Campos Sales, afim de manter o prestígio da
autoridade constituída e que dele a História só possui registros de violência.
Vamos ao desfecho do
movimento encabeçado por Mascarenhas no Sul do Estado, na Região de Nioaque.
“Em 1901, irrompe um
movimento armado[15],
chefiado no Sul pelo Coronel João Ferreira Mascarenhas, que vindo de
Corrientes, Argentina, atravessa o
Paraguai, entrando no Estado, em Porto Murtinho. Mascarenhas era o 2º
Vice-Presidente do Estado, correligionário do Generoso Ponce e se sublevara
contra o Governo do Coronel Pedro Alves de Barros, imposto pela política de
Antonio Paes de Barros com a qual
estava em desacordo, em virtude das
violências praticadas contra os seus partidários e pretendia depô-lo com o
auxilio de outros chefes do Norte”.
O primeiro choque das
forças deu-se em Ponta Porã no lugar denominado de Sepí-Cuê, onde as mesmas
foram batidas e derrotadas por
patriotas, comandados pelo Coronel Felipe de Brum, Matias Ferreira Dias e
Firmiano Rodrigues.
Após essa derrota,
Mascarenhas concentrou suas forças em
Nioaque, às margens do rio Taquarussu, a fim de se refazer e prosseguir a
luta. As tropas de Felipe de Brum, no
entanto, seguiram-lhe com as vindas de
Bela Vista sob o comando de Bento Xavier. Eram todos, Felipe de Brum, Bento
Xavier, Matias e Firmiano Rodrigues, gaúchos valentes e experimentados nas
lutas armadas no seu Estado Natal.
A tropa viajava
somente à noite, acampada para as carneadas durante o dia e tendo o cuidado de
amarrar as esporas e os outros metais dos arreios que naquele tempo eram usados
pelos cavaleiros a fim de evitar qualquer ruído que os pudessem denunciar.
Nessa marcha
silenciosa e precavida, chegou à coluna a Fazenda Esperança e acampou na
cabeceira do rio Taquarussu, próximo ao
local onde estava o inimigo, que nada havia percebido.
Localizada a
invernada, onde se achava a cavalhada de Mascarenhas, foi mandado o goiano
Sebastião Lopes Zed com uma escolta, com a qual cortando o arame, aprisionou a
mesma com a guarda que vigiava, trazendo-as a seu comando.
No dia seguinte, 23
de outubro, pela manhã, as forças comandadas por Felipe de Brum e Bento Xavier,
atacaram as tropas inimigas pela frente, enquanto que três esquadrões de
lanceiros acometiam de surpresa pela retaguarda.
Não podendo resistir
ao impacto daquele duplo embate, a tropa de Mascarenhas foi totalmente
esmagada, sendo ele morto, às margens do Taquarussu, já lutando sozinho e
depois de haver descarregado a última bala de seu revólver.
Terminado o movimento
e consumado a queda de Generoso Ponce, tornou-se firme por algum tempo a
posição política de Totó Paes, prestigiada pela influência dos Murtinhos.
Havia desaparecido do
cenário político do Sul de Mato Grosso o seu poderoso adversário – JANGO
MASCARENHAS.
Com o fim de garantir
a situação da fronteira, foi organizado em Ponta Porã, com sede em tratarem,
uma brigada sob o comando do Coronel Felipe de Brum, na qual passaram a
fazer parte em postos de oficiais Matias
Ferreira Dias, Coronel; Firmiano Rodrigues, Major; João Maria da Silva,
Capitão; Jerônimo Belmonte e Alfredo Belmonte, Tenente, bem como outros da Coluna.
Felipe de Brum foi
eleito Deputado Estadual pelo Sul.
“O Coronel João Ferreira Mascarenhas, morreu combatendo, embora numa luta inglória,
que outro nome não merece a luta entre irmãos - morreu na fazenda Esperança, às
margens do rio Taquarussu, Município de Nioaque, no dia 23 de Outubro de 1901”.
(Estevão de Mendonça).
Finaliza[16]-se
assim o Século XIX...
><><><><><><><
[1]
Gravura extraída do Livro: Nioaque, Evolução Política e Revolução de Mato
Grosso, p. 48, com os dizeres: João Ferreira Mascarenhas (foto introduzida pelo
autor e recuperada por Elizabeth Baish).
[2]
Arquivo Público de Mato Grosso, Centro
Político Administrativo, Cuiabá – MT, 1984.
[3]
Arquivo Público de Mato Grosso, 1984.
[4]
Da Ata extraída do Livro “Generoso Ponce Um chefe, pag. 91, 92, 93 de autoria
de Generoso Ponce Filho – citado por Demosthenes Martins no Livro História de
Mato Grosso”.
[5]
Referência extraídas do Livro – “O Homem Mau de Nioaque” de autoria do escritor
Helio Serejo
[6] Op. Cit. Ref. 2
[7]
Cópia cedida pelo Arquivo Público de Mato Grosso, Cuiabá, 1985.
[8]
Arquivo Público de Mato Grosso, Cuiabá, 1985.
[9]
De Hélio Serejo, o Homem Mau de Nioaque, s/d.
[10]
Ofício encaminhado para o Governo de
Cuiabá, cópia cedida pelo Arquivo Público de Mato Grosso, 1984.
[11]
Cópia cedida pelo Arquivo Público de Mato Grosso, Cuiabá, 1984.
[12]
Cópia cedida pelo Arquivo Público de Mato Grosso, Cuiabá, 1985.
[13]
Extraído do Livro Resenha Histórica de Mato Grosso- Fronteira com o Paraguai,
Livraria Rui Barbosa, de autoria de Pedro Angelo da Rosa, 1962.
[14]
Conhecido como Totó Paes.
[15] Op. Cit. Ref. 3.
[16]
Outras Fontes que subsidiaram este Capítulo:
Entrevista com moradores antigos;
Consulta ao Arquivo Público de Mato Grosso – Cuiabá-
MT.
Correspondências Oficiais e outras documentações –
cópias concedidas pelo Arquivo Público de Mato Grosso.
História de Mato Grosso – Demosthenes Martins;
O Homem Mau de Nioaque – Hélio Serejo;
Constituição do Brasil e Mato grosso – 1891;
Resenhas Documentárias da Prefeitura Municipal e
Câmara de Vereadores de Nioaque;
História do Brasil – Enciclopédia Globo – Porto Alegre
– 1967.
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